segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Fora de Área


Categoria: Contos


A noite caíra rapidamente... a tarde se arrastara modorramente mórbida, com um céu de cor plúmbeo, anunciando uma possível tempestade. Um vento ligeiramente frio completava o quadro invernoso daquele cenário.
Naquele final de tarde saí para a escola bem mais animada que o habitual, pois eu adoro dias frios e chuvosos. Mas longe estava eu de saber que aquela noite me reservava momentos dramáticos para mim, e talvez para outras pessoas não chegassem a tanto.
Ao sair da escola naquela noite, juntamente com o meu inseparável amigo, o Sérgio, liguei para a minha filha que estava saindo do trabalho e combinamos de nos encontrar, fato este difícil de acontecer, mas naquela noite eu saí cedo da escola e a minha filha, a Kellinha havia saído tarde do serviço. Caminhando tranquilamente, o Sérgio e eu conversávamos, quando repentinamente o tempo tem uma mudança brusca, é certo que era inverno, mas inverno no nordeste chega em muitas vezes a ser tedioso, salvo em alguns raros momentos de chuvas torrenciais, mas isto é algo que não ocorre com a frequência que deveria ser, pelo menos não na maioria dos invernos, exatamente como estava sendo aquele...
E num repente, sem que fosse esperado, começa a soprar um vento forte acompanhado de chuva. Eu logo me preocupei mas o Sérgio procurou me tranquilizar, pois não demoraria e a Kellinha estaria conosco antes que aquela situação se complicasse. Mas aconteceu o pior... a Kellinha não apareceu e o vento foi assumindo proporções imensas e a chuva foi ficando cada vez mais forte de forma assustadoramente violenta. Desesperando-me, observo as coisas pequenas e leves que passam voando diante dos meus olhos como se fossem simples folhas de papel. A aflição surge tão rápida quanto aquela chuva com ventos cada vez mais fortes, parecendo sibilar de forma cruel diante da incapacidade humana de controlar tal situação.
E a medida que aquele inesperado fenômeno cresce, aumenta também o meu desespero, principalmente por não conseguir entrar em contato com a minha filha, eu precisava saber onde ela havia se abrigado, mas o celular dela só dava fora de área. O Sérgio mais controlado tentava me acalmar dizendo que a Kellinha devia estar abrigada em algum lugar, ele dizia que, já que houve um rápido contato pelo celular, onde mal eu ouvi a voz dela e o que ela tentava me falar era quase inaudível mas era um sinal de que as coisas estavam ao menos razoavelmente bem com a Kellen. O desespero meu era crescente a cada minuto que o tempo passava e aquela situação só tendia a piorar. O Sérgio vendo o modo como eu me encontrava, resolveu sair para procurar a Kellinha, mas fora em vão, nada conseguiu. De repente o pior acontece... Os fios de iluminação pública começam a pegar fogo. Eu desesperada me ponho a chorar, e era visível a aflição do Sérgio diante de uma situação onde ele nada conseguia fazer, a não ser me apoiar, o que representava uma grande atitude numa situação tão delicada. A falta de energia culminou com o desespero total diante da minha impotência... e após longos e angustiosos momentos, a chuva ficou um pouco mais fraca, o vento diminuiu um pouco e saímos em busca da minha filha, e quando finalmente nos encontramos, eu fiquei como criança diante de ambos, a minha filha toda encharcada, pois não dera para ela se abrigar da chuva em tempo, mas pelo menos conseguira se abrigar dos demais acontecimentos, e nós não demoramos muito para encontrá-la porque um senhor a convidou a sair do abrigo onde se encontrava pois ela estava sendo visada para um assalto. Ela disse que havia conseguido abrigo minutos antes dos fios pegarem fogo. Mentalmente agradeci a Deus pelo grande livramento. Após nos encontrarmos com a Kellinha, o Sérgio nos acompanhou e ficou conosco até chegar a nossa condução. Nos despedimos e ele se foi completamente encharcado para o trabalho, o mesmo trabalha num canal de TV aqui da capital. Dentro do ônibus eu fiquei pensando no Sérgio e no grau de amizade que nos une, pois se o mesmo quando saísse da escola fosse embora para o trabalho, ou mesmo para casa não teria passado pelo que passou. Mas não, ele sempre está comigo todas as noites até eu pegar o ônibus que me levará para casa.E naquela noite não havia sido diferente.E quando o vento aumentou e começou a chover, ele procurou me abrigar com o seu corpo, para que eu não me molhasse, deu as costas para a chuva e para o vento, deixou-me encostada a parede, debaixo de uma marquise e com o seu corpo fizera uma espécie de escudo para me proteger. Eu nunca vou esquecer a atitude dele...Aquela noite tudo contribuíra para momentos de terríveis sensações, para momentos de puro medo e hesitações, mas foram naqueles momentos que mais uma vez eu pude comprovar a sinceridade daquela amizade que nos une de forma tão grandiosa, não há dúvidas de que o Sérgio é um homem de excepcionais e transcendentes qualidades que em muito só faz crescer o seu valor. E que valor para mim ele tem... simplesmente inestimável.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa como lembro desse episódio. Realmente algo que nunca vi antes, e nunca passei também.
Depois que tudo acabou, percebi a gravidade da situação, e achei uma aventura e tanto!!!
Muito obrigada pelo cuidado com minha mãe, Sérgio. Quando os encontrei, fiquei bastante aliviada!

Grande abraço!

Anônimo disse...

Bem, como não poderia deixar de ser... Kellinha!!!! rsrsrs...
Mas lembro-me desta história sim...
Eu também agradeço os cuidados, conhecendo minha mãe do jeito que conheço, certamente o fim desta história não teria sido o mesmo, se a calma do Sérgio não controlasse a situação (de certa forma). Acredito que mais desencontros teriam acontecido.

Ammy

Beinha disse...

Ju dix o sejo mando beju e bigada