sábado, 18 de fevereiro de 2012

DE VOLTA AO PASSADO CAP III




"- Será que posso olhar pra esses lindos olhos sem enlouquecer Anny? Pois com certeza eles têm feitiço, aliás você é toda feitiços, e eu estou encantado desde a primeira vez em que a vi.
- Isto é porque você me olha com os olhos da paixão.
- Duvido Anny, você é que nasceu para enfeitiçar-me, para tirar meu sossego e me ver render-me aos seus pés..."



CATEGORIA: ROMANCE

CONTINUAÇÃO:

III CAPÍTULO


O dia está maravilhoso, há três dias que chovia sem parar... A Anny está pensativa,ela observa a filha mais velha que saíra para o jardim para brincar , entra no quarto e olha a criança que está no berço dormindo... Semblante sereno, e de repente aquele par de olhos verdes a olha com intensidade, daqueles lábios rosados sai um pequeno sorriso, a sua pequenina filha fecha os olhos e volta a dormir. Ela volta para a janela, e observa o frescor daquela manhã, com um tímido sol que insiste em se fazer notar, e ela logo volta a pensar no seu passado, que paradoxalmente está a cada dia mais distante, e cada vez mais presente... Mais perto. E ela revive saudosa, momentos inesquecíveis, onde se vê a correr pela praia em um lindo entardecer. Ah! Como é viva aquela lembrança... Aqueles momentos... O Adolfo a acompanhara até a parada do ônibus, ela precisava ir pra casa.
- Anny, vamos caminhar um pouco pela praia?
- Não devo Adolfo, não posso me demorar, afinal passamos a tarde juntos e logo mais a noite irás lá pra casa.
- Mas para mim ainda é pouco Anny, vamos esquecer por um momento que existe um mundo que não seja apenas o nosso, vamos fingir que somos livres, que na terra só existe nós dois. Vamos desfrutar desse lindo final de tarde. Veja como é belo a tarde se preparando para dar lugar a noite, e essa paz que emana de você é tão gratificante a alma, como o crepúsculo é aos olhos. Por favor minha querida, fique mais um pouco.
Ela gostaria de transmitir ao Adolfo o quanto havia de fragilidade nessa paz que ele tanto amava, pois ela só existia porque era dele que ela recebia, mas quando ele partia, a levava consigo,só restando o desespero da incerteza, de uma dúvida cruel se ele iria retornar e com ele toda aquela segurança que ela sentia.
- Está bem Adolfo, ficaremos um pouco.
E assim passaram a caminhar pela praia, tendo a água, vez por outra a banhar-lhes os pés, e logo ela é invadida por uma sensação de liberdade, então se põe a correr... ela sente uma necessidade constante de alcançar aquela paz que chegava e parecia partir levada pela brisa. Ele começa a persegui-la e se sentem livres como os pássaros em seus vôos, a com certeza de saberem-se belos e puros, livres para amar... Para viver. Repentinamente ela cai e ele alcançando-a aprisiona-a entre seus

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braços e murmura:
- Consegui finalmente fazê-la minha prisioneira e nunca mais a deixarei fugir... Você é minha e sou muito feliz por isso.
E com a voz entrecortada pelo cansaço prossegue: - Eu a amo desesperadamente, você é tudo para mim, sem você sou apenas metade, preciso me completar e sem você jamais conseguirei isto... És tudo o que desejo da vida.
- Adolfo, por favor deixe-me pensar, dê-me um tempo, receio não saber dizer o que eu realmente gostaria.
- Então Anny nada fale, eu direi tudo por nós dois.
- As coisas não são tão simples assim... Por Deus não me torture.
Ela sabia exatamente o que gostaria de dizer, mas em sua mente surgem imagens que a enchem de terror, e assim ela se entregava aquele mutismo, onde ela não conseguia demonstrar toda a afeição e admiração que sentia por ele.
Permanecem um longo tempo deitados sobre a areia. O silêncio perdurava entre eles. O som das ondas que chegava até eles se desfazia quando estas mansamente deslizavam por sobre a areia, e ambos continuavam embevecidos contemplando o crepúsculo. Era um quadro divino, como divino era aquela paz que os envolvia, muito embora ela estivesse com o coração em tumultuado desespero.
- Será que posso olhar pra esses lindos olhos sem enlouquecer Anny? Pois com certeza eles têm feitiço, aliás você é toda feitiços, e eu estou encantado desde a primeira vez em que a vi.
- Isto é porque você me olha com os olhos da paixão.
- Duvido Anny, você é que nasceu para enfeitiçar-me, para tirar meu sossego e me ver render-me aos seus pés. E como eu amo tudo o que vem de você, amo também esse poder de sedução e que só você tem e que tanto me atrai. Tudo em você me fascina, mas é de tal modo que as vezes me sinto um tolo por adorá-la tanto, e lhe digo mais, você tem um ar ingênuo, inocente, mas na verdade seus olhos desmentem tudo.
Ela permanece calada, fita-o nos olhos e percebe o quanto ele está penetrando no seu íntimo, tentando ler o que se passa em sua alma, mais uma vez porém ele não consegue decifrar o que lá continha. Ele continua a olhá-la e em cada centímetro do seu corpo


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ela podia sentir a carícia do olhar dele, e todo o seu corpo exulta ao som dos frêmitos de amor que a envolve por inteiro. Mas ela não consegue demonstrar o que ia dentro de si, ela era como um livro fechado para ele.
- Eu gostaria de poder conversar com você abertamente Adolfo, sem receios, sem vergonha, mas eu não consigo. Talvez eu emudeça diante da intensidade dos seus sentimentos, acho que me assusto e temo ser magoada.
- Eu jamais a magoarei Anny, eu a amo muito, mais do que tudo na vida, como poderei faze-la sofrer.
- Não sei, não sabemos as conseqüências, nem estamos preparados para o amanhã, e este você sabe que existe, e não sabemos o que nos reserva.
Eles permanecem calados. De repente percebem o adiantado da hora. Ele a leva até a parada do ônibus e com um beijo ardente se despedem.Ele fica olhando-a, sem saber que toda a alegria dela se esvaíra, e isso era algo que ele nem imaginava, como não imaginava que ela contaria as horas que faltaria para um novo encontro, já que não daria mais para ele ir pra casa dela aquela noite. Ela relutava em contar-lhe o que tanto a afligia,sentia de certa forma vergonha pelas atitudes de alguns que nunca se importaram em magoá-la, e isso era algo que tentava esquecer.
Um dia ela descobre uma maneira de aliviar o seu desespero e ter assim um pouco do Adolfo próximo, apesar da distância, pois ela não suportava mais a sensação de abandono a cada partida dele. E assim ela passou a escrever poesias, e ele escreve para ela dizendo que amara cada palavra escrita, ela fica embevecida, e mais ainda quando ele ao retornar, olha-a com aquela expressão forte de amor e devoção. Os dias foram se passando, cada reencontro era uma felicidade nunca dantes sentida.
Um dia ela volta a trabalhar, mas sempre que o Adolfo chegava eles ficavam a maior parte do tempo juntos, quando não estavam na casa dela, estavam na casa dele, principalmente quando ele chegava muito tarde e pernoitava na casa dela e pela manhã, logo cedo iam para a casa dele.
Certa vez o Adolfo pediu a d. Rejane para irem a uma abertura de verão na praia de boa viagem, a mãe da Anny não se opõe, apenas disse a ele que cuidasse bem da filha dela.
Foram para a casa dos pais dele, mas logo em seguida saíram para a festa. A Mariluce


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já havia ido com o Renato, o irmão um pouco mais novo que o Adolfo, mas no meio do caminho o Adolfo desvia e fala pra ela:
- Anny, eu sei que você está cansada, pois quando eu fui buscá-la, você ainda não havia chegado de viagem, que tal irmos para um lugar mais tranqüilo, ficaremos a sós, eu sei que você não gosta de barulho e lugares tumultuado, e eu fico sabendo da razão de sua viagem a Caruaru.
- Por mim tudo bem, onde você gostaria de ir?
- Conheço um lugar do jeitinho que você gosta, ao ar livre e sem ninguém por perto, com uma noite linda dessas será o máximo, e aí, topas?
Ela se deixa levar pelo Adolfo.
- Adorei o lugar, é um recanto lindo, tranqüilo... Não será perigoso?
- Comigo você estará protegida.
E ele mostra a arma que leva consigo.
Sentados sobre a relva conversam sobre a viagem dela. Nisso, ele começa a falar pra ela sobre o seu amor, a saudade que o estava deixando abatido e em muitas vezes distraído a ponto de já estar prejudicando-o no quartel. Ela fica escutando feliz, ele a amava, a distância não diminuía os sentimentos dele, ao contrário, aumentava ainda mais.
- Anny, deixe-me tocá-la,nada irei fazer, só quero senti-la um pouco mais, estou desesperado de amor.
- Oh! Adolfo...
Ele começa beijando-a e acariciando-a de maneira que ela jamais pensara nem sequer sonhava que existia. A língua dele parece uma labareda de fogo. Chocada, ela exclama:
- Meu Deus! Adolfo...
- Perdoe-me Anny, mas eu precisava tocá-la assim, senti-la assim, eu a quero e desejo desesperadamente. Não fique assustada, eu jamais faria algo assim com quer que seja, só a você amarei desse jeito e só a você me darei assim, eu a amo e a quero sentir assim... Saberei esperar o tempo certo.
Apesar de um tanto relutante ela tenta compreender a atitude do Adolfo, ela era inocente sobre o que estava acontecendo e ele sabia disso, embora ela pressentisse o

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que estava por vir.
As semanas foram passando. Adolfo não tentou maiores intimidades com ela, mas havia algo estranho no ar, era como se ele estivesse envergonhado do que fizera, ou não? Ela não sabia responder, mas o achava abatido, era como se ele não estivesse dormindo bem.
- Adolfo o que é que está acontecendo com você, estás doente? O que o tem deixado abatido dessa forma?
- É o amor Anny, estou doente de amor e a culpa é sua, há noites que venho sonhando com você e com tudo o que poderei lhe dar... Deixe-me possuí-la, amá-la como nunca alguém a amou.
- Eu tenho medo Adolfo, muito medo.
Ele não volta a insistir, mas ela sente que ele está mudando. Um dia ela chega a casa dele, conforme haviam combinado na última folga dele, só que ela havia dito que não ia, embora fosse apenas pirraça, no dia combinado ela aparece, mas assim que chega, a d. Rita, mãe do Adolfo chama a Anny e diz:
- Anny, aí tem uma moça que já foi namorada dele, agora vive atrás do meu filho, mas ele não a quer. Eu ouvi ela falar pra ele que quer que ele a leve em casa, não deixe minha filha, ela só quer fazer raiva a você.
- Tudo bem d. Rita, tentarei impedir do Adolfo levá-la.
Anny entra e beija rapidamente o Adolfo e diz que precisa falar com ele. Este fica surpreso ao vê-la.
- Oi Anny! Resolveu vir? Estou contente, mas o que é que a loucura da minha vida tem pra me dizer, será que é o que eu estou pensando?
- Não, é que a sua mãe me disse que você vai levar essa moça em casa, é verdade?
- É sim Anny, eu pensei que você não vinha, aí prometi a ela que a levaria. Mas não se preocupe, eu não me interesso por ela, só quero você.
- Eu acho que você não deve levá-la em casa, será que você não percebe que ela só quer me irritar?
- Não precisa ficar irritada, pois eu não vou demorar, fique aqui me esperando que eu logo estarei de volta pra você, prometo.
- Será que você é tão cabeça dura assim? se você insistir com isso, juro que não

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mais me tocará.
- Anny, como você é caprichosa,pois é isso essa zanga toda. Ou será que você está com ciúmes? Se for isso , eu serei o homem mais feliz da terra. Responda Anny... Você está com ciúmes?, porque se assim for eu juro que não a levarei em casa,não importa que eu venha a faltar com apalavra.
- Eu com ciúmes... Esse foi o maior absurdo que eu já ouvi eu jamais sentiria ciúmes de quem quer que fosse menos ainda dessa aí.
- É Anny, não adiantou nada o meu jogo, sinto muito. Eu vou levar a Claudia em casa, mas me espere que eu volto logo.
Adolfo sai e ela fica pensando: - Seria tão fácil admitir que estava morrendo de ciúmes, mas o orgulho dela jamais permitiria, nem mesmo para ela própria. Nesse momento a Mariluce se aproxima com a d. Rita e começam a conversar, mas a Anny demora pouco. Se despede e vai embora.
- Você não vai esperar o Adolfo Anny? Eu tenho certeza que ele não vai levá-la em casa.
- Não Mariluce, tenho coisas mais importantes a fazer.
Anny está furiosa, mas sabe esconder muito bem e assim ninguém percebe. Dirige-se para a parada do ônibus quando no caminho encontra com o Nielson, se ex namorado. Eles começam a conversar e não percebem quando o Adolfo se aproxima. Este, ao chegar perto, olha para eles, o seu olhar reflete a fúria que lhe ia na alma, ela fica um pouco assustada,pois nunca imaginou encontrar tanto ódio no olhar dele, ela sempre o julgou superior a sentimentos mesquinhos. E mais uma vez ela não demonstra o que sente. O Adolfo ao passar por eles, a empurra e segue o seu caminho. Essa atitude inesperada pegou a eles desprevenidos.
- Anny, o Adolfo não gostou de nos ver juntos, afinal um dia já fomos namorados.
- Problema dele, não estamos fazendo nada demais, apenas conversamos um pouco, além disso, ele não tem que achar nada, pois ele saiu para levar uma ex namorada em casa. Não tenho culpa se ele desistiu.
Logo em seguida ela se despede do Nielson e vai embora. Intimamente ela estava feliz porque o Adolfo não levara a Claudia em casa, ao mesmo tempo estava se sentindo triste, pois se ela não tivesse sido tão precipitada, nesse momento estaria na beira


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da praia, nos braços do Adolfo, desfrutando desse maravilhoso momento de reconciliação. Ela pega o ônibus e vai embora pra casa, nem ao menos se lembrou de ir até a casa da tia. E naquela noite a Anny com a mente agitada adormece sofrendo com a ausência do Adolfo. Ao acordar no dia seguinte, ela resolve ir para a casa da tia. O Diva percebe a tristeza dela e pergunta pelo Adolfo:
- Anny, onde está o Adolfo, por acaso vocês brigaram?
- Não tio, ninguém brigou... Engraçado, eu e o Adolfo nunca brigamos, nem mesmo discutimos, deve haver alguma coisa errada, isso não é normal, pois quer dizer que há alguém sempre cedendo em benefício do outro, e como eu não deixo de fazer o que gosto ou que quero, quer dizer que ele não é feliz.
- Realmente Anny, você não pode só querer receber, é preciso dar também, afinal o amor é feito de troca mútua.
Nesse momento a tia dela avisa que o Adolfo acabara de chegar perguntando se ela estava ali.
- Anny, o Adolfo está aí.
- Já estou indo tia.
Ela se aproxima do Adolfo,pensa em tantas coisas para dizer, mas não consegue e simplesmente emudece.
- Oi Anny, como estás?
- Bem,muito bem, embora eu acredite que isto não lhe interessa nem um pouco.
- Não vamos começar a nos agredir, por favor.
- Certo, vamos dar uma trégua, afinal eu não sei porque estou agressiva.
Eles saempara a calçada e começam a conversar.
- Anny, perdoe-me pela minha atitude de ontem, eu só queria provocar ciúmes e assim ter certeza dos seus sentimentos para comigo. Ontem quando eu saí para levar a Claudia, sabia que jamais a levaria, o máximo que eu poderia fazer seria acompanhá-la ate a parada de ônibus, e foi o que eu fiz. Eu não podia demorar, pois eu havia deixado o meu coração em casa. Mas sinceramente, eu quase fiquei louco, quando ao voltar deparo-a conversando com aquele sujeito.
- Adolfo, aquele sujeito tem nome. E nós estávamos apenas conversando, e isto você


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teria visto se não passasse como um furacão e fosse civilizado o suficiente para cumprimentar as pessoas ao invés de me agredir com empurrão. E nós falávamos sobre você e a sua atitude para comigo,, pois para quem diz morrer de amor por mim, até que foi bastante estranho o seu comportamento. E ali mesmo nos despedimos. Mas eu gostei Adolfo, pois tenho a certeza que você ficou se corroendo de ciúmes, pensando que nós havíamos passado mais tempo juntos.
- Anny, eu passei a noite atormentado, eu quis fazer ciúmes a você e de repente me vi louco de ódio, pensando que ele estava com você,levando-a pra casa, e até tocando-a. Eu fiquei desesperado, queria ir até a sua casa mas eu temia encontrá-la nos braços dele. Que noite infernal, não quero passar por isso nunca mais. Mas eu fui um tolo, eu devia saber que a minha feiticeira jamais faria isso comigo. Foi insegurança minha,é que é amor demais em mim, e em você eu tenho certeza que esse sentimento não existe.
- Ainda bem que tudo terminou em paz, embora você não acredite, o nosso rompimento me afetaria bastante, só eu sei. Você é uma pessoa muito especial, um grande amigo e eu não quero perdê-lo.
Ela sabia que não estava usando as palavras corretas, mais uma vez ela não consegue livrar-se daquele sentimento que a persegue desde a adolescência.
- Anny, vamos conversar um pouco andando pela praia?
- Não Adolfo,não agora... Deixe para logo mais ao cair da tarde e poderemos desfrutar da beleza do por-do-sol.
Ele concorda, mas pede a ela que o acompanhe até a casa dele. Ela concorda e entra em casa pra avisar a tia. Ela vai com ele. Após o almoço eles vão para o quarto da d. Rita, mãe do Adolfo, e passam uma tarde agradável. Os familiares dele ficam satisfeitos ao ver que entre eles está tudo bem. O Adolfo passara a maior parte do tempo com a cabeça no colo da Anny, até que rindo ele pede para trocar de lugar com ela,pois com certeza ela já estava cansada, ela aceita e ficam assim até o momento dela ir embora.
- Sabe Adolfo, eu preciso ir, ainda vou falar com a minha tia.
- Então Anny, você vai, enquanto isso vou tomar um banho e logo em seguida vou pra

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casa da sua tia, te apanhar. Concorda?
- tudo bem, estareiesperando-o.
Ela se despede de todos, ele a beija e ela segue saltitante para a casa da tia. No caminho encontra o Nielson.
- E aí, fizeram as pazes?
- Está tudo bem entre nós.
- É uma pena Anny, eu ficaria feliz com esse rompimento. O que está errado entre vocês, é que o Adolfo é muito imaturo, você precisa de alguém como eu. Se você terminar esse namoro, eu garanto que ele não vai morrer. Eu não morri quando isto aconteceu comigo.
- pois é, mas acontece que entre nós o papo é outro.
O Nielson a olha com cinismo, ela não compreende, pois ele nunca agira assim antes. Ela sai pensativa, ao chegar fica conversando com a tia. Toma um banho rapidamente, e tão logo termina, o Adolfo chega. Eles saem caminhando em direção à praia. Nisso o Adolfo avista o Nielson e pergunta para ela o que ele queria com ela, quando ela vinha da casa dele. Ela pela primeira vez mente para ele.
- Ele queria saber se estávamos brigado,pois ele estaria disposto a procurá-lo e dar-lhe explicações.
- Espero que ele nunca se aproxime de mim para falar sobre você, eu não o permitiria, com certeza eu o agrediria.
Anny segue calada, ela nunca havia parado pra pensar que o Adolfo era como todos... Simples mortais.
Ao chegar a praia, ela se põe a correr, o Adolfo a persegue, depois a pára, a põe nos braços e continua a correr, mas logo pára exausto, olha para ela e a convida para irem até as pedras, que ficava um pouco distante da praia.
- Venha Anny, eu a levarei nos braços, para que não se molhe.
Ao chegarem nas pedras, ele a coloca em segurança, se deita ao lado dela e fala:
- Tivemos sorte, a maré está baixa, dá para ficarmos um pouco até que ela volte a subir.
Os minutos passam rapidamente. A noite desce e eles ficam contemplando as estrelas


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que começam despontando.
- Adolfo, acho que já está na hora de voltarmos.
- Calma minha querida, espere um pouco mais, essa calma nos faz tão bem.
De repente ele se cala, e ficam assim, esquecidos do mundo, num sublime fremir de um desejo que lhes arrebata os sentidos. A cada roçar de corpos, sentem que algo muito especial está para acontecer. Era doce, era terna a maneira como ele a acariciava, e mais uma vez quase chegam ao abandono total dos sentidos.
- Anny, precisamos sair daqui antes que seja tarde.
Adolfo a coloca nos braços e retorna para a praia. Exausto ele se deixa cair sobre a areia, e outra vez ela se deixa abraçar por aqueles braços que tanto amor transmitia. Mas ela sentia que a segurança que ele estava a lhe passar já não era a mesma, disso ela tinha certeza. Será que ele estava mudando? Isso a deixava aterrorizada, não, ela não podia sequer pensar nessa possibilidade, mas o medo começou a mostrar-lhe que ela estava certa, ela sabe que não suportará isso sem sofrer, pois ele era o único homem a quem ela depositara toda a sua confiança, com ele aprendera a rir sem fingir, e ela agora podia ter o rumo da sua vida mudado. Ela sabe que o Adolfo significa muito na vida dela, e sofre por não saber dizer, nem sequer demonstrar isso.
- Adolfo posso perguntar-lhe algo que eu sempre tive receios de fazê-lo?
- Pergunte Anny, do que se trata?
- Eu estava pensando numa carta que você me escreveu, nela havia um trecho em inglês, e como eu não sabia traduzir, pedi para o meu professor , o Bernard traduzir, só que ele pareceu-me chateado e disse que não leria para mim, e que quando eu tivesse uma outra carta assim, não trouxesse para ele. Eu fiquei sem saber o que continha e não me atrevi a pedir a outra pessoa que a traduzisse para mim, pois eu tive receios que tivesse alguma coisa demais.
- E o que foi que a fez lembrar dessa carta após tantos anos?
Foi pela frase que você me falou há pouco, não sei porque você tem essa mania, de me falar sempre alguma coisa em inglês.
- Engano seu Anny... Eu falo que te amo em algumas línguas, porque infelizmente eu não sei falar em todas .


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- Mas como é, vai falar o que continha a carta, ou vou continuar na ignorância?
- Diga-me Anny, por acaso esse professor estava apaixonado por você?
- É claro que não, que absurdo!
- Pois ele estava apaixonado por você sim, pois a carta não continha nada grave, apenas dizia que eu a amava loucamente e que eu ainda ia fazê-la minha mulher, que você era a coisa mais importante da minha vida... Eram frases assim e algumas outras, nada que pudesse comprometer uma garota, muito menos envergonhar um homem, pois o amor não envergonha, ele enobrece.
Continuam conversando, logo depois ela decide ir embora, ela não verá ele partir,pois dessa vez ele irá de madrugada. Eles se despedem, Ella vai para casa triste, pois sempre que ela pensava na possibilidade dele vir a deixar de amá-la, ela se desesperava. Embora ela quisesse acreditar que ele jamais faria isso com ela.
De repente ela se lembra do velhinho que a tantos anos atrás tentou alertá-la para alguma coisa, e isto ela só conseguia se lembrar quando coisas ruins lhe aconteciam.
Há quase duas semanas que o Adolfo não escreve para a Anny, e ela está sem notícias, pois nem mesmo para os pais ele tem escrito.
Numa tarde, ela estava em casa, quando o carteiro apareceu.
- Carteiro...
Ela corre a atender, e quando vê o remetente se enche de alegria, era carta do Adolfo, então ele não a esquecera. Abre a carta avidamente e se põe a ler.

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" Anny, amor, essas duas semanas sem notícias suas tem sido horrível. Perdoe-me se não lhe escrevi antes. Estou morrendo de saudades. e estarei aí este final de semana, nós passaremos juntos, precisamos nos realizar, preciso de você para ter certeza que ainda vivo...
A carta continuava, mas ela parecia não ver mais nada... As lágrimas lhe toldavam a visão, e ela não precisava ler mais nada, era suficiente o que acabara de ler, estava claro que o Adolfo continuava a amá-la e pelo visto com a mesma intensidade. Relanceia o olhar pela página e no final vem a despedida dele.
..." Receba deste que tanto te ama, um beijo em teus sequiosos lábios."
Ela exulta de felicidades, então a profecia daquele velhinho não iria se realizar, ela agora tinha certeza dos sentimentos do Adolfo, se ele mandara aquela carta era porque ainda a amava e a queria para sempre.
Foram os dias mais longos da vida dela, pois mesmo sabendo o que ia acontecer, não sentia medo, e este era um segredo que ela guardava só para si. O sábado chegou... E com ele, o Adolfo. Eles haviam marcado o encontro próximo a casa da Ivalda, uma colega de trabalho, que por sinal sabia de toda a história da Anny, pois em algumas crises, ela havia sido a confidente e conselheira dela. De repente ela sente medo, pois sem querer lembrou-se de uma palavras do velhinho. " Aos vinte anos cairás em um abismo e dele só sairás sozinha". Não, ela não tinha o que temer, precisava ser confiante, pois o Adolfo a amava, nada tinha maior importância que este fato. Anny pensa no que falara pra mãe ao sair.
- Mamãe, vou passar o fim de semana na casa da Ivalda, pois ela irá conhecer a família do Zé Luis e eu irei com ela.
- Está bem Anny. - Responde-lhe a mãe.
Quando chega o momento do encontro, ele surge sorridente. olha para ela profundamente e após beijá-la com sofreguidão diz:
- Essa noite será inesquecível, eu lhe prometo, vamos.
Ela fica pensando: - É claro que ele me ama, se ele quisesse diversão por uma noite, procuraria qualquer uma, mas ele estava feliz quando disse que esta noite reservou-a para mim, para vivermos esse grande amor que parecia sufocá-lo.

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Mas ao se ver sozinha com o Adolfo, sente um estranho pressentimento... era como se aquele momento fosse marcar o início de um final.
- Anny, relaxe, eu não vou magoá-la, só quero amá-la, hoje eu finalmente vou realizar o maior sonho da minha vida.
E a noite transcorreu entre encantamentos, medos e muito amor, por´´em uma sensação de solidão parece tomar conta dela, uma dor aguda parece esmagar o seu peito e ela sente que há algo errado, o seu coração denunciava.
Amanhece... O Adolfo não tem uma expressão totalmente feliz, era como se ele tivesse cometido um grave pecado, ou talvez, após saciada essa paixão desenfreada, o arrependimento o estivesse atormentando. Ele a olha ternamente e em seu semblante ela pode lçer que havia terminado um sonho, um longo sonho de sete anos, e que ali se iniciava um pesadelo que poderia perdurar a vida toda no coração de ambos. Esse seria o preço que teriam que pagar por cometerem aquele ato de loucura.
- Anny, vou deixá-la na casa da Ivalda, você não acha que será melhor assim?
Ela não responde, apenas dá de ombros. Eles seguem para a casa da amiga da Anny, lá chegando,o Adolfo disfarça quando ela pergunta pra eles o que está acontecendo que eles estão tão estranhos, ele diz que estão vindo de uma festa e que a anny não quis ir pra casa. Ele pede que cuide bem dela, que a deixe dormir, mas a acorde cedo, pois eles vão almoçar com a família dele. Beija a Anny demoradamente e diz a ela que está tudo bem, que nada mudou, apenas ele não consegue controlar tanta felicidade, e que ela não duvide do amor dele, pois este apenas aumentou.
Ele se vai e a Anny sente um aperto no coração...Ela sente que ele está saindo da vida dela para sempre. Um longo suspiro desperta ainda mais a curiosidade da Ivalda.
-Anny, o que está havendo com vocês? estou achando-os muito estranhos, a impressão que dão é que fizeram alguma coisa errada. Por onde vocês andaram e que festa é essa que ele mencionou.
- A festa a que ele se refere, foi um encontro de amigos, por sinal, amigos do Renato, irmão dele, e não fizemos na da de errado... Vai ver que eu fiz um nenê essa noite.
- Anny, não brinque com coisa séria... Eu estou preocupada, o que houve de fato essa noite?

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- Não fique preocupada à toa. Eu não sou criança e sei perfeitamente o que posso e o que não posso fazer.
- Quisera que você realmente tivesse deixado de ser criança, só que você é dessas pessoas que quando chegam na velhice, não lembraram de deixar de ser criança. Até o própro Adolfo vive perguntando quando é que você vai crescer.
Anny fica calada, ela sabe que a amiga está certa, ela não consegue enxergar as maldades humanas, sempre confiava e por isso vivia se machucando.
Sem conseguir descansar, ela resolve ir para a casa do Adolfo, ao sair vê que o Zé Luis, o noivo da Ivalda está chegando.
- Oi anny, o que deu em você para estar aqui a uma hora dessas?
- Ah! Então eu tenho que marcar hora pra vir visitar vocês?
-- Que é isso menina, eu apenas estranhei o horário porque hoje é domingo, e o certo seria você estar com o Adolfo, a não ser que ele não tenha vindo esse fim de semana.
- Ele veio sim Zé, mas estranho é você estar chegando aqui a essa hora.
- É que eu fui levar meu irmão na rodoviária, saí muito cedo, a Ivalda não te falou?
- É que não deu tempo Zé... O Adolfo trouxe a Anny muito cedo, nós ficamos conversando e eu esqueci de você amor.
- Bonito hem! Esqueceu de mim... Mas espere que história é essa do Adolfo ter trazido a Anny, a essa hora? O que houve? Onde estavam?
- Não se preocupe, não aconteceu nada, fica com um beijo que eu já estou de saída.
Preocupada a Anny analisa a vida dela, desolada percebe que nada do que tem feito tem dado certo. Será que o Adolfo iria abandoná-la? Triste se dirige para a praia e fica refletindo sobre os últimos acontecimentos.
o que será que se passava no íntimo do Adolfo, era o que a anny se perguntava constantemente. Tudo havia acontecido conforme ele planejara, para ele estava tudo normal, mas por que essa estranha sensação que ele havia deixado nela? Será que o abismo a que se referira o velhinho, que ela iria cair aos vinte anos, seria as consequências da noite anterior. Ela já está com dor de cabeça, são muitas as preocupações que a aflige. Decide ir logo para a casa do Adolfo.
- Bom dia d. Rita! tudo bem?
-Bom dia Anny, com está você? me parece abatida.

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- Impressão sua d. Rita, eu estou bem, e o Adolfo ele está?
- Está sim minha filha, mas me diga uma coisa, você viu o Adolfo ontem?
- Não, eu não o vi, aliás, estou chegando de viagem agora. Mas por que a senhora me pergunta isso?
- É que todos esses anos que o Adolfo tem vivido fora de casa, essa é a primeira vez que ele chega no dia de voltar, e ainda por cima tão estranho, pois sempre que ele chegava no domingo, era porque havia dormido na sua casa, mas ontem ele disse que não foi pra lá.
- É verdade, ele ontem não foi pra minha casa. Mas por que a senhora o achou tão estranho?
- Não sei explicar Minha filha, é como se meu filho tivesse feito algo errado, mas ao mesmo tempo o sinto feliz, não consigo entender o que está acontecendo, e ele diz que está tudo bem, só não consegue ser convincente.
- Não se preocupe d. Rita, se houver algo de errado ele por certo me dirá, ele nunca mentiu pra mim e nunca escondeu nada de mim.
Anny vai falar com o Adolfo.
- Seu maluco, você tinha que ter pensado em alguma coisa antes de chegar em casa, afinal o que deu em você? perdeu a noção das coisas?
- Não adianta Anny, não consigo pensar em nada, só me vem à mente, a noite passada. afinal eu poderia ter escolhido qualquer garota pra sair comigo, afinal são tantas que eu conheço.
Anny sente-se morrendo aos poucos, então para ele, aquela noite não significara nada, ela agora não passava de uma garota qualquer na vida dele, ela nunca mais seria o seu amor, a sua louca paixão.
- O que está acontecendo Anny, por que estás tão pálida, você está passando bem?
- tubo bem Adolfo, apenas me surpreendi com a nova declaração de amor que você acabou de dizer... eu devia saber que aquele velhinho estava certo... ele sempre esteve certo.
- Anny meu amor, acho que não me expressei bem, seja lá o que for que eu tenha dito, esqueça, pois você foi, é e sempre será o grande amor da minha vida.

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permanecem calados durante um bom tempo. É chegada a hora do almoço, que como podia se esperar transcorreu em silêncio. Ela mal toca na comida.
- O que há Anny, doente de amor? Olha que o Adolfo não merece tanto.
- Que nada Renato, apenas estou sem fome.
- Mas sinal Anny! Mal sinal!
- Você hoje está impossível Renato.
Renato começa a rir e logo depois começam a conversar sobre vários assuntos, mas ela continua calada, distante, cabisbaixa.
Adolfo e Anny retiram-se da mesa e vão para o quarto conversar.
- Adolfo você está triste, sinto o coração apertado só em olhar pra você... você está arrependido não é?
- Não minha querida, estou apenas preocupado, mas estou muito feliz, afinal foram muitos anos esperando por esse dia.
- Diga-me Anny, gostaria de morar em Maceió?
- Qualquer lugar pra mim será perfeito, desde que estejamos juntos.
Passaram o resto da tarde juntos, e no final da mesma, ela acompanha o Adolfo até a rodoviária e entre beijos o Adolfo pede a Anny que vá com ele, ele sente que ela tem que ir- Por favor Anny, venha comigo, não podemos nos separar nesse momento, precisamos ficar juntos, em nome do meu amor, venha, não me deixe partir só.
- Sem ninguém saber Adolfo! você deve estar louco!
- Por favor Anny, venha comigo, eu sinto que não devemos nos separar.

Mas estranhamente ela sente que há alguma coisa errada com aquelas palavras, e relutante, entre beijos e juras de amor ele se foi. Mas só que desta vez ela sente que foi diferente, ele deixara um vazio maior que todos os que ela já havia sentido.
O tempo vai passando e ela não tem notícias do Adolfo, sem perceber vai se afastando da casa dos pais dele. Já faz quase um mês que ele se foi, ela se desespera, pois desde aquela noite não conseguiu mais ter paz. Ela aos poucos vai se entregando ao desespero, ninguém sabe o que aconteceu, e mesmo assim, apesar de tudo ela ainda conserva uma pequena esperança, e continua a esperar pelo Adolfo, ela sente que ele virá. Dias depois ela resolve ir a casa dos pais do Adolfo.

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- Olá d. Rita, tudo bem?
- Mais ou menos Anny. O Adolfo tem escrito pra você? estamos sem notícias desde aquele estranho domingo
- Não, ele não tem me dado notícias, mas não se preocupe, provavelmente ele está em treinamento, sempre cansado e sem tempo. Mas ele logo dará notícias, vamos esperar mais um pouco- tomara que você esteja certa, estamos realmente muito preocupados, eu queria telefonar, mas o Antunes não deixou, ele me disse que vou preocupar o Adolfo e isso eu não quero.
D. Rita jamais poderia supor o quanto a Anny estava desesperada, ela fora ali em busca de notícias e saíra mais preocupada.
Seis semanas depois o Adolfo aparece, mas não era o mesmo Adolfo que ela conhecia. Este era muito diferente, é como se tivesse quebrado algum encanto, é como se um outro Adolfo estivesse ali na sua frente, e apesar dele cobri-la de beijos, ela sentiu que havia perdido ele para sempre, pois tudo o que ele dizia ou fazia soava falso, como algo muito bem ensaiado. Eles começam a conversar, e de repente a Anny toma o rosto dele entre as mãos e fala:
- Adolfo, vou ser mamãe.
- O que? tem certeza?
Ela por um momento fica estarrecida diante da expressão que ela vê estampada no rosto dele, ai ela começa a falar sem parar.
- Olha Adolfo, eu nem sei porque te contei, esqueça o que eu falei, pelo amor de Deus, faça de conta que eu nada disse... eu já decidi o que fazer.
- O que você quer dizer com: " já decidi o que fazer"... Por acaso você está pensando em aborto?
- Isso nunca Adolfo! sou mulher o bastante para assumir o que fiz.
- meu deus Anny! por instantes pensei que você não queria o nosso filho.
Adolfo é tomado por uma nova expressão... Seu rosto transborda de felicidade, e ele começa a repetir baixinho:
- Eu vou ser papai... Como estou feliz, eu vou ser papai, e é fruto do grande amor da minha vida. obrigado Anny, por me fazer o homem mais feliz do mundo, só você poderia

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fazer isso... o meu filho, filho da mulher que atormentou a minha vida durante anos, e em poucas semanas me dá tudo o que eu poderia desejar de você, um filho. Obrigada meu amor.
e ele começa a fazer planos para o futuro, muito preocupado com aquele pequenino ser que estava por vir ao mundo. E chegado o momento da partida, ele se vai, se despediram, mas ela sente que não havia chance de ver transformado em realidade os seus sonhos.
Três meses já se passaram desde aquela noite. Do Adolfo, nenhuma notícia, ela não procurou escrever, ele sabia o que havia feito, não havia necessidade de uma cobrança e ela jamais ia pedir ajuda ou proteção a quem quer que fosse. ela está morando sozinha há uns dois meses. Ela sentia muito medo, mas estava disposta a seguir em frente e só, ninguém iria sofrer com aquele ato que de impensado nada tinha.
Os dias e as noites da Anny eram sempre iguais, nada acontecia para melhorar o seu estado de espírito. Acordava cedo todos os dias e ia para o trabalho. À noite, sempre exausta, chegava em casa e se punha a arrumar as coisas, mal dava para descansar, pois ela sempre procurava alguma coisa para fazer na tentativa de manter a mente ocupada... As vezes a sua mente tentava vencer aquele abatimento, mas o espírito não ajudava, e assim a sua alma mais e mais se consumia.
Certa vez, a Anny que havia se afastado de todos encontra o padre Bruno.
- Minha filha como você está abatida! apesar de fazer meses que eu não a vejo, não pensei encontrá-la assim, tão deprimida, tão carente. Eu compreendo como você deve estar se sentindo, afinal o Adolfo era o seu porto seguro, nele você depositou toda a sua confiança, e no momento em que você mais precisa, ele está ausente. essa é a hora em que você mais precisa de amor, carinho, proteção e sobretudo atenção. Eu realmente não compreendo como é que num momento mais importante da vida de vocês dois, você está sozinha. Sabe Anny, embora esse acontecimento seja motivo pra alegria, quando a sua mãe me contou eu fiquei triste, mas a minha tristeza é pela sua situação, e eu cheguei a comentar que de todas as filhas dela a que menos merecia uma sorte dessas era você, não que as outras não mereçam o melhor, mas é que com você é diferente.
- Agradeço tanta preocupação Bruno, mas realmente não é pra tanto.

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- Apesar de você tentar esconder Anny, todos sabem o quanto você precisa de apoio, sabemos que você está com problemas de saúde, não queira esconder o que está tão à mostra... o seu modo de andar, falar, pensar e agir deixa isso muito evidente. Não ponha o orgulho à frente dos seus reais sentimentos e necessidades.
- Meu querido amigo, não se preocupe em demasia, está tudo indo muito bem, se melhorar estraga.
- Então Anny, me diga com toda sinceridade, o Adolfo tem escrito? ele vai resolver e assumir essa situação?
- Bruno, querido Bruno, não tem porque se preocupar, esta tudo bem comigo, só estou um pouco cansada, tenho trabalhado muito esses dias, é tanto que nem vejo o tempo passar e nem tenho tido tempo pra pensar na vida. quanto ao Adolfo, ele tem escrito, está muito feliz com a ideia de ser papai, e tão logo ele consiga uma licença, nos casaremos. Sabe Bruno, eu adoraria que você ao invés de ser padre, fosse meu pai, eu me sentiria duplamente amada e protegida.
- Olhe Anny, o que eu puder fazer para ajudá-la, farei. Na verdade eu até já pensei em ir até o Adolfo e pegá-lo pelas orelhas, afinal ele pensa que você é cão sem dono? não, as coisas não são bem assim, ele encontrou-a em casa, não foi na rua, e depois vocês se conheciam a tanto tempo, tantos anos um homem apaixonado para acabar fazendo o que ele tem feito? eu não quero acreditar que ele enganou a todos nós, não quero acreditar que ele seja um crápula. Pela sua expressão estou vendo que você não está gostando do que está ouvindo, mas minha filha, ele a conheci muito bem, você nunca o enganou em momento nenhum... não minha filha, ele não tem esse direito, e tenha certeza, se eu o encontrasse eu o ensinaria a agir como homem, nem que fosse debaixo de uma surra... Ele não tinha o direito de fazer isso com você... Você que sempre foi tão verdadeira para com ele.
- Fique tranquilo Bruno, o Adolfo não é o que você está pensando, ele é apenas imaturo e não estava preparado para enfrentar essa situação. Talvez um dia ele acorde desse pesadelo, pois é em que se transformou essa situação, eu sei que era tudo um sonho e que ele fez questão de transformar em pesadelo, e agora se assusta com os próprios fantasmas.

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- Eu espero que você esteja certa minha filha, pois no fundo ele sabe que você ainda é a mesma criança de anos atrás, não importa a idade que você tem hoje, o que conta é o seu íntimo, e eu não quero nem pensar que ele resolveu transformar essa criança numa mulher sozinha e desprotegida.
Anny sabe que se falasse com ele o que realmente estava sentindo, o que estava passando, com certeza ele iria procurar o Adolfo, e sabe que o Adolfo não teria desculpas para dar que fosse honesta e aceitável, pois ele conhecia a Anny melhor que todo mundo, ela nunca o enganara, sempre fora sincera com ele, o seu grande defeito foi não conseguir lhe mostrar o que lhe ia na alma. O bruno se despede prometendo voltar a procurá-la pois estava muito preocupado com aquela situação. Bruno se vai e no mesmo instante, ele lembra do Vitor, fica pensando no dia em que o encontrou na loja, esse rapaz sempre fazia visitas, ele era representante de uma grande empresa. Quando ele avistara a Anny, se aproximara, pegando na mão dela, procurara a aliança e não encontrando indagara:
Onde está a aliança Anny?
O Vitor percebe o olhar ensombreado que descerra aqueles belos olhos e se condena pela falta de tato.
- Você vai casar Anny? me perdoe se estou sendo cruel, mas eu acredito que seja o mínimo que venha a acontecer. Sabe Anny, eu estou muito preocupado, ouço rumores sobre a sua situação e isto tem me deixado muito preocupado. Não quero ser indelicado, mas seja ele quem for, não tinha esse direito, e ainda por cima deixsr toda a responsabilidade sobre os seus ombros.
Anny olhá-o através das lágrimas que lhe turvavam a visão, e isto machuca ainda mais o Vitor, ele aprendera a admirar cada vez mais aquela mulher com jeito de criança... Jeitinho atrevido e ao mesmo tempo inocente que tanto o encantava.
- Olha Anny, seja lá como foi que isso aconteceu, espero que tenha sido um ato de muito amor, e que ele não tenha conseguido roubara singeleza da sua alma, e que esta ainda possa trazer-lhe aos lábios aquele sorrido de criança travessa, pois foi sempre assim que eu a vi, minha doce e pequena Anny... Espero tornar a vê-l com um olhar

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feliz nessa eterna expressão infantil.
Anny nada conseguira falar após ouvir aquele desabafo, ela sempre sentiu que o Vitor a tratava diferente das demais meninas, porém ela jamais imaginara que ele a via dessa forma, mas logo ela começa a lembrar dos presentes que o Vitor já lhe dera... Uma boneca, um bichinho de pelúcia, e o último havia sido um jogo de bonecas em miniatura.
Para ela doía-lhe muito não poder ser sincera com as pessoas, de todos ele escondia a verdade, não queria ser motivo de piedade de ninguém nem tão pouco queria que criticassem o Adolfo, que o julgassem e o condenassem depois.
Os dias continuam a passar, e Anny sempre estava a fantasiar a sua verdade, a sua triste realidade, ela sabia que não havia mais esperanças, então ela passa a viver unicamente em função do filho que está por vir ao mundo.
Um dia a Anny que já estava bem próxima dos seis meses, recebe a visita do Adolfo. Ela estava arrumando as roupinhas de bebê, e escuta quando um carro pára, ela pressente ser o Adolfo, pega tudo e guarda rapidamente, para que ele nada veja. Senta-se na cama e fica aguardando. ela não sabia que ele havia comprado um carro, mas ela sempre sabia quando ele estava pra chegar, pois ela sempre sentia aquela sensação indefinida a invadir-lhe a alma.
- oi Anny, posso entrar?
- Não sei pra que Adolfo, que eu saiba você no perdeu nada aqui, nem tem nada pra dizer e menos ainda pra ouvir.
- Por favor anny, vamos agir como adultos, precisamos conversar, deixe-me entrar.
Mais uma vez ela se deixa convencer. ele olha em volta e pergunta o que ela estava fazendo:
- O que você fazia quando eu cheguei Anny?
- Estava arrumando as roupas do meu bebê, eu não sei se você sabe, mas eu estou grávida, aliás se não sabia, agora já não dá pra esconder.
- Deixemos as ironias de lado, eu sei perfeitamente o que fiz.
- Mas é claro que você sabe o que fez, afinal você foi muito homem para fazer, só que eu fui mulher o suficiente para assumir.

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- Por favor Anny, não quero discutir com você, eu vim em paz.
- Acontece que eu não quero que você toque em nada que pertença a meu filho, dá pra você entender isso?
- Não Anny, eu não posso compreendê-la, nem tão pouco aceitarei isso. entenda de uma vez por todas que esse filho também é meu, é nosso, será que é tão difícil por isso na sua cabeça?
Ele não percebe que a medida que vai falando, ela vai se irritando cada vez mais, ela não quer aceitar que ele tenha qualquer participação no nascimento do seu filho, não, isso nunca. Essa criança era apenas dela, só dela, como estava sendo até aquele momento. Além do que, qualquer coisa que ele fizesse para ajudar tanto a mãe quanto o filho, seria por causa da família, é como se com isso ele fosse garantir a ausência de cobranças, esta seria uma forma de assumir mesmo que parcialmente o que lhe cabia de responsabilidade, livrando-o talvez do que poderia ser culpa.
Não, ela jamais aceitaria o que lhe parecia ser sacrifício, o seu filho não precisava disto, sua necessidade era de amor, algo que o Adolfo já não tinha, mas foi um sentimento que a Anny julgara que ele tivesse. Ele tenta puxar assunto, ele precisava conversar com ela, e continua insistindo.
- Você estava descansando?
- Não, eu não preciso descansar... Está pensando que eu me tornei uma inválida? está muito enganado, eu apenas arrumava algumas coisas.
- E tratou de guardar tão logo percebeu que eu havia chegado, não foi Anny? com certeza eram coisas do nosso filho.
- Olhe Adolfo, antes de mais nada devo lhe dizer que não há nada que venha de você que ainda possa me magoar, pois só a sua presença já é o bastante para que isso aconteça, portanto qualquer outra coisa que venha de você, quer seja dito ou feito, me afetará, estou imunizada contra você. Quanto as roupinhas do bebê, eu o deixarei ver, pois não vai alterar nada, pois não há nada para ser alterado.
Arrasado o Adolfo senta na cama e cabisbaixo espera a próxima reação dela, mas a Anny simplesmente dirige-se para onde guardara as roupinhas do seu filho, ela abre o baú e deixa ele ver o conteúdo, e sorri intimamente ao ver o ar de sofrimento do Adolfo ao

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tocar cada peça, ela sentia que ele estava amando cada roupinha que pegava, mas ele não estava preparado para enfrentar aquela situação, faltava-lhe maturidade, e apesar de terem sido pegos desprevenidos, a Anny soube reagir, talvez impulsionada pelo orgulho, mas isso já não importava, aquela mulher com alma de criança vencera aquela batalha, enquanto que ele se entregara aquela inércia, fazendo com que a Anny se apegasse ainda mais ao seu orgulho, o que a levava muitas vezes a agir por impulso, deixando de lado a razão, e ela sentia-se mal ao tê-lo tão perto, pois ela sabia que seria apenas por alguns momentos, que ele logo partiria, deixando-a no mais profundo desespero, e que a cada novo contato, ela sairia mais machucada. A Anny sabe também que se não fosse tão orgulhosa, talvez as coisas acontecessem de forma diferente, e um novo rumo poderia ser dado na vida dela... Deles, e quem sabe este fosse um destino mais risonho e menos espinhoso.
Adolfo com seu jeitinho, mais uma vez consegui iludir a Anny, e é com sofreguidão e desespero que ele torna a amá-la, e ela mais uma vez se entrega ardente de paixão, de emoção, enlouquecida por aqueles meses onde o silêncio dele aumentara cada vez mais a sua saudade e a sua sede de amar e ser amada. E em sua ingenuidade, ela nunca iria supor que tudo terminaria outra vez com o raiar do dia, mas foi o que aconteceu.
Amanheceu! ela se acorda com o barulho dos pássaros.
- Bom dia Anny! como está se sentindo?
- Eu estou bem Adolfo.
- Apesar da ânsia e da minha intensidade ao te amar, eu consegui ser cuidadoso, te machuquei anny?
- Não se preocupe Adolfo, eu já lhe disse que estou bem, foi tudo maravilhoso. Mas me diga Adolfo, o que você foi conversar com a mamãe que não me deixou ir junto?
- Nada importante minha querida. A única coisa realmente importante para mim nesse momento foi o que aconteceu entre nós essa noite, e quero lhe dizer que eu estou muito feliz... Ah! deixe-me lhe dizer Anny, que eu amei cada peça de roupa que vi, principalmente aquela camisetinha que tem escrito" sou do papai", eu me senti muito orgulhoso.
- Seria bom que ele tivesse um pai não é Adolfo? mas nós bem sabemos que isso jamais

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acontecerá.
- Por que você me exclui das suas vidas dessa maneira Anny? Dê-me um tempo, estou atravessando uma fase muito ruim, sinto-me impotente diante das situações que o destino tem me apresentado.
- Todo ídolo de barro tem o seu dia, e pelo visto o seu já chegou e bem rápido por sinal.
Em vão o Adolfo tenta conversar com ela, mas é impossível, a Anny continua a agredi-lo, as vezes com palavras ou simplesmente com silêncio. Ele se despede e ao sair deixa sobre ela aquele sabor amargo de derrota.
Anny volta ao médico, ela sabe que está doente, e ela procura se cuidar, não por ela, pois um final até que seria um presente do céu, mas ela precisa lutar, há uma vida que depende da dela, e isso dá forças a ela.
Dias depois eles voltam a se encontrar, mas foi o encontro que ela tanto ansiara, apesar de negar isso até para si.
Desta vez ela se encontrava em um leito de hospital, estava muito doente, a fraqueza se abatera sobre ela em todos os aspectos, ela havia se tornado uma pessoa amarga, inconscientemente entregara os pontos, esquecendo que nessa batalha tão sofrida a principal guerreira era ela, e que com certeza, apenas o destino poria um fim e isto ela sabia, pois seja lá qual fosse o desfecho final, apenas a morte iria exterminar com qualquer sofrimento que porventura restasse de toda aquela história, pelo menos entre eles dois, não importando quanto anos irá passar.
- olá Anny! como vai você?
- Estou indo muito bem, obrigada.
- Você está muito abatida, precisa de alguma coisa?
- Não... Eu não preciso de nada nem de ninguém, será que não dá pra você entender que nada me falta, que sou feliz, extremamente feliz, que estou cheia de saúde e amor-próprio intocado, e tenha a certeza que tudo isso me basta. Se estou aqui, é passando férias, você não precisa se preocupar com qualquer coisa que seja, não há nada que você possa fazer por mim. Nesse momento eu só preciso de quem tenha amor, de ser humano sem alma, sem coração, de pessoa vazia, basta eu.

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Anny achava necessário mostrar ao Adolfo que nada mais os unia. Ela jamais deixaria ele perceber o quanto estava carente, isso nunca. E dominando a custo o ímpeto de atirar-se nos braços dele e dizer-lhe o quanto o queria, o quanto precisava dele e do seu amor, Ela preferira calar, ela jamais aceitara qualquer coisa que fosse feito por obrigação e não de coração.
Muito a custo ela demonstra uma frieza que na realidade estava longe de sentir. E passa a escutá-lo como faria com qualquer pessoa que não lhe fosse próxima.
Ela ouve ele falar com entusiasmo das dificuldades que vinha atravessando no novo destacamento, mas ela achava que o entusiasmo devia-se ao fato dele ter sido transferido para mais longe de Recife, para mais longe dela e dos possíveis problemas que ela pudesse apresentar na vida dele.
Era doloroso para ela, saber que aquela noite de dor e sofrimento ainda persistia dentro dela, após tantos meses. Cada um paga pelas suas desventuras, e ela teve que pagar o dobro, pois ficara também com o quinhão de dor do Adolfo. Fica observando-o e se põe a imaginar: - Onde estará o grande amor que um dia ele jurara sentir por ela?
E mais uma vez, sem nenhuma explicação, mergulha numa depressão que só piora após a partida do Adolfo.
Logo que sai do hospital, ela fica vários dia em casa, ela está sem poder voltar ao trabalho, e isto só irá acontecer quando ela ficar completamente curada, mas ela sabia que nunca conseguiria ficar completamente curada, pois ela jamais poria um fim ao mal que lhe afligia a alma, e assim, ela rasga a licença e volta para o trabalho.
O dia se aproxima, ela não mais viu o Adolfo. ela passara por momentos difíceis, onde os médicos achavam que o melhor para ela seria tirar a criança quando esta completasse sete meses, pois esta seria colocada numa encubadora e a Anny não teria mais problemas, aos quais punha a vida da Anny em risco.
Assunto discutido entre parentes e amigos, mas prevaleceu a vontade férrea da Anny. Esta criança só viria ao mundo quando Deus determinasse o momento, sua vida não era mais importante do que a do seu filho.
Certa noite a Anny olha para o quarto... Está tudo pronto, à espera do grande momento, que apesar de tão sofrido, era muito almejado. Ela sente medo do

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desconhecido, pois ela não sabe ao certo pelo que irá passar, mas continua firme. E dia após dia olha para a rua na esperança de ver o Adolfo surgir, mas essa esperança logo se esvai, pois ela sabe que isso não irá acontecer, Mas é só para ela que ousa acalentar esse sonho que na realidade nunca passará de um sonho.


O IV CAPÍTULO JÁ DISPONÍVEL




O IV CAPÍTULO JÁ DISPONÍVEL

Um comentário:

Anônimo disse...

A cada postagem seus textos ficam mais impressionantes.