sábado, 18 de fevereiro de 2012

DE VOLTA AO PASSADO CAP: I




DE VOLTA AO PASSADO


"- Olhe minha pequena, você não terá uma vida calma, nem tão pouco será feliz.
Chocada com o que acabara de ouvir, ela puxa a mão rapidamente, mas ele torna a pegá-la e continua:
- Dos treze aos dezesseis anos, serás a loucura dos homens, dos dezessete aos vinte anos, serás a perdição do mundo. Aos vinte anos irás cair num abismo e dele saíras sozinha. Terás um pouco de paz e isto em meio as tormentas que irão te afligir a alma, sempre que o tempo for passando. Mas ouça minha filha, e grave bem o que lhe digo nesse momento. “ Nunca tentes, pois nunca, jamais conseguirás ser feliz”.




Categoria:Romance

Capítulo: I

Anny ainda é jovem... Bonita e bastante atraente, porém o que mais chama a atenção é o mistério que parece emanar da sua alma, parecendo envolvê-la como um manto. Por onde passa atrai olhares, e para quem tem oportunidade de conhecê-la, descobre nela uma grande mulher, uma imensa alma com uma pequenina vontade de seguir em frente, pois a mesma se conforma em viver de sonhos perdido, ela se contenta apenas com os destroços do que foi um dia planos para um mundo de amor e felicidades.
E como sempre acontece, ela olha triste para o nada, de onde inexplicavelmente consegue encontrar vida no que já está morto, no passado tão presente... E como sempre acontece, mais uma vez ela é transportada no tempo e se vê no início do ano de 1971, onde tudo começou.
Nessa época Anny era uma garota irrequieta, muito sonhadora e nada prática. Aos treze anos de idade, viu-se saindo de sua cidadezinha, no interior de Pernambuco, e indo morar em Recife. A sua mãe, uma senhora viúva, estava com dificuldades para encontrar vaga nos colégios públicos existentes, para que a sua filha pudesse cursar o ginásio( Antigo curso que hoje corresponde ao ensino fundamental) e como só havia vaga em colégios particulares, e não podendo pagar, a D. Rejane resolve escrever para o seu irmão mais velho, Nestor que tinha condições de ajudar na educação da filha dela.
E fora desse modo que Anny viu sua vida totalmente modificada, pois o seu Nestor, logo foi buscar a sobrinha para a sua casa. E assim, Caruaru, cidade onde ela vivera até então passa a ser motivo para os assuntos entre
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os primos e os novos colegas que ela foi conquistando no decorrer daquele ano.
Nessa noite Anny ficou pensando na despedida da mãe, do irmão, o Márcio, e das irmãs, a Danny, a Louise e a Paula. Era a primeira vez que uma delas se ausentava de casa... Mas logo volta seu pensamento para o momento da sua chegada e de como havia sido bem recebida, a



todos parecera que ela agradara. Apesar de cansada com a viagem e tudo o mais, nada realmente a deixava intranqüila, pois o seu espírito rebelde e aventureiro estava adorando cada minuto de expectativa incontida. Nesse momento ela tem seu pensamento interrompido pela voz autoritária do seu tio.
- E então Anny, vai mesmo estudar?
- Mas é claro titio. Eu passei muitos dias preocupada, pensando que talvez eu não fosse estudar esse ano, pois o colégio não mais queria me aceitar, já que este seria o terceiro ano consecutivo que eu repetia de ano, mesmo tendo passado com excelentes notas, mas é que eu não queria ficar em casa e sem poder pagar o colégio, só me restava ficar repetindo de ano, mas aí a diretora disse que não mais seria possível eu continuar e foi então que a mamãe resolveu lhe escrever, o resto da história o senhor já conhece.
O seu Nestor olha bem sério para a sobrinha e fala:
- Espero minha filha que você não me desaponte, pois como você está sabendo, em matéria de estudos os meus filhos só têm me dado desgostos e eu quero acreditar que você irá me compensar de toda essa frustração.
Anny compreende de imediato a responsabilidade que está tomando para si naquele momento, mas é com toda sinceridade que responde ao tio sem titubear.
- O senhor jamais irá se arrepender do seu gesto titio, disso pode ter certeza.
Seu tio acha graça daquela expressão, mas permanece sisudo e fala para ela que é isso o que espera dela e logo em seguida sai do quarto deixando-a só, entregue aos seus pensamentos.
Anny logo consegue um bom colégio, adora o clima que envolve aquele ambiente escolar, pois não era tão carregado como a casa do seu tio, já que tanto a esposa do seu tio como algumas das suas primas demonstraram uma certa rivalidade logo que chegara, apenas o Maurício, o seu primo mais velho não fingira diante da demonstração de boas vindas, e ela logo compreendera o motivo, ele precisava de alguém que ocupasse o tempo vago do seu pai, para que ele pudesse ficar mais

solto e mais irresponsável do que já era.
Ela iniciou os estudos, e até achou bastante divertida a preocupação do seu tio em não lhe deixar faltar nada do que o colégio exigira. A mesma gostou bastante do colégio, dos professores e mais ainda do diretor, um sr
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bastante sério, porém muito atencioso e cheio de compreensão, só havia um probleminha para ela; era um garoto da turma, o Osmar, pois este dizia gostar dela e não parava de aborrecê-la, um estranho modo de querer despertar a sua atenção, e com isto ela vivia se aborrecendo, muito embora ela na realidade estivesse gostando da situação.
Dois meses já se haviam passado desde que ela saíra do convívio da sua mãe e dos seus irmãos. As vezes ela encontrava dificuldades no relacionamento com os primos e as vezes até mesmo com a esposa do seu tio, pois esta achava errado o excesso de zelo e atenção do marido para com a sobrinha, pois o mesmo não cansava de elogiá-la pelo seu bom comportamento e o excelente procedimento e desempenho no colégio.
Certo dia o seu Nestor chama a sobrinha e lhe diz que acertou com um irmão, o Neto para que fosse buscá-la para ir passar o fim de semana na praia na casa da sua irmã a Rita, ela que não conhecia o mar, com certeza ia adorar o passeio. Anny fica muito feliz com a surpresa e sente que aquela semana seria bastante longa.
No dia seguinte, no colégio, durante o recreio Anny que estava conversando com uma colega de turma comentando sobre o assunto, quando é abordada pelo Osmar.
- Anny você poderia me dizer que praia é essa que você vai?
- Não, não posso, pois não lhe diz respeito.
- Pôxa, a garota tá brava!
- Não amola Osmar, ninguém te convidou para participar da conversa.
O Osmar sai encabulado e Marileide ralha com a ela.
- Anny não era necessário ser tão dura com ele.
- Não sei por qual motivo você protege tanto ele.
- Não é proteção, apenas eu tenho pena dele, pois seu único pecado é estar gostando de você.
Anny nada comenta, ela não quer falar no assunto, nada que possa aborrecê-la será do seu interesse, pois o que ela quer mesmo é que chegue o grande dia, onde finalmente irá rever a sua tia Rita, que há muito não se vêm e conhecer o mar...
Finalmente é chegado o tão esperado dia. O Neto foi buscar Anny, e esta, não parava de fazer perguntas sobre tudo o que via, estava realmente encantada, e seu tio não cansava de satisfazer-lhe a curiosidade. Eis que ela chega a casa da sua tia , e esta fica feliz ao revê-la.
- Sabe minha querida, quando o Neto falou que ia trazê-la para ficar esses dias conosco, nós ficamos muito felizes, o Diva não coube em si de contentamento, ele não sabia falar em outra coisa que não fosse a sua chegada. É que ele é louco por você minha filha, você sabe disso.
- Eu sei , desde que nos conhecemos, antes do casamento de vocês.
Anny sorri satisfeita, pois apesar do Diva não ser realmente seu tio, mas ambos se sentiam assim, tio e sobrinha, era um carinho muito bonito dos dois.
Após o jantar todos ficaram na calçada, e foi a partir desse dia que tudo começou a mudar na vida da Anny, depois deste, muitos outros finais de
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semana aconteceram. Os dias foram passando... Chegaram as férias de julho, ela foi passar uns dias em Caruaru com a mãe e os irmãos e após o seu regresso ela foi para a casa da tia Rita, passar o restante das férias.
Certo dia , Anny estava sentada em frente a casa da sua tia, ouvindo o farfalhar das palmeiras sendo acariciadas pela brisa que vinha do mar, quando é abordada por um estranho.
- Olá!
-Oi! – Responde a ela, um tanto quanto irritada e arredia ao mesmo tempo, ante aquele olhar inquisidor. Ela passa a observá-lo, fato este que ela já havia feito antes, só que no início nada acontecera que tivesse despertado o seu interesse.

- Posso sentar-me? – Pergunta-lhe o desconhecido.
- Por favor. – E indicando a calçada ao seu lado fala: - Esteja a vontade.
O desconhecido senta-se ao seu lado, passando a examiná-la como se ela fosse uma descoberta deslumbrante que requeria toda a sua atenção.
Ela sente-se constrangida diante da impertinência do mesmo e resolvida a ignorá-lo, passa a divagar sobre a sua estada ali. E absorta em seus pensamentos, não pode deixar de assustar-se, quando de repente ele indaga:
- Gosta de música?
- Sim, mas prefiro música romântica.
- É deveras perfeito, combina com esse seu jeito. Mas queira perdoar meu esquecimento, ainda não me apresentei. Eu sou Adolfo, e estou profundamente encantado em conhecê-la.
- O prazer também é meu, eu sou Anny.
Era uma tarde de verdadeiro encanto na vida dela, ali estava alguém muito interessado em sua pessoa, e o que mais lhe chamou a sua atenção, foi notar a grande diferença no modo de agir daquele rapaz, totalmente diferente dos demais que ela conhecera até então...
Ainda estava no princípio do inverno... Um barulho ao longe anuncia uma possível tempestade... Longe estava ela de imaginar que o inverno da sua vida tivera início aquela tarde, com a chegada daquele estranho.
Continuaram sentados lado a lado. Vez por outra ela se desligava do seu mundo de fantasias para relancear o olhar na figura do Adolfo, mas logo tirava a vista ao perceber que ele estava a fazer o mesmo. E então de repente como chegou ele se foi, e tão logo o rapaz sai Anny se põe a pensar: - Meu Deus, devo estar louca, ao dar atenção a este rapaz, bem sei que todos aqui o conhecem, inclusive os meus tios, mas para mim não passa de um estranho, um completo desconhecido.
Ela continua se recriminando e não repara na tarde que morre lentamente dando vida a uma noite que está repleta de estrelas e encantamento,
sem imaginar que em breve aconteceria também algo parecido em sua vida, esta iria morrer lentamente, só que não haveria um ressurgir de brilho e encantamento para ela, como aconteceria com a natureza dentro
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de instantes... Muito embora esse era um fato desconhecido para ela e para todos até então.
Após o jantar, ela retorna para o seu lugar preferido e volta a ler o romance que durante uma boa parte da tarde havia prendido a sua atenção, e tão concentrada estava na leitura que assustou-se quando ouviu uma voz a indagar:
- Atrapalho-a Anny?
- Não Adolfo, fique a vontade.
- Podemos conversar um pouco? Estou louco por isso!
- Eu não sei se devo. – Responde ela apreensiva.
- Peço então que me desculpe, pois eu não queria aborrecê-la, eu apenas desejava um pouco a sua companhia e atenção.
E logo Adolfo fez menção de ir embora, e surpresa com a própria reação, ela pede que ele fique. E desse dia em diante foram acontecendo encontros, onde com o passar do tempo, ela percebe que sempre está pronta para machucá-lo em retribuição as suas constantes e tediosas gentilezas e atenções, e passou a menosprezá-lo ao descobrir os verdadeiros sentimentos do Adolfo por ela. Apesar da singeleza dos seus modos, da ternura e do carinho, havia muito de sensualidade na maneira como ele a olhava, pois ela era na realidade a sua primeira e grandiosa paixão, seu primeiro amor... Mas Anny não estava satisfeita com o desenrolar daquela situação, muito embora no íntimo estivesse lisonjeada, porém havia algo no coração dela que não a deixava ser natural, algo que a deixava mais temerosa.
Havia um que de pureza nos sentimentos do Adolfo, e o mesmo tinha um dom de apenas demonstrar bondade e sinceridade que a deixava fascinada, mas por outro lado, ela se sentia insegura, chegando as vezes a sentir repulsa ao perceber o olhar de desejo que em vão ele tentava disfarçar. E dias depois Adolfo a procura e diz:

- Anny, eu sinto que apesar de você não demonstrar nem mesmo querer admitir, percebo que no íntimo você gosta de mim, como já pude notar também que você se retrai sempre que a olho profundamente, ou quando consigo transmitir-lhe algo... Tenho a certeza que você teme alguma coisa, pois é exatamente nesses momentos que o seu olhar vacila entre o pânico e a repulsa. Por que Anny? Que fiz, ou o que tenho dito que a faz sentir-se assim?
- Imagine Adolfo, é impressão sua, não há nada de errado com você e muito menos comigo. Não dê asas a sua imaginação, pare de pensar , imaginar coisas, por favor.
- Está bem, mas um dia eu sei que você confiará em mim e talvez então eu tenha tudo esclarecido.

Ela fica pensando no que Adolfo havia dito, Ela sabe que o mesmo está certo, mas ela não pode se abrir com ele, ainda era muito cedo, um dia talvez, quem sabe conseguiria.

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- Ei menina, acorde! Você parece que está sonhando!
- Desculpe Adolfo, acho que me distraí um pouco.
Ele logo trata de mudar de assunto, ao ver como aquele papo havia deixado-a tão abalada.
- Diga-me Anny, como estás nos estudos? Já faz algum tempo do início do segundo semestre, e eu acredito que já deu pra você avaliar o seu grau de aproveitamento até agora, e aí o que me dizes?
- Olha eu estou me saindo muito bem, pois não tenho precisado me esforçar muito para obter notas altas, estas vêm a mim quase que brincando, acho tudo muito fácil, nunca encontro dificuldades para nada.
-Menina você é um bocado convencida!
- Em absoluto, eu apenas acho o ensino um tanto quanto fácil, e segundo o diretor do colégio, irei passar em todas as matérias por média e bem antes do término do ano letivo.
- Puxa vida! É muito bom ouvir isso, mostra apenas que eu não me enganei ao julgá-la uma garota inteligente. E em matéria de comportamento, você é um primor?
- Aí você está querendo muito, pois eu só vivo entrando em situações difíceis, se bem que na realidade são apenas pequenas e inocentes aventuras, nas quais um garoto chamado Osmar é o pivô de tudo.
E a medida que ela narra suas histórias, não repara no semblante do Adolfo que a cada momento ia se tornando mais triste. Continuam a conversar, mas ele foi emudecendo, até que se desculpando, se despede, não sem antes fazer um comentário jocoso a respeito das narrativas dela.
- Você é incapaz de imaginar o que eu não daria, ou faria para estar no lugar desse fedelho.
- Sinto muito mas Osmar não é nenhum fedelho. - Responde irônica.

Calado Adolfo se afasta deixando-a entregue aos próprios pensamentos.
Com o passar dos dias, ambos passaram a freqüentar sempre os mesmos lugares e a mesma turma, sempre que ela ia passar o fim de semana com a sua tia d. Rita, o Adolfo aparecia. Ele estava habituado a ir à casa de um amigo, Alex para jogar botão, as vezes Alex e o restante da turma iam para a casa do Adolfo, mas ao que parece depois que ele conheceu Anny, era sempre ele quem ia jogar em casa do Alex, e este morava em frente à casa da tia da Anny.
O entrosamento havia acontecido de modo rápido, sendo Adolfo conhecido e benquisto por todos, e a sua adoração por ela havia sido aceita como algo natural. Rivalidade existia, mas não a ponto de exterminar a amizade que havia em torno deles.
Um dia de repente ela descobriu que quando Adolfo estava presente tudo se tornava mais perturbador e quando ele se encontrava ausente, para ela tudo se tornava bobo e sem sentido, com a presença dele tudo se transformava em um jogo de palavras e atitudes hostis, e ela tudo fazia para feri-lo, nem que fosse com o seu silêncio, muito embora que ela

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depois se arrependesse, e apesar de tudo ele aos poucos foi conseguindo ganhar um pouco da confiança dela.

- Anny, você não gostaria de se abrir comigo? Sei que há algo que a marcou de maneira profunda, sinto que posso ajudá-la. Alguma coisa me diz que apesar de todo esse mistério que se esconde por trás desse seu olhar, existe realmente alguma coisa que a faz ser tão desconfiada, sempre tentando se proteger. O que aconteceu de fato em sua
vida que a marcou tão negativamente? Creia-me, eu estou ao seu inteiro dispor, estou apenas querendo ouvi-la para poder tentar te ajudar. Ouça-me Anny por favor, eu já lhe disse e torno a repetir, existe amor dentro de você , mas também está havendo alguma coisa que consegue bloquear os seus verdadeiros sentimentos. Me ajude a ajudá-la.
- Eu sinto que posso confiar em você Adolfo mas para mim é difícil falar sobre o assunto.
- É o que eu estou pensando?
- Não sei exatamente em que você está pensando, mas tenho a certeza que seja lá o que for que você tem em mente, não deve distar muito da verdade, mas por favor, hoje não, quem sabe um outro dia.

E os dias iam se passando e ele sempre insistia com ela e esta sempre se esquivava.
Certa vez ele a encontrou mais amarga e infeliz do que ele um dia poderia ter visto.

- Anny, eu estou precisando de ajuda.
- Se eu puder fazer algo por você Adolfo, tenha a certeza que eu não hesitarei em fazê-lo. Mas do que se trata?
- É você Anny! Seu desespero está me atormentando, confie em mim, preciso saber o que há por trás desse olhar tão angustiado.
- Está bem, mas fique certo que não se trata de uma história bonita, nem tão pouco dramática, é apenas um tanto quanto chocante, principalmente pela educação que eu tive.
Ele pega na mão dela e fica cabisbaixo ouvindo o relato da história que ela tanto se negara a contar.
- Há mais ou menos um ano atrás, na época eu estava com doze anos de
idade, eu me encontrava nessa ocasião dentro de um ônibus, sentada próxima ao motorista. Estava retornando para casa e admirando a paisagem, eu havia ido à cidade, quando nesse momento um velhinho de barbas bem brancas, senta ao meu lado e puxa conversa.
-Diga-me minha menina, você já tem treze anos?
- Não senhor, estou com doze anos.
- Por favor deixe-me olhar a sua mão. – Eu um tanto desconfiada deixei. Então o velhinho olhou a minha mão, e depois falou:
- Olhe minha pequena, você não terá uma vida calma, nem tão pouco será
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feliz.
Chocada com o que eu acabara de ouvir, puxei a mão rapidamente, mas ele torna a pegá-la e continuou:
- Dos treze aos dezesseis anos, serás a loucura dos homens, dos dezessete aos vinte anos, serás a perdição do mundo. Aos vinte anos irás cair num abismo e dele saíras sozinha. Terás um pouco de paz e isto em meio as tormentas que irão te afligir a alma, sempre que o tempo for passando. Mas ouça minha filha, e grave bem o que lhe digo nesse momento. “ Nunca tentes, pois nunca, jamais conseguirás ser feliz”.

E ao levantar-se o velhinho olhou bem dentro dos meus olhos e disse: Cuidado com o asfalto, pois ele poderá ser o seu fim, e nunca olhe os homens nos olhos, nunca.

- E bruscamente, sem que eu tivesse tempo sequer de perceber o absurdo que eu acabara de ouvir, o velhinho desapareceu sem dar-me tempo sequer de fazer qualquer observação, e nem dei-me ao cuidado de olhar onde ele descia.

- O que eu acho Anny, é que você não deve viver à sombra das palavras de um louco qualquer que chega e fala as tolices que bem entende.
- Pois é Adolfo, apesar d’eu não tentar pensar no assunto, não consigo, pois tem acontecido coisas que faz vir ao meu pensamento as palavras daquele velhinho, e eu fico apavorada só de pensar que tenha sido alguma profecia.
- Mas por que você pensa assim Anny?
- Olhe Adolfo, eu estou confiando em você, portanto tudo o que eu lhe contar você precisa guardar segredo, promete?
- Não precisa pedir-me isso , quando falei pra você confiar em mim, era para que o fizesse sem medo.
- Adolfo, você conhece o meu tio, o Sandro?
- Já o vi algumas vezes, porquê?
- E que ele tem me assediado ultimamente, ou melhor dizendo, ele tem me perseguido sem trégua, e eu não sei como me defender, apenas tenho fugido dele, e vou ficando mais apavorada a cada dia que passa.
Eu tenho medo que as coisas não fiquem só nisso. É por esse motivo que quando os meninos se aproximam de mim, eu, mesmo sem querer, mostro uma imagem adversa daquela que sou na realidade, pois tem sido essa a maneira que eu tenho encontrado para me defender.
- Eu sempre senti que alguma coisa magoava você, e pode estar certa que eu tudo farei para defendê-la de tudo e de todos.

Nesse momento Anny sente as lágrimas correrem pelo seu rosto...Mas um grito de criança desperta a sua atenção trazendo-a de volta à realidade, ela vai em busca daquele choro, é uma das suas filhinhas, ela acalenta a menina e logo mergulha no passado como sempre, e desta vez com um com um único pensamento.

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- É Adolfo, você esqueceu de me defender de você mesmo...
E mais uma vez ela parece ouvir a voz dele.

- Anny, você gostaria de ir à praia, logo mais à noite? Vai a turma toda.
Ela aceitou o convite... Todos foram e se divertiram, mas para ela, faltava alguma coisa, nada conseguia ser completo ou totalmente satisfatório.
É chegado o término daquele final de semana, ela volta para a casa do seu tio Nestor, mas todos os finais de semana a garota de olhar misterioso e sorriso maroto, como a chamava o Marquinhos, voltava para a praia, e o Adolfo sempre a procurava, sempre solícito, sempre preocupado.
E num desses finais de semana, houve algo que deixou não só os tios dela, bem como ela própria chocada, e mais uma vez o terror se apossara da Anny.
Numa tarde de sábado, estavam todos sentados na calçada da d. Rita, brincando e bebendo, e nesse dia, até Anny resolveu experimentar beber um pouco e como era de se esperar, ela que nunca havia bebido álcool antes, ficou meio tonta e a tia dela resolveu levá-la para o quarto para que ela dormisse um pouco, saiu do quarto, e nesse momento o Sandro chega. O Adolfo vai embora, e assim pouco a pouco a turma foi se desfazendo. De repente d. Rita sente a falta do Sandro, seu irmão, e lembra-se que ele havia perguntado pela sobrinha. Imediatamente ela corre ao quarto, e encontra o Sandro tentando tirar a roupa da Anny.
Indignada a D. Rita quase grita com o irmão.
- O que você pensa que está fazendo Sandro?
- Nada Rita, é que o tempo está quente e eu estava querendo deixá-la mais a vontade.
- Fora daqui Sandro, Ela está muito bem, deixe-a dormir em paz. E você viu que o ventilador está ligado, não havia necessidade de fazer nada, menos ainda de abrir a janela. O que você tinha em mente Sandro?
- Nada, já falei, só estava querendo ajudar.
- Pois, pode ir embora, esta será a sua melhor ajuda.
Ao acordar a Anny estranhamente começa a sentir mais medo e repulsa pelo tio, e ao ser indagada do comportamento pela tia, não sabe explicar, não sabe o motivo, ela só queria que o tio se mantivesse distante dela, e chega a dizer ao tio que aquela casa era pequena demais para eles dois. Depois dessa atitude a d. Rita chama a sobrinha e conta pra ela o que havia acontecido.
À noite Anny conta para Adolfo, e a partir daquele momento, ele se torna um verdadeiro guarda costas, mas nem por isso o Sandro desistiu da sua infâmia perseguição, ao contrário, tornou-se mais acirrada ainda, e ela mais por vergonha procurava se defender sempre ocultando dos que nada sabiam sobre a verdadeira morbidez que havia por trás daquele amor que ele fazia questão de mostrar a todos. Um amor fraternal, mas que só ela sabia e sentia o quanto de vil havia naquele sentimento.
Certa vez, o esposo da Rita, Diva, mandou chamar Adolfo para que acompanhasse Anny até a parada de ônibus, pois Sandro havia chegado e
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era preciso afastá-la dali, muitos o temia , principalmente quando este estava embriagado e endiabrado também.
Adolfo veio, acompanhou Anny até a aparada do ônibus e insistiu com ela para levá-la até em casa, mas ela recusou dizendo não ser preciso, já que ela havia saído sem que o tio percebesse. Adolfo se despede e ela ignorando o pavor que iria sentir, sobe despreocupadamente e se senta, acena para Adolfo que a olha com
aquele olhar terno e ao mesmo tempo preocupado. O ônibus dá a partida, logo depois pára pela primeira vez, e mais um pouco, para novamente, e foi nesse momento que ela viu Sandro surgir, ele parecia ter saído das entranhas da terra. E foi nesse dia que a ela viveu um dos maiores dias de tensão de sua vida.
Sandro a perseguiu como antes nunca havia feito. Ela desceu do ônibus pela porta traseira, já que ele havia subido pela porta dianteira, e apressadamente ela caminha até a Avenida Antonio de Góes, Sandro fica no ônibus, ela toma outra condução, mas ao chegar na primeira parada o tio mais uma vez surge diante dela, como ele era motorista e muito conhecido lhe era fácil conseguir certas vantagens.
Ela desce na Cabanga e segue em direção a rua Imperial, caminhando em sentido contrarío ao subúrbio, depois de caminhar umas três paradas, ela para e se esconde à espera de uma condução que a leve para casa, não está tão receosa, pois sabe que Sandro foi em direção a cidade, portanto, jamais saberia o ônibus que ela tomaria. Os ônibus vão passando: Cavaleiro, Tejipió, Jaboatão... Anny decide pegar o que vai pro Pacheco, claro que teria que andar um pouco para chegar em casa, mas pelo menos era mais seguro, pois provavelmente ele pegara um daqueles ônibus que passara. Sentindo-se em segurança, fecha os olhos e encosta a cabeça e fica pensando em tudo o que está lhe acontecendo. Quanto tempo ficara assim, não sabe precisar, até que de repente uma voz pastosa fala bem próximo ao seu pescoço.
- Vai ficar na garagem querida?
Apavorada ela abre os olhos e dá de cara com o rosto lascivo do Sandro, a fisionomia dele revela crueldade e uma repulsiva libidinagem. Nesse momento ela percebe que o carro está sendo levado para recolher, e estranha pois não percebera a ausência de passageiros, ela notara que havia alguns, mas haviam descido e ela não prestara atenção.
Rindo, Sandro se aproxima do motorista e lhe pede que a deixe em outro ônibus,o mesmo aguarda alguns instantes e faz sinal para um outro motorista que está saindo da garagem nesse momento, ele pára e a Anny sobe, e o Sandro a olha com deboche e vai atrás dela, e logo ela lembra que aquele ônibus passará em frente ao colégio que
estuda. Ao se aproximar do local, logo que avista o colégio ela fala com o motorista que para e a deixa descer. Caminha um pouco e logo vê Sandro em seu encalço. Apavorada ela se põe a correr e logo que chega em frente a escola, pula o muro. Era um pouco alto, mais alguns galhos de árvore a ajuda na empreitada.

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Corre para a casa do diretor, que morava lá mesmo. Conta tudo... ele de imediato manda chamar o Osmar que morava próximo, para que este a acompanhasse até a casa dela. Ela fica um pouco mais calma, mas tão logo eles começam a caminhar, ela percebe estarem sendo seguidos. Ela apressa os passos e o Osmar pergunta;
- Anny, por que o seu Isac mandou me chamar para fazer-lhe companhia em pleno final de uma tarde tão maravilhosa? Confesso que não entendi.
- Sabe o que acontece, é que está ficando tarde para eu voltar sozinha para casa, além disso eu estava com um probleminha, e tem mais... Você devia estar orgulhoso de me acompanhar, ao invés de ficar fazendo perguntas, na verdade isso só prova a confiança que ele tem em você já que ele poderia ter chamado outro garoto.
- Eu duvido que você fosse aceitar
- É verdade... Obrigada por ter vindo
Apesar do Sandro continuar seguindo-os, ela não está mais com medo.
Os dias foram se passando e Anny sempre estava a se lembrar do estranho velhinho que de uma maneira ou de outra, tentou lhe mostrar mesmo que de um modo brusco, o que ele previra para a sua vida. A maioria dos fatos que ocorrem com ela sempre vinha
acompanhado de malícias, de olhares lúbricos e as vezes de gestos libidinosos, e cada vez mais ela se recolhe num profundo e impenetrável estado de quase letargia.
As semanas vão passando e chega dezembro e com ele o fim do ano letivo. A nny volta para a casa dos tios na praia, d. Rita e seu Diva ficam felizes. Certa noite estavam todos reunidos, ela pensava em como se livrar de vez do Sandro, já que este continuava em persegui-la mas de repente ela vê Adolfo chegando, ele permanece um pouco distante de onde ela está, só observando-a, pois todos estavam ocupados fazendo arranjos natalinos, inclusive Alex e Marquinhos, e ela no meio dos ,dois, a frente deles,os tios dela e ao lado os pais do Alex, seu Neco e d. Talia. Anny sempre ficava procurando Adolfo com o olhar e ele a fazer o mesmo, e ela não conseguia entender a atitude dele. Nesse momento o Adolfo se aproxima.
- Olá anny, boa noite gente!
Todos respondem,inclusive ela, só que sem entender, a voz da Anny soara grosseira nesse momento. Passados alguns instantes o Adolfo se dirige a ela de modo brusco.
- Anny, eu não acho correto você ficar sentada ai entre esses dois rapazes
- Quem você pensa que é para ir chegando e falar comigo dessa maneira? cuide da sua vida e me deixe em paz.

Adolfo se afasta e passa a observá-la mais uma vez, o que a deixava mais irritada, e assim ela pensou em se vingar dele usando um dos meninos, e tão logo Alex soube, topou na hora em expor Adolfo ao ridículo, já que o mesmo sentia uma certa inveja dele, talvez porque o Adolfo mostrava uma certa maturidade que os demais não possuíam. E tão logo ela começou a gozação, se arrependeu, pois os demais incentivados pelo Alex resolveram
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tomar parte, o que a deixou envergonhada da sua atitude. De repente ela tomou consciência da sua grande falta de tato, principalmente ao fitar o
olhar do Adolfo e ler a mensagem que ele conseguia transmitir-lhe, era uma acusação muda, sempre a dizer-lhe que ela não passava de uma tola infantil.
- Boa noite!
Em meio aquele clima de hostilidade, ouviu-se a voz do Adolfo, que mais que uma despedida, soava como um gesto de desprezo.Ele se foi e com ele toda a vontade delo de brincar
- Gostei do fora que Adolfo levou.
- Não vejo porque gostar Alex, já que você em nada é melhor que ele.
O garoto se afasta magoado, ela olha para a tia e vê no olhar da d. Rita a expressão de discórdia e era a mesma que ela havia visto momentos antes quando destratara o Adolfo.
No dia seguinte a d. Rita repreende a sobrinha pelo comportamento indesejável e ela fica calada pois sabe o quanto havia errado.

À noite Adolfo voltou e agiu com superioridade, comportou-se como se nada houvesse acontecido na noite anterior.
- Posso ficar um pouco com você Anny?
- Claro Adolfo, eu adoraria.
Anny tenta reparar o que havia feito na noite anterior.
O Adolfo se entusiasmou, mas não tentou ser mais agradável do que costumeiramente seria. Ficaram conversando até que o restante da turma começaram a chegar. E todos
pareciam ter esquecido o infeliz incidente. Alex começou a tocar violão e Diva se pôs a cantar, já que ele tinha uma bela voz. Ela olhava embevecida para o tio, até que alguém teve a ideia de irem para a praia, os aplausos mostraram que a proposta havia sido bem aceita, e assim continuaram com aqueles momentos de divertidas descontrações a beira mar. Diva continuou cantando, uns acompanhavam, outros apenas escutavam. Na roda que foi formada, ficaram os tios da Anny, a D. Rita por sinal com a barriga muito grande, ela já estava a poucos dias de ganhar bebê, o que já inspirava certos cuidados, os pais do Alex, que por sinal estavam um pouco calados, já em compensação os garotos, Alex, Marquinhos , Fernando e Hélio, todos estavam muito animados, enquanto que Anny se mantinha um pouco afastada, perdida em seus devaneios, com Adolfo a olhá-la com um olhar que mais parecia uma carícia.
- Quanto quer por seus pensamentos Anny?
- Oi! sabe que me assustou Adolfo? eu me desliguei um pouco e estava a sonhar.
- Será que a sua vida é feita apenas de sonhos? será que não há um só momento em sua vida que a faça voltar a realidade,podendo dessa maneira sentir a falta de alguém? refiro-me a alguém que lhe queira, que a ame e que a faça pensar em viver o dia a dia de uma forma mais real, esquecendo assim as suas fantasias?
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- Não sei, sinto-me bem assim, ao menos não me machuco. Você sabe que entre nossos companheiros,poucos são os que se dão ao luxo de não sofrer por amor? e veja você, eles mal começaram a viver, portanto, eu prefiro que seja assim, da forma que sou, é melhor sonhar que sofrer. E quanto a você, não és feliz como estás? pois quando se gosta, geralmente se está preocupado com a pessoa amada, e não se tendo um alguém, vive-se melhor, nos perdemos em devaneios loucos, como são os meus pensamentos, e então,não concordas comigo?
- Não posso concordar com tudo que acabo de ouvir, pois eu não creio que só se vive de ilusões. Preste bem atenção no que vou falar, quanto a mim, eu não posso dizer que sou infeliz, como também não posso afirmar que sou completamente feliz, pois falta-me alguém.Para você é fácil viver de sonhos, mas para mim é doloroso, pois muitas vezes eu sinto-me infeliz,pois eu desejo desesperadamente ver transformado em realidade meus mais ardentes desejos e meus mais obstinados sonhos. Sabe Anny, falta pouco para que eu venha a sentir-me completamente feliz, só que esse pouco que me falta, representa o tudo da minha vida, pois é tudo o que possuo no coração, e esse tudo a que me refiro, é você. Dói-me ficar imaginando que a estou tocando, que estou beijando-a, quando na verdade tudo não passa de fruto da minha imaginação alienada. Sofro cada vez mais ao tê-la tão perto e senti-la cada vez mais distante de mim.

Anny já não mais o ouvia, ela estava se sentindo infeliz. Cabisbaixa se põe a escutar o barulho das ondas ao se chocar nas pedras, Já não ouve o pessoal na farra. Levanta-se e se afasta do Adolfo, sai caminhando pela beira da praia, sentindo-se impotente ao perceber que não se sente capaz de aliviar o sofrimento do dele. Fica observando as ondas a se desmancharem em espumas e estas virem a morrer lentamente sobre a areia, e ela começa a imaginar: - Será meu Deus que eu não sou assim? como essas ondas... Sou repleta de sonhos, mas quem sabe provavelmente todos irão morrer lentamente, apesar da intensidade dos mesmos.

E hoje Anny sabe o quanto estava certa ao pensar daquela maneira, pois tantos anos se passaram, e com eles os seus sonhos também, pois estes se perderam na poeira das estradas da vida, e mesmo assim ela continua a sonhar, mesmo sabendo de antemão que seus sonhos jamais se realizarão.
Mais uma vez ela fica a observar a natureza e se transporta para uma época, não tão distante pelos sentimentos adormecidos dentro de si. Fecha os olhos e mais uma vez mergulha no seu estonteante passado.

Anny está apreensiva, pois a sua tia foi para a maternidade. Ela aguarda noticias ansiosa. E não demora muito ela fica sabendo que nasceu um lindo garoto, o primeiro filho dos seus tios. Ao retornar para casa, a felicidade é geral, e é nesse clima que os dias vão se passando. Ela estava admirando o priminho quando a tia fala:
- Anny, Adolfo está ai.
-
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Tia, por que não falou que eu não estava?
- Não minha filha, eu não podia fazer isso, acho melhor você ir até ele e perguntar o que ele quer.
- Está bem, já vou.
Embora ela estivesse intimamente satisfeita por revê-lo, não o demonstrava, e pior ainda, não admitia nem mesmo para si.

- Boa noite Adolfo!
- Oi Anny, tudo bem?
- Comigo, tudo bem, e você, como tem passado?
- Eu pra lhe falar a verdade estou um pouco cansado, mas nada sério, apenas tenho pensado muito em você, estou com muitas saudades, afinal são três dias que não a vejo.
Ela dá um sorriso e finge ignorar o assunto, ela não diz nada a respeito, tem medo de feri-lo. Ela sai caminhando para a rua e ele a segue. Permanecem conversando. Ela chateava-se profundamente com os comentários que as pessoas não perdiam a chance de fazer sobre eles, principalmente por saberem do verdadeiro sentimento que ele nutria por ela, e por ela não ligar à mínima. Talvez por isso muitas vezes ela fosse indelicada com ele, especialmente quando o via chegar, tantas vezes se humilhando por um pouco de atenção.
- Anny, já vou, eu gostaria de ficar um pouco mais de tempo,porém, já se faz tarde e é preciso que eu vá. Antes me diga, você vai viajar este final de ano,ou pretende passá-lo conosco?
- Ficarei aqui mesmo Adolfo, só viajarei duas semanas depois.
- Ótimo Anny, será a minha melhor festa, já pensou que eu finalmente terei a oportunidade de dar-lhe um beijo?

Após dizer isto o Adolfo se vai, deixando nela um misto de tristeza e alegria, que no silencio da madrugada, ao não conseguir dormir descobre que: Tristeza ela havia sentido com a partida do Adolfo, e alegria ao saber que ele no dia seguinte estaria de volta. Mas ao cair da noite do dia seguinte, a sua tia que havia reparado em seu estranho comportamento, pergunta-lhe:
- algum problema Anny?
- Não tia,por que pergunta?
- É que você passou todo o dia calada, e agora a noite parece ansiosa, por acaso espera alguém?
- Mas é claro que não... Apenas estou pensando na vida.
- Pois desde ontem que você tem pensado muito na vida Anny, por acaso não seria o Adolfo o motivo de tudo? -pergunta-lhe o tio.
- Tio, você anda lendo demais ultimamente, imagine se o Adolfo é importante a esse ponto.
Seu Diva fica rindo, e não faz mais nenhum comentário, e a sobrinha se recolhe em um mundo de indagações, pois sabe que o tio tem razão. Continua na expectativa da espera, mas as horas se passam e o Adolfo não
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vem.
- Rita, você sabe o motivo dessa carinha de sofrimento da Anny?
- Não Diva, você sabe?
- Claro, é porque o Adolfo não veio.
- Não seja absurdo tio! Imagine se eu iria me incomodar com isso. Acontece que os garotos não passam de uns tolos, e só sabem conversar bobagens, e antes que eu me aborreça mais, é melhor eu ir dormir.
Mas naquela noite, ao deitar, pela primeira vez a Anny chorou por alguém, sem saber que esta seria a primeira de uma centena que iria acontecer, pois a sua história com o Adolfo nem sequer havia começado.

Amanheceu! o dia transcorre na expectativa dolorosa, Anny estava ansiosa e não encontrava uma explicação lógica que a deixasse satisfeita diante do seu estado de espírito. Logo cedo da tarde ocorreu um fato que deixou-a deprimida, apesar de ter se divertido com a situação. Tudo começou quando o Alex veio falar namoro a
ela, e após ouvir um não, se foi chateado. Seu Diva observava calado, e logo em seguida apareceu Marquinhos, depois Hélio. O tio dela se divertiu com a situação. Ao final da tarde surge um rapaz que não fazia parte da turma, talvez por ser mais maduro, ele era conhecido como Toinho, e Anny já havia reparado nele, pela maneira como ele a olhava, muito embora nunca tivesse lhe dado atenção. Ao pedi-la em namoro e receber um não como resposta, se vendo descartado, observa que ela brinca com as unhas sem lhe dar atenção, ele inesperadamente, com ousadia, ao ver que a posição lhe favorecia, já que Anny estava sentada na calçada e ele em pé, se inclina rapidamente e dá um beijo na nuca. Ela levanta a cabeça com o rosto vermelho de indignação, pronta para colocá-lo no seu devido lugar, mas fica sem ação ao deparar com Adolfo que assistira a cena, imaginando ser realidade aquilo que ele mais queria para si e ela sempre lhe negara. Com o olhar triste, um olhar que ao mesmo tempo parecia querer rasgar o íntimo dela e desvendar-lhe todos os seus segredos, Adolfo se vai sem ao menos cumprimentá-la. Toinho ri e se afasta dizendo;
- O seu queridinho ficou magoado e imaginando mil coisas, você não vai correr atrás dele e lhe contar a verdade? Se bem que isso não fará nenhuma diferença, ele não vai acreditar em nada do que você disser, pois o que ele presenciou só acontece entre casais enamorados.
Ele se afasta rindo ela compreende que ele só agira assim por ter visto o Adolfo.
Momentos depois o Adolfo retorna. Ela fica feliz, mas ele estava muito magoado, e só retornara para magoá-la também, trata-a de maneira rude. Ela se revolta, tenta explicar o que aconteceu de fato, e ele parece prestes a acreditar, mais um pouco e tudo teria dado certo, mas nesse momento, Toinho passa por eles e fala para pra ela que logo estará de volta. Adolfo a olha de maneira ofensiva e ela termina por se irritar e manda-o embora. Ele se vai e ela fica pensando no que ele havia lhe dito, que fora até ali para
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realizar o seu maior sonho, ficar com ela, falar com os tios dela,mas ao invés disso só tivera decepções.

Após a partida do Adolfo, ela resolve se preparar para logo mais à noite, seu único
desejo era agradá-lo, só não sabia o que fazer para conseguir o seu intento.
A chegada da noite, trouxe um pouco de alento para o espírito dela, pois ela tinha certeza que o Adolfo viria, por certo ele não falharia. Mas a noite chegou, se foi e ele não apareceu. No dia seguinte ela vai até a cada dele, mas ele havia saído. Mais um dia que passa e ele não aparece. No dia seguinte a Anny passa em frente a casa dele mas não o vê. Ela está desesperada. O seu desejo é pedir-lhe desculpas e tentar esclarecer tudo, mas nada consegue.
Na tarde do terceiro dia d. Rita sente pena da sobrinha e convida-a para um passeio, ela aceita, não muito satisfeita, pois não quer se afastar de casa, com receio que o Adolfo surja e ela não esteja. Mas logo fica contente quando vê a tia se dirigir para a rua do Adolfo, D. Rita para na casa do Adolfo e conversa um pouco com a mãe dele, mas a Anny não o vê. Nesse momento, a mãe do Adolfo, que também se chama Rita, se dirige para a Anny, sorri e diz que o Adolfo saiu, ela fica um pouco envergonhada, sorri e chama a tia para voltar pra casa.
À noite o Adolfo aparece. Ela fica feliz, mas ele diz que veio porque soube que ela
havia ido a casa dele procurá-lo. Enraivecida, ela diz que não é verdade, que ela jamais se abalaria para ir a procura de alguém, menos ainda dele. O Adolfo fica chateado com o tom de desprezo usado por ela e resolve ir embora.
Ele se vai, prometendo que apesar de tudo voltaria na noite seguinte,pois ele não perderia a chance de cumprimentá-la justo naquela noite. Quando o romper do ano deixava todos eufóricos e ele iria fazer o que o deixaria realmente feliz... Realizado.

- Mas que noite linda! - Fala a Edna, uma jovem que morava perto dos tios dela.
E a mesma começou a conversar e Anny desejando que a moça fosse embora, mas tinha que ser gentil e tratou de ser o melhor possível. Mas valeu o esforço, pois a mesma lhe disse ter visto o Adolfo muito elegante e bem próximo dali. Ela fica esperançosa quanto a chegada do dele. A jovem sai e deixa Anny que de repente começa a se sentir terrivelmente sozinha. Inexplicavelmente a presença de todos que iam chegando lhe incomodava, deixando-a mais solitária. Começa a ver o quanto de futilidade havia na conversa dos meninos, e a medida que o tempo ia passando, foi ficando mais triste pois Adolfo não aparecia.
Meia noite! A euforia era geral, mais um ano que morria para dar vida a um outro que despontava. Todos se cumprimentavam com alegria, só Adolfo não chegava. Ela continua esperando mas é em vão. Desesperadamente
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tenta encontrar um jeito de vê-lo, pois sente que é necessário falar-lhe, abrir-lhe o coração, é bastante que ele lhe dê uma chance para que ela consiga fazer isso. De repente um vulto chama a sua atenção, é ele... Nova decepção, pois tratava-se do Hélio. Aos poucos todos foram chegando, menos Adolfo. - Com certeza estava na casa da namorada. -Pensa a Anny, ele a havia enganado todo esse tempo, só podia ser isso. E com os olhos cheios d'água ela volta a se lembrar da promessa que o Adolfo havia feito, ela achava que merecia o castigo que lhe impunha o mesmo. Decidida a por um fim naquela espera, dirige-se aos pais do Alex, seu Neco e d. Talia e os chama para dar uma volta, inocentemente sugere a rua do Adolfo. e os pais do Alex imediatamente atendem ao pedido dela, esta se despede dos tios e sai a passear. Passam pela casa dele, ela

olha rapidamente, mas não pára, continuam a descer a avenida, quando de repente ela o vê, e após cumprimentar rapidamente os pais do Alex, ele olha para ela e diz:
- Perdoe-me por eu não ter ido em sua busca, mas eu precisava tomar um pouco de coragem para cumprimentá-la, e quero aproveitar esse momento para fazer o que mais desejo na minha vida, abraçá-la e beijá-la.
Ato contínuo, ele a abraça e a beija, apesar de não ter sido da maneira que ela esperava, mas ela pode sentir na simplicidade do gesto, tudo o que ele gostaria de falar. então Anny olha-o bem dentro dos olhos e fala:
- Adolfo, desejo que você conquiste em 72, tudo aquilo que não conquistou em 71, inclusive eu... Quero dizer, inclusive a minha amizade, e que esta seja duradoura, repleta de lealdade e sem aborrecimentos, como tem sido até agora.
Eles se despedem e o Adolfo promete logo mais ir cumprimentar os tios dela, e conversar um pouco com ela. Após retornarem da caminhada o seu Neco comenta sobre o fato do Adolfo ter bebido um pouco.
- Sabe Talia, eu não sabia que o Adolfo bebia.
- E nunca bebeu Neco, só que você não ouviu ele dizer que precisava arrumar coragem, onde ele ia conseguir isso? na bebida, claro, o coitado está realmente apaixonado e
perdido... Completamente perdido.
E o Adolfo vai para a casa da d. Rita, cumprimenta-os e se afasta um pouco e passa toda a noite em frente a casa do seu Diva, dançando e olhando para Anny. A noite terminou e ela não ficara de todo satisfeita, pois o que ela queria mesmo é que ele tivesse ficado a noite inteira com ela. Mas nos dias que se seguiram eles se viram praticamente todas as tardes e noites,pois se aproximava o dia dela voltar pra Caruaru, e eles sabiam que iria demorar muito pra eles se verem outra vez.
- Anny, voê vai embora amanhã, não é?
- Sim Adolfo, infelizmente vou.
- Infelizmente por quê?

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- Por nada. Bobagem minha
- Posso ir visitá-la Anny?
- Não, é melhor que não.
- E o que farei quando a saudade começar a me matar lentamente? Sei que morrerei de amor.
- Imagine... Não seja tão dramático. Tão logo eu vá embora, você arrumará outra para me substituir
- Impossível Anny, amor verdadeiro só se ama uma vez, a primeira e para sempre.
- Não Adolfo, eu tenho certeza que serei esquecida, isso dói, mas é melhor que seja assim, cada um para o seu lado. Sou complicada e você sabe disso. Seremos amigos, sempre amigos, prometo que haja o que houver, nunca deixarei de confiar em você.
Se despedem e naquela noite ela chora copiosamente, ela não entende porque doeu tanto aquela despedida.
Ela não entende que o que tanto a machuca não é apenas a sua partida e sim, o fato de ter que deixar o Adolfo para trás.



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O II CAPÍTULO JÁ ESTÁ DISPONÍVEL

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