terça-feira, 4 de novembro de 2008

Fingimento


I
Não adianta querer tentar negar
Existe sim algo errado entre nós
Não te incomodas se vais me magoar
Não te preocupas em ouvir minha voz

Eu sinto bem forte dentro de mim
Que já não procuras mais esconder
Que preferirias viver mesmo assim
Sem minha presença em teu viver

E por muitas vezes eu me pergunto
O que foi feito do grande sentimento
Sentimento maior e que era tão profundo
Do qual hoje só resta para nós sofrimento

Por que será que eu sinto que apenas finges
Que entre nós tudo permanece até muito bem
Se muitas vezes até penso que és uma esfinge
Até me parece que nenhum sentimento ainda tens

E eu percebo que camuflas a tua indiferença
Pois com certeza ainda deves pensar assim
Se eu fingir que ela é agradável presença
Evitarei com certeza aborrecimentos prá mim

E aí você surge com um terno e simples gesto
Fazendo a dúvida em mim novamente ressaltar
Será o meu coração simplesmente um inquieto
Sempre pronto para de ti continuar a duvidar?

Ou quem sabe não esteja tudo realmente certo
Mesmo quando permanece assim, errado também
Se me resguardo de qualquer tipo de manifesto
Estando sempre pronta para a tudo dizer amém

Quem dera meu Deus, realmente quem dera
Que eu estivesse completamente errada
Quando a dor cruel da extinta primavera
Finalmente me conseguisse fazer acordada

Quizera que mesmo triste e oprimida
Nesse infeliz e constante vai e vem
As densas cortinas da minha vida
Em frio silêncio descerrassem também

E que a cruel e mísera punhalada
Pusesse um fim nos meus triste ais
E quem sabe assim eu seria acordada
E de ti nada mesmo eu esperasse mais...

II

Eu queria desse pesadelo despertar
E ter forças para não mais fugir
Que as dores sozinha eu pudesse levar
Sem motivos para continuar a fingir

Ah! se um dia pudesse assim revelar
Que na minha alma já não há segredos
Se eu pudesse para o mundo todo contar
Que já deixaste de ser o meu degredo

Eu queria da minha alma poder arrancar
Essa dor que só humilha e me machuca
Eu queria também me fazer acreditar
Que posso me sentir livre de toda culpa

Eu preciso à minha alma poder mostrar
Quanto mal a mim tu também já fizeste
E talvez só assim eu pudesse te olhar
E ver que na verdade nunca me quizeste

Esse fim bem sei muito doloroso seria
Mas finalmente eu conseguiria entender
Que por trás de algo chamado covardia
Por tanto tempo conseguiste te esconder

Escondido com certeza de ti próprio
Amargando tuas mágoas e teus despeitos
Tiveste para comigo gestos de opróbrio
Que deixou tantas cicatrizes em meu peito

III

Hoje percebo talvez um pouco tarde
Que para ti fui tão somente um troféu
Ainda que a vida te desse um milagre
Nem assim farias da tua vida um céu

E agindo as vezes assim, meio perdido
De uma forma cruel e um tanto desumano
Era num gesto ousado e até bem atrevido
Que escondias do mundo teu pensar profano

Se era tudo loucura de fato nunca pensei
Eu só sei é que eu muito nisso tudo perdi
Pois dessa vida por tua causa eu me cansei
Por todas as crueldades que contigo vivi

Foste e talvez nem saibas um castigo
Pois se eu sempre procurei a vida viver
Ao teu lado tive um mundo vazio, perdido
Fui obrigada da vida ter que esquecer

Hoje meus lamentos são tristes e cruéis
Eles apenas mostram que continuo perdida
Mergulhada em teus sentimentos infiéis
E de alma cada vez mais só e dolorida...

E nessa tua saga tão infeliz quanto louca
Cravas em meu peito mais uma vez teu punhal
E num diferente rito gutural a minha boca
Emudece diante desse teu estranho ritual

E eu vejo um filete de sangue que escorre
Manchando sem dó a alvura da minha alma
E é nesse mommento que a minha vida morre
Repousando triste, sem ter paz e sem calma

IV

E um dia talvez possas descobrir o grande mal
Que foi, eu em tuas mentiras sempre acreditar
E é bem possível que queiras num gesto triunfal
As tuas maldades sem nenhum receio vir a coroar

Mas quando esse momento chegar já não mais importa
Que continues nessa vida as tuas mentiras coroar
Para mim é indiferente, eu já estou mesmo morta
Não terás mesmo mais como conseguir me humilhar

Mas agora, nesse momento que ainda não fui, enfim
Hoje que o meu coração revoltado e triste agoniza
Será que apenas por um instante não tens para mim
Uma palavra qualquer que a esse sofrimento ameniza?

Pergunto se hoje, apenas hoje, finalmente não terias
Um pouco de carinho, ou mesmo num gesto sublime
Num gesto apenas onde finalmente a tua covardia
Deixasse de ser mais um terrível e miserável crime

Quem sabe bem podia ser uma palavra serena talvez
Que me iludisse como um pouco mais de alento
Que mesmo que viesse a ser tão somente insensatez
Acabasse de vez com esse grande e triste tormento...

V

E quando for numa triste ou bela tarde
Quando o sol se despedir de ti também
Nessa hora em que uma nostalgia invade
Estarei finalmente partindo para o além

Mas sempre que olhares a chuva do céu cair
Lembrarás com certeza desta que já partiu
E com certeza o teu pranto também há de vir
Por aquela que um dia tão pouco te pediu

E chorarás, será um choro de remorsos bem sei
E talvez esse teu infeliz e perdido sofrimento
Te fará ver finalmente que eu apenas pequei
Quando fechei meus olhos para o teu fingimento

Foi um fingimento tão cruel e desmesurado
Quando tão bem fingias que muito me amavas
Mas sabes que de ti eu tudo tinha negado
Pois nem mesmo sequer sonhar me deixavas

E o meu sorriso, esse meu grande sorriso
Que na minha alma tive um dia aprisionado
Já vinha me mostrando o que era preciso
Para poder conservar-te aqui ao meu lado

Hoje me pergunto para que tanto fingimento
Se quando a morte cruel e mesquinha nos chama
Tudo cai num terrível e cruel esquecimento
Já que para a posteridade nada mais inflama.

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