sábado, 27 de setembro de 2008
Selvageria
Categoria: Contos
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Anoitece... Joaquim ainda não voltou para casa, a sua mulher não está preocupada, afinal era o dia primeiro de maio e ele devia estar com os amigos a festeja o feriado. A tarde ele fora visto no campo assistindo a uma partida de futebol. Apesar dele já ter bebido um pouco além da conta, também não era novidade para ninguém, afinal ele adorava jogar baralho e beber. Mas naquele dia as coisas iriam sair da rotina do Joaquim, mas ele ignorava tal fato.
A escuridão da noite tragara o Joaquim, pois este não voltara para casa. O dia seguinte chegou e nada de notícias do Joaquim. A mulher preocupada sai em busca do marido, mas ninguém sabe dizer o que acontecera com ele, o que fora feito do mesmo.
Os dias vão se passando e o desespero daquela família vai se tornando mais angustiante. Todos se puseram a procurar por ele, mas tem sido inútil. De nada sabiam, só que ele havia sido visto pela última vez no final de tarde daquele feriado no campo de futebol. A polícia já não fazia mais tanto empenho nas buscas, afinal era um simples, sem eira nem beira, como se costumava falar. Talvez quem sabe se fosse algum fazendeiro da região já teriam uma solução para o caso.
No décimo quarto dia do desaparecimento do Joaquim, quando não havia esperanças para mais nada, chega a notícia de que um corpo havia sido descoberto no canavial. Na realidade, não era bem um corpo, e sim o que havia sobrado de um.
Na noite anterior à manhã da descoberta, a polícia havia conseguido chegar até o criminoso. Muitos pensando que a polícia estava fazendo corpo mole, na verdade ela estava trabalhando em silêncio para não afugentar o possível assassino, pois a essa altura não havia mais dúvidas quanto ao que havia acontecido com o pobre do Joaquim.
Ao pegar o suposto assassino,já que havia sido ele quem estava no campo de futebol com o Joaquim, a polícia o fez confessar, e este revelara onde estava o corpo do Joaquim, num canavial próximo da cidade. Após a confissão, ele fora mantido preso na delegacia. O assassino, um jovem de dezenove anos, que atendia pelo nome de Miguel, dissera onde estava o corpo, só não revelara ainda o motivo do crime. Mas a polícia cuidaria disto quando retornasse do local do crime.
Quando a população tomara conhecimento do fato dirigiram-se a delegacia e se revoltaram diante da frieza do assassino.
O Joaquim já não existia, e deixara uma mulher com quatro filhos pequenos. Aos poucos vai se formando uma pequena multidão que caminha em direção ao canavial.
Uns vão, outros vêm, tapam o nariz, cochicham entre si, uns xingam outros se olham como se procurassem ler um o pensamento do outro. De conversa em conversa, dizendo-se revoltados e enojados diante daquele crime infame, vão se formando grupos de revoltados e como se estivessem numa velha cidade do antigo oeste americano, centenas de animais se encaminham para a delegacia... arrombam a mesma, ferem policiais e arrastam o Miguel para a rua, onde barbaramente o lincham. Será que alguém lembrou-se de perguntar o motivo daquele bárbaro crime? É certo que nada justificaria um assassinato, mas ao menos explicaria, tiraria dúvidas, e daria com certeza o que pensar... mas com certeza as únicas pessoas que poderiam dar uma resposta se calaram para sempre.
A cidadezinha volta a sua rotina normal. já cometeram justiça com as próprias mãos. Mas o que aconteceu de fato foi apenas mais um ato vil e selvagem de centenas que se diziam indignados com a atitude do Miguel, e no entanto foram mais animais, e mais vis, já que nada conseguiram mostrar, ou melhor dizendo, nada conseguiram dar à esposa do Joaquim, a não ser um deplorável espetáculo.
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