sábado, 18 de fevereiro de 2012

DE VOLTA AO PASSADO CAP VI





"Deixe que eu amargue e sofra para dar evasão a minha mente sofrida em busca dos sonhos desfeitos... Em busca do tempo perdido... Tempo, meu pior inimigo, a distância tua maior aliada, a nobreza de sentimentos tua desconhecida.
Usaste meu corpo e arrebatasses a minha alma, perdi a minha juventude mas conservei a minha dignidade. Levaste a pureza do meu sorriso e me deixaste a malícia do teu olhar..."


CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO VI


Uma casinha branca, portas e janelas azuis. Uma paz infinita reinava ali. Existindo muito verde e sendo distante da cidade,não havia nenhum tipo de poluição. Era um lugar ermo, ali não havia realmente ninguém que falasse pra Anny do Adolfo. E foi nesse mundo quase irreal que ela se escondeu durante meses. Para ela não havia necessidade de calendário,nem tão pouco de relógio, ela não queria saber do tempo, nem tão pouco das horas, não havia praticamente nenhum tipo de meio de comunicação, só sabia de alguma coisa quando a avó dela passava por lá para deixar-lhe algumas compras. Dinheiro do Adolfo,só aceitou uma vez, depois seu avô lhe trouxe um cheque que o Adolfo havia mando, mas ela rasgou e mandou devolver.
E foi vivendo assim, nesse dia após dia, na certeza de que o Adolfo jamais deixaria de fazer parte do seu mundo que ela descobriu que se fazia necessário "assassinar a própria alma,para matar o Adolfo dentro da sua melhor saudade".
E em mais uma das tantas noites que ela só fazia pensar no Adolfo, ela descobre que seria incapaz de arrancá-lo de seu corpo, de sua mente. Com os olhos rasos d'água, dirige o seu olhar para a paisagem que se estendia a sua volta e que a ela tanto fascinava. A lua envolvia tudo em derredor, e mais uma vez ela volta a pensar no Adolfo... Sempre o Adolfo. Começa relembrando as muitas situações que haviam vivido e logo começa a escrever.
Adolfo, foi numa noite que o nosso nosso amor acabou... e acabou quase tão rápido quanto o tempo que uma folha leva ao se soltar do galho e tocar o chão, e eu permaneci como esta folha, abandonada, meus sonhos ficaram a vagar como essa folha que cai.
Estou só... na mais completa solidão.
Quem sabe um dia consigas ver quanto mal me fizestes... Não ao abandonar-me, mas ao deixar que eu te amasse, um amor adulto, cheio de realidades sofridas, um amor dotado do mais puro realismo,o qual eu não conhecia,pois foi tu que me ensinastes a conhecê-lo e logo depois procuravas fazer-me esquecê-lo ou quem sabe matá-lo.
Mas não conseguisses o teu intento.
Deixe que eu amargue e sofra para dar evasão a minha mente sofrida em busca dos sonhos desfeitos... Em busca do tempo perdido... Tempo, meu pior inimigo, a distância tua maior aliada, a nobreza de sentimentos tua desconhecida.
Usaste meu corpo e arrebatasses a minha alma, perdi a minha juventude mas conservei a minha dignidade. Levaste a pureza do meu sorriso e me deixaste a malícia do teu olhar, me


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arrancaste a sinceridade de um afeto e me atiraste à infelicidade e a dor.
Guardei tudo que aprendi e conservo comigo o fruto desse amor.
E chorando ela começa um solilóquio:
"E é sempre assim, quando a saudade entra de mansinho na minha alma, a revolta penetra fundo em meu ser e eu começo a escrever, enquanto as lágrimas caem por sobre o papel, sem no entanto conseguir aliviar o meu sofrimento, que só aumenta, levado pela ansiedade que sempre me deixa num profundo desvario, e eu fico a fitar o nada com a certeza que você Adolfo irá sair do meu pensamento e tomar forma.
E durante meses, você Adolfo não foi amor... Não foi paixão...Não foi ódio... Você foi obsessão. Pois em tudo eu lhe via, desesperada em tudo eu te buscava, porém só dentro de mim eu te encontrava.
E assim Ela continua vivia, sempre pensando no Adolfo, e nos poucos momentos de pura lucidez, ela ainda fitava o horizonte na esperança de vê-lo surgir. E foi assim, vivendo um paradoxo... Amando-o e Odiando-o, querendo-o e rejeitando-o, que ela voltou a encontrá-lo, para mais uma vez perdê-lo, para mais uma vez odiá-lo, muito embora amando-o.
Meses após viver enclausurada, longe de tudo e de todos, onde ela conseguia tirar uma parte do seu sustento da terra, uma outra parte vinha do seu tio, o Sandro, que em muitas vezes ao chegar encontrara a Anny sob as árvores, sempre sonhando acordada. O Sandro estava sendo muito legal com elas, o seu comportamento em relação a sobrinha havia mudado completamente.
- Anny, perdoe-me todas as vezes em que fui um cego não reconhecendo seu valor, sei que agi como um canalha na maioria das vezes. mas hoje, vendo-a desamparada, com uma filha nos braços e com muita garra, disposição e dignidade enfrenta toda a sordidez que aquele miserável tem lhe coberto. Eu sinto vontade de matá-lo.
E dizendo isso, ele vai em direção a casa dela, entra e tira um retrato do Adolfo que vivia na parede, leva até onde ela está e tirando uma faca da cintura, faz uso da mesma destruindo o retrato e fala:
- É isso o que eu vou fazer com ele quando eu encontrá-lo um dia. Só Deus me impedirá.
Anny fica calada, e o Sandro se afasta em largas passadas. Ela sente medo, pois apesar de nos últimos meses ele ter sido solidário, há algo nos olhos dele que que não consegue enganá-la, e apesar de temê-lo, ela não demonstra qualquer tipo de receio.

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ela continua sua rude existência, a noite tornou-se sem dúvida a sua grande companheira de solidão, é rara a noite em que ela não fique à janela contemplando a beleza que aos seus olhos lhe é oferecida. Pelas madrugadas fica embevecida a olhar a lua que com seus raios de prata faz cada ramo adquirir uma tonalidade deslumbrante e mais deslumbrante é todo aquele verde molhado pelo orvalho, parecendo fios de prata a encobrir toda a relva. e durante noites à fio, ela fica olhando o nada, com a alma envolvida pela bruma do desespero de mais uma noite de insônia e nostalgia, onde ela liberta o seu pensamento, que em louca corrida pelo espaço sai em busca do Adolfo.
E assim, após meses de sofrimento e solidão, já cansada dos seus monólogos, ela resolve viajar para Recife, precisa providenciar a festinha de dois anos da Carla. Durante aqueles meses ela havia juntado um pouco de dinheiro para esse fim. Mal sabia ela que algo iria acontecer que mudaria mais uma vez a rotina da sua vida.
Ela viaja e segue diretamente para a casa da sua tia.
- Anny, que surpresa! você sumiu mesmo, o que aconteceu?
- Nada tia. Eu apenas resolvi fugir um pouco da vida, que na verdade tem sido tão insólita. Mas e quanto a vocês, alguma novidade?
- Nenhuma... Seu tio está trabalhando e as crianças estão bem... O Valdo vai bem na escola, e o Davi tá muito cedo pra fazer isso.
Elas continuam conversando, até que chega o Aluísio, um rapaz que morava perto da d. Rita e sempre estava a perguntar pela Anny, que ele conhecera desde adolescente, o Lula, como era chamado por todos fala:
- Anny, se eu conheço o Adolfo, tão logo ele chegue de viagem, virá até aqui correndo à sua procura, apesar dele não falar muito comigo, ouvi dizer que ele só fala em vocês, eu não sei porque esse cara não assume logo e resolve essa situação de uma vez.
- Ora Lula, nada no mundo é perfeito, eu acho que não podemos querer que seja o Adolfo a exceção. Na verdade o Adolfo cresceu mas esqueceu de se tornar adulto e ao meu ver isso não consiste num defeito.
- E você ainda o defende Anny? Olha, se eu não fosse noivo, iria me candidatar, compreensiva assim não existe mais. Pelo amor de Deus menina,cai na real, desperta para a vida criatura,não se iluda mais do que os outros a tem iludido. Você nesse momento precisa

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de um homem que a apóie, e não de uma criança.
E falando assim o Aluísio se despede. Ela fica calada... ninguém entende que ela não aceita que falem mal do Adolfo. A sua tia, logo trata de mudar de assunto.
- Diga-me Anny, o que realmente a trouxe de volta ao mundo dos vivos?
- Não me diga que já esqueceu tia? na próxima semana é o aniversário da Carla, não posso deixar de comemorar, afinal dois anos só se faz uma vez.
- Puxa! como o tempo voa... Parece que foi ontem o aniversário dela, tão pequenina, mas estava linda. Como continua... até hoje.
- Anny, onde você conseguiu dinheiro pra fazer essa festa, pois eu sei que naquele fim de mundo, não tem lugar pra você trabalhar.
- Tia, além de um cheque do Adolfo que o Sandro descontou, pois o seguinte eu rasguei e mandei de volta e disse que faria o mesmo se insistisse, se tu olhar pras minhas mãos, vai ver de onde veio esse dinheiro.
- Anny, você está me dizendo que anda trabalhando na terra?
- Espantada a d. Rita toma as mãos da sobrinha entre as suas e vê as unhas maltratadas e os calos que se faziam notar e com os olhos rasos d'água murmura:
- Anny, eu lembro tanto de você, as vezes fico pensando no dia que você chegou aqui pela primeira vez, na mala muito pouco e na cabeça muitos sonhos, uma menina travessa de olhar sonhador... eu sinto uma dor no peito, pois foi aqui que começou sua história.
- Esqueça isso tia... É o destino, ninguém pode mudar, além disso a minha vida não é tão ruim como vocês pensam e outra coisa, eu não vivo me matando de trabalhar na terra, apenas eu dou uma mãozinha a d. Olindina, ela é um amor de pessoa e em troca sempre ganho alguma coisa. - Anny fica pensativa, e a sua tia a olha e sorri, jamais ela diria a verdade, ninguém poderá ajudá-la, pois o seu sofrimento, nesse momento, é sem dúvida alguma incalculável.
- Anny, me dida uma coisa. O Sandro esteve aqui, ele falou que de vez em quando vai a sua procura, mas garante que só tem procurado ajudar, é verdade?
- é verdade sim, apesar d'eu continuar sem confiar nele e ainda não perdi o medo dele, mas graças a Deus primeiramente e depois ao Sandro, temos sobrevivido, pois só


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eu dando duro não daria.
A d. Rita se vira pra Carla e fala:
E você Carla, sabia que está parecendo uma mocinha? está linda. - E pondo a menina nos braços ela passa a conversar com ela, sempre rindo das respostas engraçadas e inteligentes da pequenina afilhada.
O dia se passa rapidamente, e ao cair da tarde a d. Rita está conversando com a sobrinha, estão muito distraídas... As crianças estão brincando, o Valdo, o Davi e a Carlinha, a Sissi, cunhada de d. Rita já se retirara, quando a Anny ouve bater na porta, e diz:
- Tia, ouvi alguém batendo lá fora.
A d. Rita vai olhar quem é e volta acompanhada do Adolfo. Ela fica entre surpresa e radiante, ela não esperava vê-lo, apesar de estar desejando isso a todo instante.
- Olá Anny, como vai? e a nossa filha onde está? estou louco de saudades.
- Ela está brincando com os primos. - mas pode deixar que eu vou buscá-la, diz a d. Rita, e se afasta para deixá-los sozinhos.
Adolfo olha profundamente para ela e pergunta:
- Você voltou Anny?
- Não Adolfo, apenas vim tomar algumas providências para a festinha de aniversário da Carla.
- Será que nós poderíamos conversar um pouco Anny?
- Mas nós já estamos conversando... eu acho melhor nos mantermos afastados, nada temos de bom pra dar um pro outro.
Ao pronunciar estas palavras, o coração dela estava a chorar, ela não queria ser tão dura, mas essa era a única forma dela não voltar a se envolver com ele.
Mas ele não pensa assim, e insiste com ela, e mais uma vez consegue derrubar as barreiras de defesa que ela insistia em erguer entre eles. E mais uma vez ela é vencida, para mais uma vez sair machucada com os atos irresponsáveis do Adolfo. A impressão que a ela ficou, é de que ele precisava maltratar para sentir-se recompensado pelos anos de ausência e descaso que ela sempre reservara para ele. Mesmo assim, ela percebia que ele era na realidade um estoico e não um imaturo, o que


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deixava sem entender aquela falta de compromisso com a verdade... O que inevitavelmente o levava a não arcar com as consequências dos seus atos.
- Anny, estarei esperando-a na praia, logo mais à noite, por favor não falte, é importante o que eu tenho pra lhe falar. Também não gostaria que as pessoas soubessem que vamos nos encontrar. Torna-se mais gostoso fazer as coisas às escondidas.
- Está bem Adolfo, eu irei, muito embora eu acredite que nada teremos pra dizer que possa mudar alguma coisa entre nós.
Tão logo ele sai, ela fala com a tia que acabara de entrar, após entregar a filha pra ele que levou pra casa pra família matas as saudades, após a Anny ter consentido, prometendo que não demoraria muito com ela. Ele sai feliz da vida com a filha nos braços, rindo e brincando com a menina.
- Tia, o Adolfo pediu pra eu encontrar com ele mais tarde, lá na praia, também pediu pra eu não contar pra ninguém, apesar do pedido dele, achei melhor lhe contar. Não sei o que se passa na cabeça dele.

- Não acredito que ele esteja com pensamentos ruins, acontece que tem gente demais dando palpite na vida de vocês , e provavelmente ele teme que se você fizer algum comentário, vai aparecer alguém para dissuadi-la da decisão tomada.
- É... talvez você esteja com a razão.
Porém tão logo o seu Diva chega do trabalho, a Anny corre para ele e comenta o acontecido.
- Anny, eu concordo com a Rita, tá na cara que o Adolfo quer evitar algum tipo de problema, ele só está querendo proteger a ambos de possíveis falatórios, você sabe o povo como é, e conhecendo você você como ele conhece, sabe que você nunca tomaria uma decisão se o povo começasse a dar palpites, eu não vejo razões para você ficar temerosa, pois apesar de tudo ele lhe ama, disso eu tenho certeza.
Ela sai da sala e fica pensando no que o tio acabara de falar... E fica muito triste por ter duvidado do Adolfo... Em que ele poderia feri-la? sente vergonha, pois passara pela sua cabeça que ele poderia atentar contra a sua vida. Continua pensando e se repreendendo pela falta de confiança. Em que se transformara aquela confiança cega que ela sempre sentira por ele? Não tem resposta.


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Ela começa pensando em tudo que irá falar pra ele, e seria mais ou menos assim: - Adolfo, meu desleal amigo e companheiro, você com a sua frieza e covardia, conseguiu me despertar da minha vida de sonhos e ilusões e me fez enveredar por um mundo cruel e desumano.
Meu sonho maior muito pouco durou, dele restaram cicatrizes profundas que o tempo ainda não curou. de você obtive dores e decepções, e a amarga certeza de que quase nada restou, a não ser a resignação de uma vida tantas vezes esquecida, a saudade de um amor que foi tão bem vindo e a amargura de uma grande e solitária luta interior.
Ela fica aguardando a hora do encontro com ansiedade, o tempo parecia não passar, a angústia da espera a deixa nervosa. Mas apenas das horas parecerem se arrastar, é chegado o momento do encontro. ela se dirige para a praia, ao chegar encontra ele a sua espera. Tenta falar o que já havia praticamente decorado, porém nada do que havia pensado ela consegue dizer. Bastou um olhar dele para que num passe de mágica, ela ter tudo apagado da sua mente, a dor da desilusão, as saudades, as humilhações sofridas, as rejeições, nada mais ela conseguia lembrar, só a ele ela conseguia ver à sua frente, e de repente tudo volta a ser como começara. Intimamente ela ouvia uma voz que lhe dizia para ter cuidado mas a Anny se rende ao momento presente. O Adolfo estava ali, à sua frente... Ele não havia saído da sua mente como tantas vezes acontecera, ele era real. O Adolfo se aproxima dela e ela sente as suas mãos em loucas carícias pelo seu corpo, destruindo de vez qualquer barreira que ainda pudesse surgir. ela sente a sua língua deslizando pelo seu pescoço, como um faminto em busca de alimento. A sede do Adolfo de amar era quase implacável, e outra vez mais ela se rende as torturas daquele amor louco e desesperador.
- Anny, não posso viver sem você, não consigo pensar em outra mulher, a sua ausência é uma presença constante em minha vida, eu te vejo em tudo que a minha vista alcance. Volte pra mim Anny... Por favor volte pra mim, não suporto a ideia de não tê-la nunca mais. Não me torture, não me abandone novamente, eu preciso desesperadamente de você, a minha vida não é nada sem a tua presença.
Ela nada diz... Sente que precisa pensar, precisa de um tempo para repor os pensamentos no lugar... Caminham abraçados pela beira da praia. A Anny volta a ficar


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inquieta, a suave brisa que lhe acaricia o corpo a faz voltar a realidade. Um frio lhe percorre o corpo, e ela tem um mal pressentimento, mas pela primeira vez tenta ignorá-lo.
Eles se despedem próximo a cada da tia dela. A Anny sente um aperto no coração, porém a alegria que brotava em sua alma não a deixava raciocinar com clareza.
- Tia você não vai acreditar no que eu vou lhe falar, mas o Adolfo me pediu pra voltar, ele disse que não vai saber viver sem mim, mas eu tenho medo, algo me diz que mais uma vez não vai dar certo.
- anny minha filha, não seja tão pessimista, talvez ele esteja arrependido de tudo quanto já lhe fez, acredito que dessa vez vai dar certo, pois eu tenho certeza que ele realmente lhe ama, e olhe minha querida... são anos amando-a. Você foi o primeiro amor da vida dele, e isso marca muito, creio que ele jamais amará assim.
- Disso eu sei... ele já cansou de me falar que não existe mulher no mundo que faça ele me esquecer, e eu acredito, pois jamais haverá um homem que me faça esquecê-lo. E mesmo assim eu estou pensando em dar um tempo, não acho legal embarcar nessa história mais uma vez sem ter convicção do que realmente ele quer pra nossas vidas.
Aquela noite ela não consegue dormir. O dia amanhece e no decorrer do mesmo ela não vê o Adolfo, a não ser rapidamente, quando ele passa por lá pra dar-lhe um beijo e dizer-lhe que estava muito feliz, e que ele havia dormido como há muios meses não fazia. Despede-se dela e diz que mais tarde estará de volta, pois tem uns assuntos para resolver. Ela se sente assustada com o desenrolar dos acontecimentos, e o que mais a aflige é aquele sentimento novo que brotara em seu coração naquelas poucas horas, que parece que vai arrebentar dentro do seu peito. Mas ao olhar para a filha sorri. Ela agora iria ter o pai por perto.
Era sábado... Pela primeira vez ela não implicara com o sol durante toda aquela manhã. E em seu eufórico estado de espírito, sentia que aquela tarde ensolarada a embalava em um mundo de sonhos e ilusões, mesmo que vez por outra um aperto no coração tirava-lhe o sorriso dos lábios.
a Anny estava reunida com os tios na sala, conversando, quando subitamente ouvem uma

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voz alegre que diz:
- Boa tarde! Posso participar da reunião?
- Adolfo, que surpresa boa! - Fala o tio da Anny e continua:
- Fique a vontade, temos o maior prazer, entre, por favor.
Ele entra, dá um beijo na filha, e fala rapidamente com os demais. se aproxima da Anny, toma seu rosto entre as mãos, a após dar-lhe um rápido mas comprometedor beijo diz;
- Foi ótimo encontrá-lo seu Diva, estou precisando conversar com o senhor
- Mas é só se acomodar e conversaremos o tempo que você quiser.
Tão logo ele se senta, a Anny pega a filha pela mão e em companhia dos tia e dos primos, saem da sala deixando-os a sós.
- Muito bem Adolfo, o que você tem pra falar?
- Sabe seu Diva, é que eu e a Anny resolvemos voltar, sabe como é, por mais que eu tente enganar a mim mesmo, não adianta, não consigo viver sem ela, ela é importante demais na minha vida.
- Fico feliz com isso Adolfo, você sabe que eu adoro a minha sobrinha e não gosto de vê-la sofrendo, espero sinceramente que dessa vez seja realmente sério e que dessa vez dê certo, e sabendo o quanto você gosta dela só tenho que torcer pela felicidade de vocês.
E logo seu Diva chama a Anny para felicitá-la pela decisão que eles tomaram.
- Anny, estou muito feliz com a notícia que o Adolfo acaba de me dar,nada poderia ser mais gratificante do que sabê-la amada e protegida, e quero desejar toda a felicidade do mundo pra vocês.
Todos comemoram aquele momento de intensa alegria que estão sentindo, só a anny permanece um pouco calada, quando o Adolfo se despede dela e dos demais, prometendo voltar Um logo mais à noite, ela tenta mostrar aos tios os seus temores,porém segundo eles, não havia razão para tal. E assim ela se cala, mas tendo consigo a certeza de que mais uma vez iria sair machucada.
E por mais triste que fosse, ela estava certa.
À noite, ele volta radiante, mas, em seu íntimo ela insistia que havia alguma coisa errada, porém por mais que se esforçasse não conseguia perceber o que era.
- Oi anny, e a nossa filha?


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- Está dormindo, ela acorda muito cedo,por isso também dorme cedo demais.
A Anny sai de dentro de casa com o Adolfo e ambos sentam na calçada e começam conversando, e de repente eles sentem como se o tempo nunca tivesse passado... Revivem o tempo da adolescência, até que ele diz que não vai demorar porque tem um assunto pra resolver.
- Anny, quero ter a certeza de que você não desistiu de ficar comigo, você sabe que eu preciso de você, e quero que volte o mais rápido possível, eu não me sinto seguro tendo-a longe de mim.
- Olhe Adolfo, não me sinto segura o bastante para dar-lhe essa certeza no momento, mas amanhã voltarei para o interior, para organizar a festinha da Karla, logo após o aniversário dela eu lhe darei uma resposta... Tenho dúvidas quanto a sua decisão, há alguma coisa que não me tranquiliza, e eu ainda não sei o que é... Temo o que me espera o amanhã.
- Anny, não vejo por que você deva se preocupar ou temer... não posso esperar por sua resposta, eu só posso esperar por você, e nunca esqueça o que vou lhe dizer agora... Eu a amo muito mais do que você possa imaginar, e nunca deixarei de amá-la, e eu sei que jamais haverá uma mulher que me faça sentir assim... é que ao seu lado eu me sinto homem e adolescente... E tenha certeza... Apenas você me completa, e só com você me sinto no paraíso, mesmo que dentro do inferno. Não Anny, nunca mulher alguma terá esse poder sobre mim.
E dizendo isso ele a beija com sofreguidão, depois se despede e vai embora.
Na manhã seguinte ela sabe que não vai ver o Adolfo, então ela resolve ir logo pra casa da sua mãe a d. Rejane,e aproveitará para encomendar o bolo, os doces e os salgados para a festinha da Carla.
- Olá minha gente! como vão todos?
a alegria era geral, todos estavam com muitas saudades delas, principalmente da Carla. E após passarem algumas horas na maior folia, a Anny vai resolver os assuntos que a levaram até Recife, as coisas da festa da filha. E assim que ela termina tudo, resolve voltar pro interior, a d. Rejane discorda, pois acha que não dará tempo de pegar o último ônibus. Ela resolve não perder mais tempo, assegurara a d. Rejane que se perdesse a condução, tomaria um outro com destino a Caruaru e desceria no caminho, lá nunca faltava carro de aluguel. Todos ficaram felizes com a decisão do Adolfo, a parabenizam e ela sai rapidamente para a


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rodoviária. Porém a sorte não estava do seu lado. Ela realmente perdeu o último ônibus com destino a Bonito, e assim teve que pegar um que ia pra Caruaru. Desceu em Bezerros e se prepara para pegar um carro de aluguel quando fica sabendo que saíra um há pouco tempo, e é informada que o último vai demorar um pouco. Ela fica esperando e quase três horas depois, com a noite fechada, vê um carro se aproximando, aliviada pergunta ao motorista o destino do mesmo.
- moço. pra onde vai esse carro?
- O destino quem diz é o passageiro.
Anny sente medo... Há mais dois homens além do motorista, mas logo este a faz se decidir, quando lhe diz que aquele é o último carro naquela noite, e que não havia mais nenhum na praça.
Quando ela entra, sente um tremor lhe percorrer o corpo. A Carla está dormindo, e logo o motorista sai em alta velocidade. Receosa ela pede que ele vá menos rápido.
De repente ele pára o carro e diz:
- Pessoal, tá na hora da diversão.
No mesmo instante ela escuta um outro homem falando: - acende a luz, vamos ver a mercadoria que nós conseguimos.
E logo trata de passar as mãos nas pernas dela. Ela sente-se gelar de terror do que possa lhe acontecer, e sem ter muitas chances de defesa fica apavorada. Então ela lembra que está com a filhinha nos braços e de que a mesma corre perigo, fecha os olhos e vê a imagem do Adolfo, sente uma estranha sensação de poder, pede a Deus que a ajude e decidida enfrenta os canalhas.
- Olhem, eu não sei o que se passa pela cabeça de vocês, mas seja lá o que for, em nome de Deus eu lhes peço, vamos continuar a viagem por favor. Eu tenho certeza que vocês têm mulheres em suas famílias e não iam querer que qualquer uma delas passasse por isso. Talvez vocês tenham bebido um pouco mais do que deviam, por isso estão agindo assim... eu só peguei o carro porque eu pensei que fosse de aluguel, não sou o tipo de mulher que vocês estão pensando.
- Tudo bem, desça! - Fala o homem que acendera a lus interna do carro.
- Moço, está muito frio lá fora...


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- Vamos dona, desça!
- Não posso moço, faltam muitos quilômetros até a minha casa, e a minha filhinha está dormindo.
- Dona, tá se fazendo de inocente é? então a senhora acha que a gente com uma mercadoria dessa não ia se divertir?
O rapaz que falara com ela volta a insistir.
- Dona, desça...
- Que é isso cara, tá caindo na conversa dela é? - Fala o cara que tentara alisá-la. e continua: - Eu não acho que a gente tenha que deixá-la sair assim... Ela tem que pagar a viagem interrompida.
- Tubo bem, quanto lhes devo?
- Não tô falando de dinheiro dona. - E lascivamente passa a língua pelos lábios. - E diz:
- Ela tem que sentir como nós somos bons de boca e de outras coisas mais.
Ela fica enojada com os modos grosseiros daquele infeliz.
Então o motorista olha pra ela e diz:
- Desce moça e te manda.
ela desce rapidamente e apertando a filhinha nos braços começa a andar rapidamente de pista à fora, enquanto ouve vozes alteradas que vinham do carro, de repente escuta gargalhadas e ouve o motorista gritando:
- Cuidado moça, eu não garanto que amanheças viva nesse asfalto.
Apavorada ela tira os sapatos e se põe a correr. Ouve o barulho do carro acelerando, ela desce pelo acostamento e se embrenha mato à dentro. Permanece quieta agarrada a filha, pedindo a Deus que não a deixe acordar. Fica ouvindo o carro passando devagar e voltando em seguida do mesmo jeito. Sabe que a estão procurando, tenta ficar escondida o máximo que pode. Sente medo que eles tenham desistido de deixá-la escapar... E mais desesperada ela fica, ao lembrar que há poucos dias, foi encontrado um corpo de mulher naquela BR. Ela havia sido estuprada e morta. Chora baixinho abraçando a filha com força, mas ela não acorda. Nisso ela ouve o barulho do carro se distanciando. Haviam desistido de persegui-la.
Ela não sabe precisar quanto tempo ficou escondida no mato,mas sabia que havia demorado muito, sentia-se fraca, todo o seu corpo doía, e nisso ela se lembra das palavras de um


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velhinho a muitos anos atrás, quando este lhe dizia para ter cuidado, pois o asfalto poderia ser seu fim. Ela chora desconsoladamente. levanta-se devagar e com cautela vai se aproximando outra vez da pista. Nada vendo, ela sobe o barranco e se põe a caminhar. De repente ela ouve um barulho de carro, desta vez é um caminhão. Ela é iluminada pelos faróis do mesmo. O motorista pára e pergunta:
- Precisa de ajuda moça?
Ela olha assustada para o homem e pergunta:
- O senhor seria capaz de me ajudar sem querer nada em troca?
- Olhe moça, não sei o que lhe aconteceu, mas eu não costumo tomar nada à força, e além do mais a senhora tem uma criança nos braços, eu não sou nenhum monstro que não respeite ao menos isso.
E assim dizendo, o homem desce do caminhão a ajuda a Anny a subir. Nada ele pergunta, apenas diz:
- Onde der pra senhora me avise que eu paro.
- Obrigada moço. - E em poucas palavras ela faz um breve resumo dos aterrorizantes momentos passados.
- É a senhora foi louca,mas Deus acaba ajudando a quem precisa, e Ele não ia permitir que acontecesse nada de ruim a vocês, já que a senhora nunca poderia imaginar o que lhes reservava a noite.
E após dizer isso ele calou-se até o final da viagem.
- É aqui que eu fico moço, muito obrigada por tudo, eu não sei o que seria de nós se não fosse a sua ajuda.
- Não precisa agradecer moça, além disso a senhora iria conseguir ajuda, ou condução normal, pois já está perto de amanhecer.
Anny fica observando o caminhão prosseguindo a viagem, até que este desaparece do seu campo de visão. Ela se encaminha lentamente pra casa. Está exausta, ao entrar vai logo fazer o mingau da filha. A Carla acorda, tão inocente, não tem a mínima ideia do risco que passou, mas o cansaço da pequenina era grande demais, o que não permitiu que ela tivesse acordado. Dá um banho na filhinha, dá o mingau e ela volta a dormir. Anny toma um banho e vai para a cama, mas permanece acordada... Pensando em tudo o que passara.


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Um pouco mais tarde a d. Olindina procura a Anny e diz que a esperou muito e não a viu chegar.
- É que eu cheguei um pouco tarde. Mas tudo correu bem, graças a Deus. - Um leve tremor a assalta ao lembrar a noite anterior. Mas ela conversa sobre o aniversário da Carla, tentando não pensar nas coisas ruins que lhe acontecera.
- Você vai ver que tudo vai dar certo minha filha, confie em Deus.
A Anny pede a ajuda do seu tio, o Sandro , para ir buscar o material da festinha da Carla.
Ele deixa tudo acertado, o dia e a hora que irá passar por lá pra pegá-las.
Os convites já haviam sido distribuídos, que na verdade foram poucos, pois era uma festinha só para algumas pessoas. De Recife só vinha a Louise, tenha também a d. Olindina, a filha e os netos, a avó da Anny, e mais alguns conhecidos. No dia combinado o Sandro chega, pega elas e vai pra Recife. Conseguem resolver tudo rapidamente, pois a Louise já havia adiantado tudo. depois de acomodarem o bolo, os doces e os salgados, ela pega o restante do material com a Louise e voltam rapidamente pro interior.
O dia seguinte pela manhã a Anny não pára de trabalhar, mas deixa tudo bonito e organizado, e ela terminou mais rápido quando a Louise chegou e passou a ajudá-la. No meio da tarde os convidados começaram a chegar. A festinha foi bastante agradável. A Carla,muito feliz, não parava em lugar nenhum. Após o término de tudo, todos se foram, restando apenas a Louise que iria no dia seguinte logo cedo.
- Puxa como foi legal Anny! eu não pensei que eu fosse gostar tanto. Foi simples, mas muito bonito e divertido também. Eu adorei tudo, só faltou o Adolfo. E por falar nele, quando é que você vai voltar?
- Não sei ainda Louise, eu ainda preciso pensar.
Elas continuam conversando, depois de tudo limpo e arrumado, a Louise vai tomar banho enquanto a Anny ajeita a Carla. Tudo pronto, após conversarem mais um pouco, elas vão dormir, pois a Louise vai viajar logo cedo, no primeiro ônibus.
Amanheceu! Ela acorda com o barulho dos pássaros, chama a irmã que já havia deixado


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tudo pronto, pois caso contrário não daria tempo. A Louise se despede da irmã e da sobrinha e parte. Nisso uma estranha inquietação invade o espírito da Anny, e naquela mesma noite acontece algo que muda novamente a rotina da vida delas.
O dia havia amanhecido já há bastante tempo, e a Anny ainda não havia acordado, então a Maria,filha da d. Olindina, estranha muito o fato e começa a chamar, pois sabe que ela não viajou.
- Anny, acorda! - E a Maria começa a bater na porta com força, mas não consegue acordá-la, e como ela descobriu que havia anormalidades em volta da casa, começa a esmurrar a porta e a gritar, e depois de muita insistência, a Anny termina acordando, abre a janela da frente e pergunta:
- Maria, estás ficando maluca é? que gritaria é essa?
- Maluca? venha até aqui e veja o que aconteceu.
- Muito bem Maria, me diga o que está acontecendo para você fique feito uma louca, gritando debaixo da minha janela.
- Então você não ouviu eu bater na sua porta?
- Não, é claro que não, senão eu já teria atendido.
- É estranho... Muito estranho, pois eu quase derrubo a porta e você que tem um sono tão leve não ouviu nada.
- Finalmente o que é que há de estranho, e o que estás a fazer com esse pedaço de caibro na mão?
- Anny, esse pau foi usado para abrir a sua janela, mas graças a Deus ela é muito forte e não conseguiram.
- Maria, você não acha que está exagerando? Imagine se isso é possível, eu teria acordado.
- Aí é que está o problema, já é tarde, o sol já vai alto, fiz um barulho danado pra lhe acordar e quase não consigo, e você costuma levantar assim que o dia amanhece, e uma hora dessa, você ainda tem o rosto de sono... E mais, venha olhar a sua janela de lado.
Anny se dirige para o lado esquerdo da casa e se assusta com o que vê.
- Meu Deus! Maria o que significa isso? - Pergunta ela assustada.

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- Alguém tentou entrar em sua casa essa noite, mas como as portas e as janelas são muito fortes, não conseguiram... Só acho estranho você não ter escutado nada disso.
Anny de repente parece despertar daquele estado de languidez e corre para dentro de casa, vai até a cozinha beber água, e dá um grito cheio de horror. Maria entra correndo espantada.
- Maria, tentaram entrar pela cozinha.
Anny, quem poderia ter feito uma coisa dessas?
- Não sei... Talvez o Sandro, você sabe como ele é moleque. - Ela jamais ousaria comentar quem era o Sandro na realidade.
Maria olha pra parede da cozinha e vê as marcas de barro e diz pra Anny.
- Isso não é armação do seu tio. Acho melhor você ir a delegacia e dar parte, eu acho que alguma coisa de muito ruim estava para lhe acontecer. Tenha certeza que não foi o seu tio.
E dizendo isso ela se aproxima mais pra olhar de perto a parede e descobre um par de sandálias no meio das garrafas, ela apanha as sandálias e diz:
- Quem tentou entrar aqui só não o fez com medo das garrafas. A cozinha é muito alta e uma queda em cima dessas garrafas seria um estrago muito grande. Por isso desistiram de entrar, isso é que é sorte minha amiga, dê graças a Deus.
Anny se aproxima de Maria, pega as sandálias e diz:
- Deixa Maria, tenho certeza que o Sandro só queria me mostrar que aqui eu não estou segura.
- Então você acha mesmo que foi o Sandro?
- Mas é claro Maria, quem mais poderia ter feito isso.
- Uma porção de gente Anny. Você uma mulher muito bonita, nova e sozinha, não tem segurança nenhuma. Muitos gostariam de se aproximar de você e você sabe muito bem disso.
- Não fique imaginando coisas Maria, tenho certeza que não é nada disso do que você está imaginando.
Anny pega a Maria pelo braço e a dirige para fora dizendo:
Vou tomar um banho e vou até a casa da minha avó falar com o Sandro, tenho certeza que ele vai ter muito o que me explicar.

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Ela toma banho, ajeita a Carla e vai pra casa da d. Catarina, lá chegando vai logo perguntando pelo Sandro.
- Vovó, onde está o Sandro? e esta sandália é dele?
= O Sandro está viajando minha filha, mas por que você está procurando ele? o que ele fez? e por que você acha que essa sandália é dele?
Ela conta pra avó o que aconteceu, mas a d. Catarina diz que o Sandro seria incapaz de fazer aquilo. A Anny inconformada vai embora. Ela acha que a avó está protegendo o filho.
Revoltada ela toma uma decisão. E assim, naquele fim de semana, ela dá fim aos poucos móveis e vai embora pra Recife. Ela vai direto pra casa da sua tia, a d. rita. Anny só ficou com pena da d. olindina, mas o medo foi mais forte e além disso, havia o Adolfo que estava esperando por ela, e apesar de ainda se sentir insegura quanto a esse assunto, decidiu voltar pra ele.
A d. Rita ficou muito feliz com o regresso da sobrinha. Ela ficaria morando com ela até o dia que o Adolfo as levaria com ele. O Adolfo quando viu a Anny, ficou extasiado, nada a ela ele perguntou, apenas a recebeu feliz da vida.
Os dias foram se passando e o Adolfo sempre ia à casa da d. Rita, ao chegar cobria a Anny de beijos, punha a filhinha nos braços e ficava fazendo planos para o futuro.
- Minha querida, estou voltando amanhã. A minha licença está acabando. Vou olhar se a casa já está pronta, pois faltava pouco para terminar a reforma. é uma casinha pequena, mas eu tenho certeza que você vai gostar. Tem um jardim muito bonito. ela será perfeita para nós três.
Nesse momento ele a beija longamente e olhando bem dentro dos olhos dela murmura:
- Anny, haja o que houver nunca esqueça que eu amo desesperadamente e não quero perdê-la nunca, não me deixe jamais.
Torna a beijá-la e volta a dizer:
- Nunca esqueça Anny, eu a amo ... És o maior tesouro que eu tenho.
Adolfo se vai, ela fica pensando nas palavras dele e sente que alguma coisa estava errada. Algo estranho paira no ar. Por que tanta insistência em se sentir seguro sobre ela. Volta a pensar e continua sem entender. "Haja o que houver, nunca esqueça,


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eu te amo, e logo estarei de volta para levá-las.
Talvez no retorno dele, se ela tivesse deixado ele se explicar, as coisas não tivessem acontecido como aconteceu.
Dias depois ele volta. Ela corre para recebê-lo e o encontra brincando com a filhinha.
- Anny, eu gostaria de ter voltado antes, mas só agora eu pude. A casa ficou linda, está à nossa espera.
Então a Anny vê o Adolfo levantar-se, pois se agachara para falar com a filha. Se aproxima dela e levanta as mãos para tomar seu rosto entre elas e beijá-la como sempre fazia. Mas nesse momento que ela vê uma aliança no dedo dele... Imediatamente ele é repelido, e ela indaga o por que de tanta covardia. Pede-lhe uma explicação, mas não o deixa falar, começa a ofendê-lo, sem dar-lhe qualquer chance de defesa.
- Anny, eu pedi a você que confiasse em mim, eu lhe disse o quanto a amo. - Mas ela não o deixa falar.
- Você está me usando Adolfo, você me mentiu, você mais uma vez me enganou.
- Anny, não é nada do que você está pensando, eu estou noivo, mas eu amo você, tudo isto estará acabado logo mais... Por favor confie em mim...
Mas ela não o deixa continuar, desesperada ela o manda ir embora. Ele ainda tenta falar mas não consegue, ela não deixa.
- Anny, eu vou embora, quando você esfriar a cabeça eu volto, para conversarmos e você verá que eu não estou fazendo o que você.
Ele se vai.
Anny pega a filha e diz pra d. Rita que vai pra casa da mãe. A d. Rita olha penalizada pra Anny e pergunta:
- Quando você volta minha filha? - Ela diz que não vai mais voltar.
Arruma as malas dela e da filha, se despede da tia e diz:
- Tia, se o Adolfo voltar peça-lhe pra me dar um tempo.
Anny pega o ônibus e se dirige para a rodoviária... Mais uma vez vai fugir... A única coisa que ela consegue fazer.
Compra uma passagem pra São Paulo, pois a Carla ainda não paga. Carimba a passagem

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pois precisa de autorização pra levar a filha. Tudo resolvido com o comissário do juizado de menores. Ela agradece e vai embora pra casa da d. Rejane. Ainda na rodoviária, ela olha com amargura pra passagem que tem nas mãos. Ali está o início de mais um capítulo da sua história sem o Adolfo.
Ao chegar a casa da mãe todos fazem a maior festa... ela muito tranquila diz:
- Mamãe, estou indo pra São Paulo depois de amanhã.
A d. Rejane olha espantada pra minha e sem entender nada lhe diz:
- Anny, o que está acontecendo? você não ia casar com o Adolfo? o que houve dessa vez? seja lá o que for, lembre-se que você tem uma filha e não pode tomar certas decisões, ela tem um pai, e as coisas agora será mais difícil.
Ela sem entrar em detalhes diz que já comprou as passagens e que mais uma vez não deu certo... Só isso.
- Tenho algum dinheiro, dá pra nós duas passar algum tempo, até eu arrumar um emprego e um lugar pra ficar.
É inútil os pedidos da d. Rejane e do Márcio seu irmão, as irmãs dela choram, pedem, mas é inútil.
No dia seguinte ela vai passar o dia na casa do seu tio, o Neto, o seu tio se entristece quando ela em poucas palavras conta pra ele o que tinha acontecido. O Tio fica muito triste, pois ele gosta muito do Adolfo e achava que aquela história teria um outro rumo. Bem diferente do que estava acontecendo.
Com o passar das horas, acabam esquecendo aquele triste incidente, já que a Anny, aparentemente demonstrava que aquilo tudo não a tinha afetado tão fortemente.
Quando já está perto dela voltar pra casa da mãe, seu tio s chama e diz:
- Anny, venha cá minha filha.
- Pois não, o que desejas? pede-me e farei. - Ele sorri triste e diz:
- Vou colocar uma música pra você, e tenho certeza que nunca esquecerás o dia de hoje.
- Ah! tio, eu duvido que isso possa acontecer... Vamos, coloque a música.
- Está bem, já que a senhora é durona.
E ele coloca o "Ultimo telefonema" de Agnaldo Timóteo. ela tenta desesperadamente não pensar em Adolfo, mas não tinha jeito, a letra da música falava por ela. O Adolfo

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parece surgir à sua frente. ela chora... Chora num desespero de cortar coração. Seu tio vai tirar o disco, mas ela não deixa. escuta uma vez... Duas... Três... Dezenas de vezes. Ela sente como se um punhal estivesse atravessando seu peito. O Adolfo jamais saberia o quanto seu coração estava a sangrar e que isso aconteceria pela vida à fora.
Chegado o final da tarde ela se despede... pega a filha e volta pra casa da mãe, e no dia seguinte a tarde ela irá embora mais uma vez da vida do Adolfo.
Segunda-feira, o dia amanhecera bonito para todos, menos para a Anny, era talvez o mais sofrido dia de todos que nos últimos tempos ela tenha vivido.
A d. Rejane se despede da filha e da neta e entrega para elas um pequena quantia para ajuda nas despesas dela até se estabelecerem por completo, e a Anny tinha consciência de era uma pequena fortuna que a d. Rejane vinha juntando.
Suas irmãs se despedem logo cedo, pois iam trabalhar, a única que iria acompanhá-la era a Paula. O único pedido da Anny para a família é que não dissessem ao Adolfo pra onde elas tinham ido.
A noite avança,e dentro dela a bruma envolve o destino de duas criaturas que impelidas pela mão do destino, partem rumo ao desconhecido. Ela olha para a filha e começa a ter diante de si o desfile dos últimos e amargos dias, e começa a pensar:"Será que se eu não tivesse sido tão arredia e incompreensível, e menos Tola e infantil, o Adolfo teria agido diferente? e o que ele estava querendo dizer com "estou noivo, vou me casar, mas não é o que você está pensando, eu a amo, por Deus Anny, eu a amo, jamais faria isso com você, esse casamento não vai acontecer... Por Deus, me escute..."
Mas ela não quis escutar o Adolfo... As lágrimas começam a descer e ela pega uma caderneta e começa a escrever, apesar da dificuldade que encontrava por estar no ônibus.
" O teu erro Adolfo, foi crer que eu era tudo pra você e o meu erro foi em não conseguir lhe mostrar que eu nunca seria o que você queria. Entre nós começou tudo errado. Com o passar dos dias comecei a me sentir como você desejava. então começou o inevitável... Você descobriu que tudo era um sonho, uma louca fantasia... e o

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pior... Eu já estava achando que tudo era uma doce e grande realidade.
Continuamos nesta farsa... Você vivendo um sonho que já estava fazendo parte do seu dia a dia, e eu vivendo uma realidade que não passava de um sonho.
Então foi quando surgiram pra você as amarguras e as brutais verdades, para mim, o pesadelo e as desventuras...
Desesperada busco respostas e encontro mais perguntas, procuro soluções e me vêm mais problemas. Sei que tanto fugir mas sempre me sinto acorrentada, quero sentir-me livre, mas sei que jamais deixarei de ser prisioneira desse teu louco amor, também sei que jamais conseguirei viver, pois só terei como existir... Voltar a amar, serei incapaz, e quando eu estiver fazendo caretas, é porque esta será minha única forma de sorrir, pois já não mais sorrirei com a alma. E nesse louco desespero me surge a pergunta... Até quando Adolfo... Até quando estarás em meu corpo, em minha mente e em tudo que eu venha a tocar, ver e sentir?


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JÁ ESTÁ DISPONÍVEL O VII CAPÍTULO

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