quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Um Novo Horizonte
Categoria: Conto
O barulho do trem parece não incomodá-la... Afinal, nada mais a incomoda... Nada mais parece fazer sentido.
Olhos fechados... Pensamento longe, perdidos... Hilda tenta refazer o último trajeto,mas sente ser incapaz. o que teria acontecido para que sua mente se apagasse, negando a ela as lembranças de dias antes? Não sabe, não consegue recordar de nada por mais que se esforce.
Tudo acontecera numa manhã de segunda-feira... Era um dia como outro qualquer. Ela acordara cedo, se arrumara e saíra para trabalhar. Ela trabalhava como secretária numa grande empresa. Mas isso era tudo o que ela conseguia lembrar. O que acontecera a partir daí, continuava sendo um mistério e ao que se percebia, estava ficando difícil de ser desvendado. Segundo alguns depoimentos, ela havia sido encontrada vagando naquele fatídico início de semana.
A Hilda lembra de tudo sobre ela, menos do fato acontecido naquela manhã após ter saído de casa. A polícia nada encontrou de errado que ajudasse numa possível explicação ou justificativa nesse estranho e súbito ataque de amnésia. Sem dúvida era algo bastante intrigante.
Ela se levanta e caminha devagar para a saída da estação. Ela tem os pensamentos em
desalinho, e se angustia diante do pesadelo que tem se tornado a sua vida desde então.
De resto tudo continua normal, como sempre. Do trabalho para casa e vice versa. Não gosta de sair para se divertir, tem poucos amigos e família, nenhuma por perto, todos moram em outras cidades, apenas ela mora ali...Essa havia sido a vida que ela escolhera para si, após o acidente que vitimou seu esposo, a um pouco mais d três anos. Sozinha, chorou a sua dor durante meses, agora vivia só, muitas vezes pensando no sonho que fora a sua curta vida de casada, mas ela tem consciência de que foram oito meses de felicidades.
De repente ela para atônita e com um débil gemido desmaia... Ela estava saindo da estação... E, socorrida por funcionários da rede ferroviária, é levada para o hospital e ao retornar, parece em pânico... Grita e soluça ao mesmo tempo. Sim... Finalmente ela lembra do que havia acontecido na manhã daquela segunda-feira. Agora ela tinha absoluta certeza do que vira. Era ele, o Rafael,o seu marido que estava naquela estação ferroviária.
Esclarecida a situação, o médico a libera.
Hilda toma um táxi e parte para a estação. Ao chegar ela observa aquele homem barbudo, maltrapilho,mas que percebia-se ser ainda jovem. Ela se aproxima emocionada.Tenta puxar conversa mas ele se esquiva. Ela insiste e logo estão conversando. Ela pergunta o que ele está fazendo ali, ele diz não saber bem o que aconteceu. Tudo o que ele se lembra é que sofrera um acidente, estava em um carro com um homem, e que no momento do acidente, havia sido atirado para fora do mesmo, e provavelmente batido com a cabeça e mais nada conseguia lembrar. Passara algum tempo no hospital e após receber alta, ficara a vagar, pegando carona de um lado pro outro, e assim chegara aquele lugar. Hilda então se lembra que logo após o funeral, ela havia se mudado para outra cidade na inútil tentativa de esquecer aquela tragédia que pôra fim a uma vida de intensa felicidade.
O homem que fora enterrado no lugar do seu marido, havia ficado completamente irreconhecível, pois o carro pegara fogo ao cair no abismo. e ela não parara por um momento sequer para questionar qualquer coisa que fosse, pois nada havia para ser questionado.
Ela olha feliz para aquele homem e o abraça carinhosamente, enquanto ele a observa meio assustado.
Ela sorri...Olha-o nos olhos e diz que ela é a sua esposa, que irá levá-lo para casa e com a ajuda da medicina e o tempo, ele irá se lembrar de tudo.
Abraça-o e procura com avidez pelos seus lábios, e sente na retribuição daquele beijo que um novo horizonte está surgindo e que brilhará forte e não demorará para acontecer
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