sábado, 18 de fevereiro de 2012
DE VOLTA AO PASSADO CAP: IX
"Quero apenas que saibas que eu te amo com devoção, e tenho certeza que por isso, apenas por isso não fiz o que meu pai sugeriu, ir em tua busca, partir para Recife, seria difícil, mas não impossível te achar, mas eu preferi guardar a minha dor, e esperar, pois se o tempo e os céus permitir ainda a terei só para mim.
E nunca esqueça... Eu te amo, te amo com loucura, te amo com paixão, e estarei aqui a tua espera, é só me querer.
Receba nesse momento o amor de quem nunca devia tê-la conhecido..."
CONTINUAÇÃO
IX CAPÍTULO
O dia está bastante ensolarado... Mas para a Anny, nele não há beleza, passou a noite sem dormir, mais uma de tantas. A angústia se intensificou, o desespero se alojou de tal forma, que em muitos momentos ela não distingui mais entre saber-se viva e existir. Um barulho ao longe parece despertá-la daquele torpor. E sem muito pensar ela se atira nos braços do passado tentando salvar um pouco que seja dos seus pensamentos , que nem o tempo consegue desgastar. Tantos anos se passaram, mas para ela parece que foi ontem que tudo aconteceu... Que tudo se fez... E ela continua a buscar vida no que já está morto. Mentalmente volta no tempo... Tempo... Seu pior inimigo.
o dia amanhecera lindo... Anny contempla embevecida as abelha a sugar o pólen das flores, tudo parece embalado pelo som dos pássaros, que em concordância leal parecem dar um concerto em sua homenagem. Vez por outra ela olha para a filha que está a correr por entre plantas em perseguição às borboletas. Nesse momento a Anny começa a pensar sobre a carta que recebera da Lourdes. Nela ela fala que a Graciete está bem, só que a d. Emília está um pouco adoentada. Fala do Cezar que não se conformou por ela ter ido embora, pois para ele, saber que ela estava por perto ainda o fazia acalentar esperanças. porém o que deixou ela triste foi saber notícias do Guilherme, ois ele não se conformou com a fuga dela e implorou desesperadamente a ela pelo endereço da Anny, mas a Lourdes mentira dizendo que a Anny ficara de escrever. Havia porém, uma carta dentro da carta da Lourdes que deixou a Anny muito abalada. Ela apegara pra ler várias vezes, sua aflição se acentuava por não saber o que fazer da sua vida, já que se dava sem nada esperar a quem com ela só queria brincar... Em troca deixava sair da sua vida aqueles que lhe acenavam com a possibilidade de um dia se sentir feliz.
"Anny, eu sei que suas razões superam o meu desespero justamente por eu não querer ser o empecilho que irá levar de ti a tua felicidade... A tua alegria de viver. Porém se em algum tempo, precisares de consolo, lembra-te deste que tudo te dará sem pedir nada em troca, apenas que se deixe amar, pois assim compreenderás que o verdadeiro amor ainda consiste em dar sem receber.
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Fiquei enlouquecido ao voltar e descobrir que tinhas ido embora, nem sequer me esperaste para uma despedida. mas fizeste bem, pois eu nunca iria permitir que saísses assim da minha vida... Amo-a Anny, como nunca amei na minha vida e sofro pois sei que este amor será desperdiçado pelo tempo. Este amor é teu a ninguém mais o darei.
Quero apenas que saibas que eu te amo com devoção, e tenho certeza que por isso, apenas por isso não fiz o que meu pai sugeriu, ir em tua busca, partir para Recife. Sei que seria difícil, mas não impossível te achar, mas eu preferi guardar a minha dor, e esperar, pois se o tempo e os céus permitir ainda a terei só para mim.
E nunca esqueça... Eu te amo, te amo com loucura, te amo com paixão, e estarei aqui a tua espera, é só me querer.
Receba nesse momento o amor de quem nunca devia tê-la conhecido...
A carta não terminava ali, ms ela não teve coragem de continuar... Esta chegara num momento onde a aflição fazia parte do respirar dela.
De repente ela deixa as suas lembranças vagando e começa a analisar os últimos acontecimentos e sente que toda a sua tranquilidade se escoa por entre os fragmentos das recordações que povoam a sua mente. Ela sente a tempestade se formando dentro de si.
À noite havia sido uma sucessão de pesadelos. O George havia partido. O Adolfo está para chegar e algo lhe dizia que ela não iria ter boas recordações daquele final de semana.
Nesse momento a Paula vai se aproximando e a Anny lhe pergunta:
- Paula, você não está sentindo o ar pesado, como se este prenunciasse alguma coisa ruim?
- Sinceramente Anny, você etá impressionada, mas eu tenho certeza que tudo vai dar certo. O George se foi, mas você está aqui e tem que seguir em frente. Mais tarde o Adolfo vai chegar, então vocês aproveitem e saiam um pouco, e procurem se distrair.
A campainha toca, a Paula vai atender e deixa a Anny absorta em seus pensamentos.
- Anny, é o padre Bruno, ele veio lhe visitar.
Ela se atira nos braços do padre murmurando:
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Oh! Bruno... Como fico feliz em revê-lo, você andou sumido. Mas venha, nos faça companhia à mesa, ainda não tomamos café.
- Não Anny, obrigado, já tomei café... Minha filha, eu ando muito ocupado, mas eu precisava ver você e a sua pequenina. E minha querida como vocês estão? Você me parece preocupada, sinto-a intensa, o que tanto a inquieta?
- Para ser sincera Bruno, eu não sei, sinto-me como um náufrago em busca de uma tábua se salvação. Estou na realidade desesperada, perdida e sem saber que rumo tomar. Sinto que alguma coisa ruim está para acontecer e tenho a certeza que vem da parte do Adolfo.
- Você pode me contar tudo o que está acontecendo, e o que a faz sentir-se tão insegura?
Ela lhe conta o ocorrido das últimas semanas, ele calado escuta tudo e ao final da narração diz:
- Minha filha, talvez seja porque você não consegue mais confiar nele, mas tudo isso resulta dos desencontros de vocês dois. Possa ser que você esteja assim também pela partida do moço, o George. Tudo isso está contribuindo para atemorizá-la. Mas Anny, eu nãoacho certo sofrer por antecipação,e é justamente o que está acontecendo com você.
- Mas Bruno, estou só, se ao menos você estivesse comigo por perto na ocasião da chegada do Adolfo.
- Olhe minha filha, se isto lhe dá mais confiança, logo mais a noite estarei aqui, está bem assim?
- Oh! Bruno, você é realmente o meu anjo.
O padre Bruno fica rindo, beija a Carla e a mãe e sai em companhia da Paula.
Anny fica um pouco mais calma, mas intimamente, ela se sente como uma condenada prestes a ser executada.
A noite chega trazendo mais inquietação para ela. O dia fora na verdade um tormento, tudo o que ela já tinha vivido com Adolfo e por causa dele lhe vieram a mente nas últimas horas. Ela lembrara até de uma vez quando ele estivera internado, na ocasião ele havia se submetido a uma cirurgia, e seguindo um conselho da d. Rita, a mãe do
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Adolfo, decidiu ir visitar o mesmo. Ela foi sozinha ao hospital, foi levada ao quarto dele por um sargento, ele estava internado no hospital do exército. Ela por um momento se sentiu feliz... Não por ele se encontrar em um leito de hospital, mas porque ela estava revendo-o. Seu sorriso permaneceu nos lábios, mesmo após ele lhe dar um débil sorriso, mas tudo era justificável, ele ainda estava em convalescença, mas de repente o sorriso dela se transforma em uma fina linha de amargura. Sente que a palidez lhe cobre as faces, o Adolfo com indiferença acaba de apresentá-la como uma amiga, E naquela época estávamos estremecidos, mas havia muito mais do que uma simples amizade... Eles eram muito mais que isso... Até já tinham uma filha.
Aquele amiga soara num tom de desdém, de pouco caso, alguma razão havia pra ele querer esconder daquele moço quem era de fato a Anny. Após essa desfeita do Adolfo, ela ainda consegue passar mais alguns minutos naquele quarto, logo depois deseja-lhe um pronto restabelecimento, beija-o e se retira. Saindo dali, se dirige a um lugar bem próximo, o parque treze de maio, ali chora toda a sua mágoa e toda a sua revolta. Ele a conhecia bem e sabia que a magoara, pois entendia que ela era sensível demais, e mesmo assim não se importara em magoá-la daquele jeito, seria tão simples apenas falar-lhe o nome... Nada mais.
Ela continua rememorando todos os acontecimentos daqueles anos, e estranhamente já se sentia , sabia magoada que o Adolfo mais uma vez ia feri-la.
Ao cair da noite, ela está completamente desesperada, a angústia daquelas ultimas horas, não havia deixado ela admirar o lindo cenário daquele fim de tarde, que morria lentamente para dar vida à noite com seus encantos e mistérios.
Então de repente ela percebe que terá que desaparecer da vida do Adolfo,mesmo contra a sua vontade, para que ele pudesse finalmente, descobrir os encantos da vida... Sem ela, sem essa eterna adoração pelos encantos da incompreendida Anny.
O momento tão esperado chegou. Nesse momento ela se encontra na cozinha preparado o jantar. Ele se aproxima e a beija no pescoço. Ela sente um tremor lhe percorrer o corpo, e não sabe definir se é de prazer ou de medo pelo que certamente virá.
- Anny, vamos sair um pouco? Quero ficar sozinho com você... Quero que passemos bons e agradáveis momentos, e também conversarmos um pouco. Vamos?
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- Meu Deus! É chegado o momento, ele não quer falar com tanta gente por perto. – Pensa a Anny.
- Acho bom ficarmos aqui mesmo Adolfo, você chegou de viagem, está cansado... Porei o seu jantar e conversaremos.
- Obrigado minha querida, mas a fome que eu estou sentindo você não pode saciá-la, pelo menos não agora. Eu quero sair com você Anny, por favor, vamos.
Ela não consegue fazê-lo mudar de ideia. Ele vai até a sala e diz que está querendo levá-la ao cinema, mas ela se recusa em sair com ele.
Enquanto isso, ela em sua aflição percebe que nem mesmo a presença de Bruno a poucos metros consegue acalmá-la... Ela sabe que aquele desespero é só seu e que ninguém poderia ajudá-la... Ninguém o conhecia de fato... Mas como poderiam , se ela própria só o pode conhecer depois desses últimos anos.
Triste ela percebe que todos concordaram com ele... Mais uma vez ela perdera... Mais uma vez descobre que continua só e ninguém parece entender. De repente a Gal, uma amiga da família que estivera a poucos momentos falando em prevenção de doenças... E com aquele jeitinho tão doce que tinha com seus pacientes, se aproxima da Anny e fala:
Meu anjo, você sabe que nós podemos estar errados em tomar o partido do Adolfo, mas é porque julgamos necessário vocês saírem um pouco, sei que sou médica de corpo e não de alma, mas tenta se divertir. Muitas vezes conversar em outro ambiente faz toda a diferença. Tenha certeza Anny que tudo acabará dando certo.
- Eu tenho certeza que não ficará tudo bem, eu sempre pressinto quando o Adolfo vai me magoar.
- Então Anny, saiam, conversem e aproveite para pôr tudo pra fora... Mágoas e mal entendidos não lhe ajudará em nada. Você lembra de uma frase que você escreveu há poucos dias? Era maios ou menos assim “Eu queria gritar ao mundo que amo, mas a visa me negou até mesmo o direito de sussurrar”, eu havia ficado chocada ao ler. Você especialmente naquela tarde, estava muito triste. Pense no que você queria dizer com aquele desabafo e procure solucionar os seus problemas a partir daí. Eu tenho certeza que essa frase teve e tem um significado muito especial pra você.
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- Está bem Gal, obrigada por tentar me ajudar.
- E não esqueça Anny, se precisar de uma amiga, estarei por perto sempre.
Gal se retira e ela sem entender como se vê pensando na Ivalda e no Zé Luis, eles também estavam torcendo por ela, melhor dizendo, por eles, pois os dois tinham a plena convicção que Anny sem Adolfo e vice versa, era como um barco à deriva. Mesmo assim ela não tinha esperança de um final feliz para aquela história.
Nesse instante padre Bruno se aproxima dela e fala:
Minha filha querida, acredito não ser mais necessária a minha presença aqui, tudo está indo bem, tenha fé em Deus e tudo dará certo. E lembre-se, eu sempre estarei ao seu lado, haja o que houver.
Mas a fé da Anny com certeza foi muito pouca naquela noite, pois logo que saíram do cinema o Adolfo havia mudado completamente. Começaram a conversar e a medida que o faziam, ela pode perceber que sempre estivera certa quanto as atitudes dele.
- Anny, eu estive pensando.
- Sobre o que Adolfo?
- Eu acho melhor não casarmos, pelo menos por enquanto... Eu a levarei comigo, agora quando eu me for. Daremos um tempo, assim nos conheceremos melhor e se tudo der certo, nos casaremos.
- Adolfo, nós nos conhecemos há dez anos, e se até agora não deu pra nos conhecermos, isto é um sinal que jamais iremos nos conhecer.Não Adolfo,não aceito a sua proposta, eu estou me sentindo um objeto descartável, que se usa e depois joga fora.
- Você ao entendeu o que eu quis dizer Anny. Eu só não me sintopreparado para assumir um casamento nesse momento. Sei que já formamos uma família, sei que a amo desesperadamente como sei também que jamais amarei assim outra vez, mas eu tenho medo que um casamento entre nós dois não dê certo. Na realidade não é que eu não te conheça, eu a conheço muito bem... Mas você é um paradoxo na minha vida... Me completa como homem e me desestrutura ao mesmo tempo. Você é o fogo que me consome, mas é a água que faz tudo virar cinza... Você é na verdade o tudo que eu posso querer da vida... Mas é o tudo que me faz ter medo de fracassar, eu a quero desesperadamente, mas não sei porque você me assusta... Eu tenho medo de fracassar.
Mais uma vez ela se sente traída... Ultimamente sempre que ficavam a sós, ela pensava que tudo um dia poderia ser duradouro, mas ele era na verdade um imaturo e
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provavelmente um fraco, e mesmo assim, sabendo de tudo isso, ela ainda permitia que ele abalasse as estruturas sentimentais dela.
- Olhe Adolfo, você não me ama, você só ama a você mesmo... O que você não suporta é a ideia de que outro homem me toque, você tem medo que eu me interesse por outro, e será sempre assim... Mas nunca serás esquecido, você conseguiu fazer um estrago completo em meu íntimo. E não se iluda quanto a você próprio, pois na verdade não passa de um fraco com a couraça de homem. Os nos conhecemos quando éramos quase crianças, foram anos de amor loucura e paixão, e hoje depois que extravazasses todo esse desejo que te corroia, parece que esquecesses tudo quanto juravas sempre, sentir por mim.
É que hoje, você só lembra de mim, na solidão do seu quarto, quando me imaginas ir ao teu encontro de maneira sensual e atrevida, ou talvez quando sentes a ameaça de um possível rival, e será sempre assim, até que um dia eu encontre alguém e decida me casar, e quando a saudade te incomodar e vires ao meu encontro não me encontrarás mais disponível... E mesmo assim nunca haverás de me esquecer, pois meu gosto impregnou teus sentidos... Todo o teu corpo e a tua alma também, e amarás para sempre o meu corpo e o prazer que dele recebes ao me dares o teu. E nunca encontrarás outra que possa preencher o vazio que deixarei em tua alma, o vazio da da minha ausência em tua vida, como eu jamais esquecerei teus toques, e sempre que a brisa tocar a minha pele, sentirei inevitavelmente as tuas mãos deslizando por sobre o meu corpo, e ao sentir o calor do sol sobre mim, em meu eterno delírio chegarei a pensar que é o calor do teu corpo cobrindo o meu. Qualquer carícia que o meu corpo receber, não conseguirá se igualar as tuas carícias, pois as tuas mãos, teus lábios e tua língua já queimaram o meu corpo no fogo do teu desejo e da tua paixão, para que eu nunca mais consiga sentir algo comparável. Serei apenas um fantoche dos desejos reprimidos que em mim deixasses as marcas.
Ela se cala e sai caminhando, ele a acompanha, e permanecem calados. Eles sabem que estão muito machucados e o silencio é a melhor solução.
Ao chegarem em casa, o Adolfo conversa com todos,mas não toca no assunto, ninguém pergunta nada e ela finge que está tudo bem.
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Esta foi sem dúvida uma noite diferente, era uma noite de despedida, e na manhã seguinte ele parte, dando o último beijo na Anny, e deixando para trás um sabor amargo de desilusão.
Ela fica sozinha relembrando sua noite de amor, seus últimos momentos de arrebatamento, e neles havia com certeza, além de amor e paixão... Medo...incerteza... E sobretudo... Resignação.
O Adolfo esteve mais carinhoso, ela pode sentir todo o seu desespero em mostrar-lhe o quanto ele podia amá-la, fazê-la sentir-se amada e acima de tudo fazê-la sentir-se mulher.
Ela sentira o seu corpo sendo explorado de maneira jamais imaginável... Ela sentira toda a loucura que ela estava fazendo questão de mostrar, conseguindo assim arrebatar-lhe, prazer e paixão...Amor e loucura... Alma e coração.
Foi sem dúvida o último encontro do Adolfo e da Anny, e ele se foi, levado por uma brisa suave, que nela provocara uma tempestade, e ela sofre mais, pois sabe que nesse encontro ele levara a sua alma.
E foram inúmeras vezes que ela achou que a sua vida era irreal,pois como ela podia deixar que ele continuasse dentro dela dessa maneira...Machucando-a e fazendo-a desejar que em muitos momentos ele voltasse?
Mas um dia ela compreende que isso jamais iria acontecer... Eles eram como o sol e a lua, nuca poderiam ficar juntos, não importando quão grande fosse aquele amor. As horas se arrastam lentamente... a Anny chega para a d. Rejane e diz que não haverá casamento... Que Ra melhor assim. A mãe a olha e compreende a extensão do seu erro... Ignorando que a filha sempre estivera certa. Mas a Anny pede que esqueçam o assunto, que não há necessidade de perguntas, de esclarecimentos. Não deu... Não era pra ser.
A noite a encontrou mais triste ... Mais infeliz. Ela fecha os olhos e vê a figura do Adolfo surgindo do nada, saindo da sua imaginação. E na penumbra que invade o seu quarto , ela o vê em passos lentos, se encaminhando para ela. Sente as mãos dele acariciando seu corpo, ouve a sua voz sussurrando palavras de amor, sente seu hálito quente a roçar a sua pele... E tenta abraçá-lo. Mas descobre que tudo é irreal, ela mais uma vez estivera a sonhar acordada. Anny deita a cabeça sobre o travesseiro e
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chorando adormece por sobre as ruínas dos seus sonhos.
Dias e dias se passam. Ela uca mais viu o Adolfo,pois sempre que ele chega ela sai.
O natal chega o Adolfo traz o presente da Carla, foi a última visão real que ela teve do Adolfo. Ela o olhara angustiada, logo em seguida se retira sem que ele perceba. Adolfo a espera até tarde depois desiste e se vai.
Mais dias se passam, ela suspende a ajuda financeira do Adolfo. Nada mais ela aceita dele, pois sabe que ele nada mais tem pra lhe dar.
Amanheceu! Mais uma noite que se passou igual a tantas outras,mas o dia de hoje é diferente... a Anny lembra que o dia seguinte é o aniversário da sua filha, e ela lembra também que o Adolfo está aniversariando naquele dia. Nunca mais ela o viu,mas sabe que ele está ddoente mais uma vez, mas tem a certeza que ele se saíra bem, como sempre tem se saído em tudo que faz.
Ela não poderá visitá-lo, nada poderá fazer para que ele se lembre dela desse dia, mas de repente ela uma chance de fazê-lo lembrar-se dela. Ela mandará uma carta... Não será uma carta de amor, seria apenas uma maneira de mostrar a ele o seu verdadeiro eu e ele jamais iria perceber o quanto de amor havia em cada uma daquelas palavras duras que ali estivessem escritas. Com certeza ele iria achar que dentro dela só havia ódio e desprezo. E ela decidira que esta seria a última notícia que ele teria dela, e ela jamais deixaria transparecer que por traz de tanto desprezo, havia amor... Muito amor... Um amor profundo que ele tão bem soubera semear em um árido coração, e ela tinha a esperança de que o tempo conseguiria sepultar para sempre essa necessidade da sua presença, muito embora ela soubesse que jamais iria conseguir se libertar dos seus ensinamentos, e ela confiava em poder um dia se sentir livre por completo do Adolfo, se não na alma, mas pelo menos na mente.
Com certeza o Adolfo , se chegou a ler a carta da Anny, deve tê-la odiado mortalmente.
"Adolfo, tu só vieste ao mundo para me arruinar, pois só te aproximaste de mim, todas as vezes com o forte intuito de destruir o pouco que eu com tanto sacrifício conseguia construir.
Eu sempre achei que a tua existência fosse tão forte quanto a mais forte das rochas,
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e no entanto ela era mais frágil que a tua personalidade, pois esta eu a julgava autêntica e no entanto ela era feita do nada.
Pensei que usavas de sinceridade, entretanto eras o mais ínfimo dos hipócritas. Te julguei um ser, porém não passavas de um verme.
Acreditei em tuas promessas, e estas eram tão falsa quanto a tua própria existência... Imaginei ter diante de mim um homem, mas pobre de ti... Pobre coitado, não passavas de um covarde degenerado e sempre procuravas ocultar, quem sabe de ti mesmo, os teus gestos... Torpes...ignóbeis, e covardes.
Eu sempre esperei que tivesses conserto, mas pude crer que só existe regeneração para um ser humano, por pior que este seja, jamais porém haverá recuperação sentimental para um infeliz animal racional.
E apesar de todo o nojo que a tua nefasta lembrança nesse momento me inspira, ainda sinto piedade da tua alma."
E foi assim, ao escrever esta que a Anny tentou de todas as formas apagar o Adolfo da vida dela, e para conseguir seu intento mais rápido, ela decide mais uma vez partir, deixando o passado para traz na tentativa de refazer a sua vida.
- Anny, você não pode nos deixar outra vez, não seria justo para vocês e tão pouco para nós. Seja razoável ao menos dessa vez, tente lutar. Falo isso pro seu próprio bem. De que adianta tentar fugir de um problema, quando na realidade ele se encontra dentro de nós?
- Talvez você tenha razão Paula, quanto ao problema estar dentro de mim... Mas eu não posso, eu não devo ficar. Como poderei me olhar num espelho sem ver refletida a imagem do Adolfo? Não Paula, eu preciso ir, pelo menos longe, eu terei a certeza de nunca mais tornar a vê-lo... Já basta ter que olhar pra Carla e perceber que nunca o poderei esquecer, principalmente que ela é a cara dele. E além disso, eu aqui ficando, mais dia, menos dia ele voltará... Como sempre o fez, e cederei, como sempre tenho feito.
- Então Anny, deixe passar mais alguns dias, não muito, e eu tentarei ajudá-la, desde que você prometa não ir mais para São Paulo, nem para outro lugar tão longe, pois por
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mais distante que você consiga ir, o Adolfo sempre estará dentro de você e você verá o quanto terá sido inútil essa sucessão de fugas. Lute Anny... Lute contra o passado. Dê tempo ao tempo... Tente se libertar dessa amarra chamada Adolfo, e talvez você consiga, ser feliz ou ao menos ter um pouco de paz, e quem sabe dentro de alguns anos, se não puder sorrir dessa tua época, mas talvez consigas lembrá-la sem mágoas, sem amarguras, e da forma que és, tenho certeza de que irás se recordar de todo esse sofrimento com um certo carinho e sobretudo com saudades e resignação, pois em meio a tanta dor, também houve momentos de êxtase.
- É Paula, eu acho que você tem razão. Esperarei uma semana mais, e nesse meio tempo refletirei para que eu possa agir de maneira mais segura, mas fique certa, eu não ficarei aqui em recife, essa terra me traz muitas lembranças.
os dias vão se passando e sempre encontra a Anny envolta em profunda melancolia, seus dias eram longos e sem cor..., suas noites eram um verdadeiro martírio, mas mesmo assim consistia num alento para a sua dor.
Ela nunca mais soube nada do George, a última notícia, ainda foi de quando, um dia antes do Adolfo ter saído da sua vida. O George mandara a irmã dele até a casa da Anny, ele estava esperando-a no aeroporto, ele mandara dizer que pegasse a Carla e viesse com a George ,sua irmã, bastava trazer os documentos. Ele havia alugado um avião de pequeno porte, como última chance de levar a Anny consigo. Mas ela não teve coragem de ir. O Adolfo estava dentro de casa e ela havia sido chamada para atender uma moça que a estava procurando. Fora realmente a última vez que tivera alguma notícia do George.
Do Adolfo ela sempre procurava saber alguma coisa, mesmo que isso só aumentasse o seu sofrimento. E mais uma vez, la se pega escrevendo em seu diário.
" Ah! Adolfo... do meu corpo eu fiz um templo para as tuas orações profanas, embora a minha alma ainda conservasse vestígios de pureza, mas tu, com tua mente insana, o violasses, e com teu falso respeito e com tua ignominiosa adoração, sombreaste um olhar, não acreditando nos traços de inocência que ele retratava.
Penetraste em meu mundo de sonhos, arrebatando o que ele trazia de mais belo.
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Como pudeste Adolfo não acreditar num sorriso que tinha por pecado a maior das maravilhas humanas?
Tive manchada a mais bela oração que havia no interior do meu templo, era a ingenuidade... E você a roubou.
Ah! como eu gostaria de olhar dentro dos teus olhos e poder dizer-te tudo isso."
Mais um dia que amanhece e a encontra sem ao menos ter se deitado. Ela toma consciência de sua vã existência, ela sente que é preciso fazer algo, ou do contrário será destruída. Decidida sai e vai até a rodoviária. Compra uma passagem pra São Paulo, não adianta ficar olhando para o nada, é preciso tomar alguma iniciativa. Ao chegar em casa, diz a Paula o que fez. A sua irmã fica muito triste, ela sabe que só um milagre impedirá a Anny de ir embora. A passagem foi comprada para a terça-feira. Estão no domingo, faltam apenas dois dias. Paula sai da sala entristecida, sente que se a irmã voltar pra São Paulo ficarão muito tempo sem se ver.
A tarde a Anny está pensativa... Ela sabe que essa é a melhor solução, sente que um novo rumo será dado a sua vida. Seus pensamentos são interrompidos por uma moça que está a procura da Paula. Chama a irmã e se retira da sala, enquanto a Paula vai atender a jovem.
- Oi Marta, que surpresa!
- Oi Paula, eu soube que você está desempregada e vim lhe fazer um convite.
- De que se trata?
É que na usina São Pedro, estamos precisando com urgência de uma secretária. Então eu lembrei de você, seria ótimo se você pudesse ir. O dr. Santiago é muito bom, mas bastante exigente, e eu não posso tomar uma decisão dessas se não for com uma pessoa muito competente. Paula, eu preciso de uma resposta urgente, pois dr Santiago quer que amanhã quando eu chegar ao escritório central já tenha alguma coisa definida. Ele tem pressa. Ah! a usina fica em Alagoas.
- Logo mais a noite eu lhe darei uma resposta, está bem?
- Ótimo Paula... Vou torcer para você aceitar.
A moça se vai e a Paula procura pela Anny.
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- Anny, você está mesmo decidida a ir embora pra São Paulo?
- Sim Paula. Parto depois de amanhã à tarde. Estive pensando também, a Ivalda pediu pra ficar com a Carla, ela disse quando eu recomeçar a minha vida, ela e o Zé Luis vão até lá me visitar e deixar a Carla. Estou pensando seriamente em aceitar a proposta dela. Tenho até amanhã pra decidir sobre isso. O Adolfo jamais pensará em procurar a filha com a Ivalda. - Paula interrompe a irmã.
- Anny, o seu problema é em não ficar mais aqui em Recife?
- Sim Paula, por isso já resolvi que de qualquer maneira eu vou embora. Mesmo que sendo pra tão longe... Volto pra São Paulo, farei de lá o meu refúgio mais uma vez.
- Não Anny, depois de amanhã você vai pra Alagoas, lá tem um emprego a sua espera. Aquela moça que esteve aqui, ainda há pouco, veio me procurar para preencher uma vaga de secretária na usina São Pedro. Só que quem vai é você. darei a resposta a Marta hoje à noite. Portanto, providencie tudo, pois na terça´feira você irá pra Alagoas.
- Eu não sei Paula, e se não der certo?
- Não se preocupe, pois tudo dará certo, você só precisa de talento e inteligência e ambos você tem sobrando.
- Mas e você Paula. Você precisa trabalhar.
- Primeiro você Anny, depois eu resolvo o meu caso.
Quando a noite a Paula volta da casa da Marta, está muito feliz.
- Minha irmã, está tudo resolvido, amanhã ela irá avisar ao dr. Santiago, sobre a sua chegada. Você só tem amanhã para aprontar tudo. Na terça-feira antes de embarcar, você liga para o escritório central, para eles passarem rádio avisando a hora da sua chegada. No dia seguinte a Anny toma todas as providências. Deixa a Carla com a mãe do Adolfo. Ela estará de volta, antes que o Adolfo chegue. Na terça-feira de manhã a Anny vai pra rodoviária, já de posse da passagem, enviada pela Marta. Liga para o escritório central e pede pra falar com a Marta. Avisa que está embarcando conforme combinado.
- Anny, preste atenção nas seguintes instruções. Peça ao motorista para descer no hotel Lisboa, que lá haverá um carro a sua espera. Entendeu?
- Sim, tudo certo.
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- Anny, eu tenho uma surpresa pra Paula. Surgiu hoje uma vaga para a contabilidade no escritório daqui. E eu já dei o nome dela, não é bom?
- Isso é que é uma ótima noticia, fico muito contente.
Anny se despede e vai a procura do ônibus que deveria tomar. Está apreensiva, pois sabe que dentro de poucas horas estará se iniciando uma nova etapa da sua vida.
Durante a viagem, ela fica muito tensa, e até se assusta quando o motorista se dirige a ela.
- Moça, o hotel que a senhora vai descer é aqui.
- Obrigada. - Diz a Anny, e se prepara para enfrentar uma nova situação. Ela fica olhando em volta, quando um rapaz se aproxima e pergunta:
- A srtª é a nova secretária do dr. Santiago?
- Sim. - Responde ela.
- Acompanhe-me por favor. Fui encarregado de vir buscá-la.
Ele pega a mala da Anny e se encaminha para o carro. ela o segue e entre temerosa e confiante se entrega a mais uma iniciativa do destino.
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AGUARDEM EM BREVE O X CAPÍTULO
PS: ME PERDOEM, MAS O PRÓXIMO CAPÍTULO VAI DEMORAR UM POUCO, PRECISO ADIANTAR UM LIVRO-REPORTAGEM QUE ESTOU ESCREVENDO. TENTAREI SER RÁPIDA.
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