quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Perdidos E Achados
Categoria: Conto
De onde ela viera, ninguém sabia...Nada lhe perguntavam, muito embora todos quisessem saber algo mais sobre aquela bonita e elegante jovem, que em sua simplicidade chamava à atenção sem contudo fazer qualquer esforço para que isso acontecesse.
assim era a Ângela... Despertava a curiosidade, mas estranhamente ninguém ousava fazer-lhe qualquer tipo de pergunta, pois a mesma não encorajava nem mesmo a um simples cumprimento. Havia já dois anos que ela trabalhava naquela fábrica. Todos a chamavam de Ângela, mas ela transparecia tanto mistério que passaram a duvidar ser este o seu verdadeiro nome, pois na verdade o nome que mais combinava com aquela personalidade com certeza seria Aparecida, já que ela simplesmente havia aparecido naquela cidadezinha sem que ninguém soubesse nada a seu respeito. No departamento pessoal com certeza saberiam alguma coisa, mas ninguém falava nada, não se preocupavam na realidade com aquela mulher... a bem da verdade era apenas mais uma funcionária e ótima funcionária, por sinal. Além de tudo qualquer informação jamais seria repassada, visto que qualquer informação sobre um empregado era extremamente confidencial. porém, para os que conviviam no dia a dia, percebia-se a diferença existente entre ela e os demais... Pois esta nunca recebera uma visita, nem sequer um telefonema, e o mais estranho é que ninguém procurava dela se aproximar, havia tanta indiferença em seu olhar e tanto desdém, que ninguém se encorajava a uma aproximação.
Ela conseguia chamar à atenção também por uma estranha mania, e isso se repetia, desde o primeiro dia que ali chegara... Todas as tardes, na hora do lanche, ela corria para o escritório e pegava o jornal, e com avidez lia apenas a parte de perdidos e achados, e nunca deixara de fazer isso um dia sequer.
Quem era aquela moça na realidade, ninguém sabia. Nunca fizera amizades, e apesar de inteligente, tinha um ar muito triste, sempre se esquivando de um maior contato com as pessoas.
a fábrica apita... É hora de largada, e como todo final de expediente, ela vem rápida e só. Atravessa o portão e para diante do mesmo, sempre perscrutando os arredores, como se estivesse em busca de algo ou mesmo de alguém. porém ela pouca atenção dá. Sai em direção a parada de ônibus e toma o primeiro que passa. Nunca repara no destino dos mesmos, e com o olhar de esperanças perdidas, ela vai para só voltar no dia seguinte com a sua grande indiferença por tudo e por todos.
Certa vez tentaram seguir a mesma na esperança de descobrir algo que a tornasse mais acessível, mas foi inútil, pois logo ao descer do ônibus, se pôs a caminhar sem rumo certo, até que exausta, sentou-se à sombra de uma árvore frondosa, aproveitando os últimos raios de sol que se escondia por trás dos montes, e logo estava a chorar, ao ficar admirando aquela paisagem bucólica... E desde então ninguém mais quis invadir a privacidade daquela estranha e enigmática mulher. E o tempo foi passando e ela sempre continuando a ler a sua coluna preferida do jornal: Perdidos e achados.
E um dia acontece... A rotina é quebrada no setor onde a Ângela trabalha. É um momento que ela demonstra estar viva, demonstrando que tem sentimentos, até então encobertos. a emoção toma conta da sua fisionomia, e pode-se observar uma infinidade de sensações a desfilar em seu rosto. É uma mistura de alegria, surpresa e amor. Será que chegara o momento de finalmente se saber realmente quem era aquela estranha figura? Olhando o jornal que ela estivera a ler, havia em letras sublinhadas o seguinte recado:
"Procuro a mulher dos meus sonhos, perdida entre os escombros do meu doentio ciúme".
Imediatamente a Ângela se retira e de permissão para dar um telefonema sai em silêncio. e nesse dia ao largar ela faz algo diferente. Toma um táxi que vai passando e se perde entre as dezenas de veículos que somem apressados rumo ao desconhecido.
No dia seguinte ela retorna t todos notam que há algo diferente em seu modo de olhar e se expressar. Ela está mais linda e muito mais misteriosa. À tarde ela volta a ler os classificados e desta vez as lágrimas lhe toldam a visão ao deparar com o seguinte anúncio:
"Encontrada a mulher dos seus sonhos, brotando da compreensão e do amor sincero".
Logo abaixo vinha o endereço da fábrica e logo adiante o nome que até hoje não compreendi-lhe a razão, nem tão pouco o significado. "Aparecida"
E foi a última vez que a Ângela foi vista.
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