quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Mais Cartas
Dezembro de 1978
Oi .........
Hoje me sinto muito cansada... Sinto um peso enorme por cima
dos meus ombros, e estes me cansam bem mais que o peso que trago
dentro de mim,e que as vezes me conforta saber da sua existência.
Uma estranha sensação parece esmagar o meu peito... Fecho os olhos
e sinto algo sobre meu corpo... Uma presença imaginária parece
tomar forma diante de mim...Ouço as batidas do meu coração que
acelerado parece querer explodir dentro de mim... Uma voz querida
se fez ouvir... Passos largos e apressados tomaram conta de todo
ambiente.Sinto como se houvesse labaredas crepitando dentro do meu
peito.
De repente um silêncio frio invadiu o recinto. Meu coração não
mais se fez ouvir, este emudecera diante da cruel realidade. Já não
há passos a serem ouvidos, nem sensações a serem sentidas, tudo se
perdeu no vazio das esperanças perdidas, dos sonhos não realizados.
E mais uma vez choro diante da minha amarga e triste certeza. Nada
há que possa induzir-me a um firme propósito, a uma esperança por
mais tênue que esta seja... Tudo se esvai diante dessa implacável
sede de você.
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Fevereiro de 1979
Querido,
Este final de mês tem chovido um pouco... Fecho os olhos e parece-me
senti-lo ao meu lado, cuidando da nossa menina. Eu sei que você está
pra chegar, uma ansiedade misturada com angústia me domina.
Perto, um choro inquieto me desperta desses devaneios, as vezes sem
nenhum sentido.
Por uns instantes tomo a rotina desses meus dias lentos e quase
sempre entristecidos pela falta que você me faz. Nesse momento mais
uma vez sou tomada pelas lembranças de você, de nós dois... Tantos
momentos perdidos por causa de bobagens... Mergulho em tudo quanto
já vivemos, e sinto o acelerar do meu coração... Este parece ter se
tornado escravo das tuas frases de amor, dos teus toques flamejantes
de paixão.
Uma lágrima não convidada parece trazer-me de volta à vida... É a
saudade que insiste em fazer morada dentro de mim, ela parece não
entender que é ela na verdade o grande problema da minha vida,é ela
quem lhe traz para as minhas lembranças, sempre a espera do que está
por vir. Mas eu sei que irás chegar, carinhosamente irás cuidar de
nós duas, até que chegue o momento da sua partida, e esta chegará
como sempre... Inevitável...
Mas por enquanto, saber que ainda nos amas apesar de tantos
desencontros, basta para acalmar esse meu incompreendido coração.
Só não parta deixando sobre mim esse olhar de volúpia que parece nos
arrancar da terra, pois faz nossa imaginação enlouquecer.
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Maio de 1979
Oi.......
Outra vez mais sinto a alma dilacerada pela saudade, gritar de dor,
numa agoniante espera de um sonho que há algum tempo parece que acabou.
Ouço gritos de revolta e brados de agonia pela incomparável dor da
solidão. Quanto pranto derramado pela ausência do seu eu em minha
vida... Quantas lágrimas vertidas, diante da impotência dos meus
sentimentos diante de um sofrimento que parece não ter fim. São noites
de insônia e dias de tristes e incertezas.
Nunca imaginarás quantas lágrimas foram derramadas, quantas noites
perdidas, e quanto sofrimento causado pela sua ausência do meu leito.
Os gritos de dor se misturam as muitas lágrimas que tenho derramado
pela saudade mesquinha que vive a me torturar, e tudo poderia ser
diferente se não fosses tão inconstante... Se realmente viesses para
ficar... Se deixasses de apenas vir para incendiar de desejos o meu
coração já tão marcado pelas suas idas e vindas.
O tempo lhe tem sido fiel... A distância tem sido cruel para com o meu
amor...Mas eu sei que todo este sofrimento tem me ajudado de certa forma
a suportar as minhas noites de angústias sem fim, onde o meu travesseiro
acolhe penalizado toda a minha dor.
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