Categoria: Crônica
Ontem, sábado, saí com o meu esposo, paramos em uma praia (ele queria pescar), nem reparei em que praia estávamos. Caminhando em direção a areia, havia um paredão, ao chegar próximo a ele descobri um buraco e nele um cachorro. Chamei a atenção do meu esposo para aquilo. Ele olhou e disse: " O cachorro não sai porque não quer". Eu respondi: "Acho que não, ele me parece sem forças." Meu esposo retrucou: "Você não está querendo que eu vá tirar o cachorro daí?" Respondi: "E por que não? tenho certeza que sozinho ele não consegue". Meu marido olhou mais uma vez e falou: Ele não sai porque não quer. Vamos embora!"
Eu olhei pro cachorro e fiquei sem saber o que fazer (eu tenho muito medo de cachorro), nisso meu esposo grita do carro. "Vem embora Gil!"
Eu olhei pro cachorro e fiquei sem saber o que fazer (eu tenho muito medo de cachorro), nisso meu esposo grita do carro. "Vem embora Gil!"
Eu sai muito triste... Senti os olhos se encherem de lágrimas, tentei segurá-las e fui embora. Ali eu não mais falei. Ele dirigiu durante algum tempo, e me disse; "Estás emburrada porque eu não tirei o cachorro do buraco, Gil aquele cachorro tem dono, ele logo vai sair dali". Olhei pra ele e falei com a voz apagada: "Não custava ter ajudado o cachorro. Eu não tentei porque tenho pavor de cachorro". Ele nada falou e continuou a dirigir, então ele me pergunta: "Pra onde vamos finalmente?" e eu respondi: "Voltar"
E foi o que ele terminou fazendo, mas disse logo: "Não pense que eu vou tirar o cachorro do buraco, pois eu não vou. Ele pode estar doente". Eu nada respondi e em silencio continuei. Ao chegarmos lá, corri até o buraco e lá estava o cachorro. Comecei a chamá-lo, ele deu uma passada e caiu, eu me desesperei e disse ao meu esposo que ele estava muito fraco, ele se aproximou e pediu pra eu não tentar chegar perto. Mas eu não o escutava, fui me aproximando do buraco (que por sinal era grande e largo) e continuei a chamá-lo e ele insistente tentava andar e caia, e nessa agonia ele chegou próximo de onde eu estava. Me agachei e continuei chamando-o ele se aproximou de mim, me abaixei o mais que pude e tentei puxá-lo. Meu esposo se aproximou e foi me ajudar. Juntos puxamos o cão pra fora. Ele se encostou na minha mão e eu senti muito medo, eu estava com o cheiro de gato (eu tenho três gatinhas) mesmo apavorada, me ajoelhei ao seu lado e comecei a alisar a sua cabeça, primeiro receosa e depois mais a vontade. Ele se ergueu, caminhou um pouco cambaleante. Voltou, se aproximou de mim, se esfregou nas minhas pernas, fez o mesmo com o meu esposo e depois saiu, no início trôpego e depois foi se aprumando. Não sei se ele não havia saído porque no buraco havia muitos ferros, (varões que se usam em construção, pois o tempo todo o guiei, pedindo que parasse, ou que voltasse, ou mesmo quando era pra continuar). Não sei exatamente o que havia acontecido, mas ele tomou a direção oposta a que nós íamos. Esse foi o meu sábado, que perdi naquele momento, imaginando quantos animais não estariam passando fome ou qualquer outro tipo de dificuldades.
Voltamos para casa, e eu não deixei de pensar no cachorro o restante do dia.
Hoje, domingo, saímos novamente pra passear, coisa que fazemos todo final de semana, haja visto que ele trabalha em outro estado e só volta pra casa na sexta feira a noite ou no sábado, e quando está de plantão, então viajo eu pra lá (Paraíba).
Hoje resolvemos ir pra escada, outra cidade aqui próxima a Recife, e quando passávamos logo após a cidade do Cabo, um pouco antes de chegar a Charneca, vi do lado esquerdo da pista um cavalo machucado, ele estava em pé, mas a pata esquerda dianteira dele, estava com sangue e ele a mantinha levantada, de longe eu percebi. Quis parar, meu esposo disse que não, pois eu não poderia ajudar e de certa forma era perigoso. Me desesperei, queria ajudar e não sabia como. Liguei pra o 190, expliquei a situação e a moça me informou que não poderia dar nenhuma referência de ajuda, já que estava fora de Recife, nisso a ligação caiu. Tentei retornar não consegui. Tentei a Polícia rodoviária também não consegui completar a a ligação. Tentei então Dr: Sérgio, veterinário das minhas gatinhas, mas foi em vão. Eu nada conseguia, só dava fora de área, e ainda dizia que só ligações de emergência, mentira, pois nem isso eu consegui. Três operadoras e em nenhuma foi feita a ligação que eu precisava. Comecei a chorar... Me senti pequenina diante daquele problema. Meu esposo se irritou eu o olhei e demonstrei todo o desprezo que ia na minha alma naquele momento, e apenas respondi que era por isso que o mundo era aquela desgraça, pois as pessoas não se compadeciam nem do seu semelhante, que dirá dos animais.
Ai lembrei a ele do caso que recentemente eu havia visto na televisão, onde uma mulher espancava um cãozinho, e eu falei pra ele:"Se eu pegasse essa mulher eu faria a mesma coisa com ela, como se eu pegasse o dono daquele cavalo, quebraria a ´perna dele pra ele saber que bicho precisa ser cuidado, ele me respondeu que eu seria presa e eu falei que no Brasil, vergonhosamente só existe justiça quando a mídia está por trás, e que eu não me importaria de entrar numa delegacia e até ser presa se fosse defendendo um animal, pois animal na verdade são essas pessoas que se acham humanas, mas que não passam de animais bestiais, pois até que é uma ofensa aos pobres animais chamar certos seres (infelizmente humanos) de animais.
Meu esposo se irritou outra vez, mas depois de poucos minutos tentou me agradar, e me disse que infelizmente essa é a nossa realidade, ele se importava com os animais sim, só que ele nada podia fazer, ao menos dessa vez. Mas o meu domingo estava perdido. Voltei pra casa chorando, mais uma vez me vi de mãos e pés atados, sem poder ajudar quem naquele momento tanto precisava. Meu esposo ainda tentou justificar a dificuldade de encontrar ajuda por ser domingo. Eu apenas fiquei sem saber o que fazer diante de mais um momento onde eu pude perceber a fragilidade de quem realmente se importava com um animal que nada faz além de ajudar o homem.
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